Acompanhamento espiritual a profissionais, pacientes e familiares acontece como resposta a um tratamento integral
Porto, 22 nov 2020 (Ecclesia) – O padre Paulo Teixeira, capelão no Hospital de São João, no Porto, afirmou hoje o espírito de “família” que envolve os profissionais que trabalham naquele estabelecimento, tornando possível lidar com a pressão de internamentos e cuidados de saúde.
“ Nós não podemos dizer isto publicamente, mas o nosso hospital é o melhor do mundo. Isto provoca contentamento e alegria por sentirmos que é verdade. Desde o porteiro que acolhe, ao jardineiro que trata os jardins diariamente, ao presidente da administração, todos constroem um mundo seguro para que as pessoas se possam entregar com confiança para serem cuidados integralmente. Aos doentes que vou acompanhando digo para confiarem no hospital porque é seguro”, explica o capelão à Agência ECCLESIA.
Capelão há quatro anos no Hospital de São João, o padre Paulo Teixeira fala em “profissionais de alto calibre”, que “dão o corpo às balas” e no meio da “azáfama” não perdem o sorriso que se percebe nos olhos.
“O profissionalismo transparece sempre. No meio da azáfama da urgência vemos o profissionalismo, as pessoas nunca desarmam. As pessoas ficam de corpo inteiro, dão o corpo às balas. Quando um colega fica doente, ou precisa de dar assistência à família, vemos uma entreajuda. No meio da grande pressão vejo que as pessoas são generosas, fazem dois e três turnos seguidos, nunca dizem «não» ao chefe, mesmo que estejam para lá dos limites, e trabalham com um sorriso nos olhos”, sublinha.
A deparar-se com o aumento do número de contágios pelo novo coronavírus, o Hospital de São João acolhe mais doentes com uma “carga emocional grande”.
“As pessoas chegam assustadas mas à medida que os cuidados são prestados, percebem o ambiente familiar, as pessoas vão abrindo o entendimento e postura humana”, salienta.
Os 16 quilómetros de corredores no Hospital de São João continuam a ser percorridos pelo padre Paulo Teixeira e as restantes 12 pessoas dos serviços da capelania, que se mantém internamente dentro do estabelecimento hospitalar desde março.
A assistência espiritual e acompanhamento continua a ser feita e, conta o padre Paulo, as visitas de familiares acontecem em casos específicos.
As pessoas não morrem sozinhas, é preciso que se diga. São os próprios profissionais de saúde que chamam as famílias para que elas estejam presentes quando percebem que os sintomas se encaminham para o término da vida ou em casos de internamento de longa duração, em que a carga psicológica é muito grande e uma presença familiar vem aliviar”.
O padre Paulo continua a assistir de igual forma os doentes não-Covid ; os pacientes internados com casos positivos são “muitas vezes” a família a solicitar acompanhamento.
“Nos Cuidados Intensivos, naturalmente as pessoas não têm predisposição para diálogos. São as famílias que nos pedem que os acompanhemos ou pedem o sacramento da Santa Unção. Com reservas e cautelas, sempre com o equipamento de proteção individual, não deixamos de fazer o nosso trabalho”, conta.
O acompanhamento que o capelão hospitalar não tem horas e tantas vezes um telefonema chega durante a madrugada para acompanhar uma família ou um paciente, mesmo feito por alguém da equipa médica.
“Acompanhar as famílias era mais fácil antes da pandemia, porque as conhecíamos tantas vezes à beira da cama do seu familiar, quando eram visitados. Era aqui que tantas vezes éramos solicitados para estar com as famílias”, conta.
O padre Paulo Teixeira afirma que o cabeção é o seu cartão de visita, tantas vezes que anda no corredor e o seu tempo é solicitado: “Ando sempre fora do gabinete. O ambiente normal no hospital é podermos conversar nos corredores e eu aqui sou padre e estou em missão. O cabeção entra de manhã e sai à noite”, enfatiza.
LS