Cardeal Saraiva Martins responde às perguntas sobre a santidade na Igreja

«Como se faz um Santo» apresentado em Lisboa O Cardeal português D. José Saraiva Martins esteve ontem na UCP, em Lisboa, para explicar «Como se faz um Santo», título duma obra recentemente publicada em Itália, e cuja edição em português foi apresentada segunda-feira, em Lisboa. «Com se faz um Santo» é o resultado de uma entrevista do jornalista Saverio Gaeta, chefe de redacção da revista italiana Famiglia Cristiana, onde em cerca de 100 páginas, são descritos os aspectos mais secretos e desconhecidos dos processos de canonização, mostrando porque é que, nas causas, se presta sempre grande atenção aos aspectos “obscuros” dos candidatos, e porque motivo até agora poucos leigos foram feitos santos. Em declarações ao programa ECCLESIA, D. José Saraiva Martins explica que “a Igreja limita-se, unicamente, a verificar se a pessoa candidata à honra dos altares praticou ou não, sendo fiel ao Evangelho, vivendo continuamente na sua vida de cada dia a conversão”. O Cardeal português considera o seu trabalho na Cúria Romana como “uma imensa responsabilidade”, frisando que “uma canonização, por exemplo, envolve o magistério infalível do Papa: é um facto dogmático”. Por isso, alguns processos não chegam ao fim: “se se chega à conclusão que não se pode falar em santidade de uma pessoa depois do estudo aprofundado por parte dos teólogos, dos historiadores, etc., é evidente que a seriedade científica da Congregação exige que aquela causa não continue”. “O homem de hoje experimentou tudo à procura da sua felicidade e não a encontrou. Encontrou-se, ao contrário, com um grande vazio interior. Sobretudo jovens. Agora procuram a felicidade que não encontraram numa coisa superior. Saber como se faz um santo, é tocar o sobrenatural. É um modo implícito de aspirar a alguma coisa superior”, precisa. Sobre a sua obra, o Cardeal Saraiva Martins adiante que este livro “nasceu da curiosidade de muita gente, de muitos jornalistas”. Para esta curiosidade, há uma explicação simples: “o homem de hoje tem uma sede do sobrenatural”. Este responsável nega a “inflação” de santos e beatos durante o pontificado de João Paulo II. “O Papa não faz senão aplicar o pensamento do Vaticano II. Se o Concílio diz que a Vocação à santidade é universal, a Igreja tem obrigação de propor modelos de santidade ao povo de Deus, aos homens de hoje”, aponta o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Em relação ao processo de Canonização dos Pastorinhos de Fátima, beatificados por João Paulo II, D. José Saraiva Martins diz que os médicos estão a examinar a cura de uma criança atribuída aos Pastorinhos. Este processo, contudo, nada tem a ver com um eventual processo relativo à Irmã Lúcia, porque “a santidade da Lúcia não tem nada que ver com a santidade do Jacinta e Francisco e vice-versa”. Histórias e curiosidades A relação de amizade pessoal entre João Paulo II e Madre Teresa terá influenciado a decisão do, então Papa dispensar o arcebispo de Calcutá dos cinco anos de espera para o início do processo de beatificação. No entanto, há uma normativa da Congregação para as Causas dos Santos que “prevê que se facilite, na medida do possível, o estudo de causas pertencentes a dioceses que ainda não possuem um beato ou um santo”. A revelação é feita pelo próprio Prefeito da Congregação, o Cardeal José Saraiva Martins, no livro «Como se faz um Santo». Nesta obra, o Cardeal português, revela que o custo de um processo de canonização ronda os cerca de 14 mil Euros, explicando que “os emolumentos da Santa Sé não vão além dos 6000 Euros, e o total dos honorários para médicos, teólogos e bispos que estudam e julgam as causas anda à volta de 8000 Euros”. Desde há 7 anos Prefeito da Congregação as Causas dos Santos, o Cardeal Saraiva Martins manifesta nesta obra ser dono de uma personalidade muito bem disposta, e recorrendo a recordações pessoais, episódios e curiosidades, revela o como e o porquê de um cristão ser elevado aos altares. No Dicastério a que preside existem cerca de 2200 causas, e entre elas encontram-se as “silenciosas” que são “as que foram iniciadas há alguns séculos e que ao longo do tempo – por ausência de milagres, pelo arrefecimento de interesse por parte de quem dera início à causa, ou por outro motivos – não avançaram”, explica. O Cardeal refere ainda que até à Páscoa de 2005, e só no pontificado de João Paulo II, “terminaram definitivamente as respectivas etapas as causas de 483 santos e de 1345 beatos”.

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