Canadá: Papa dedica dia à comunidade católica, com Missa pela reconciliação

Celebração no Santuário de Santa Ana de Beaupré tem participação especial de comunidades indígenas

 

Quebeque, Canadá, 28 jul 2022 (Ecclesia) – O Papa prossegue hoje a sua viagem ao Canadá com uma celebração pela reconciliação, no Quebeque, com participação especial de comunidades indígenas.

“Pelas populações autóctones e pela nossa nação: que as palavras e gestos de reconciliação abram caminho a um futuro cheio de esperança”, refere uma das preces da Missa, que se inicia pelas 10h00 locais (15h00 em Lisboa), no Santuário de Santa Ana de Beaupré, Quebeque.

Nesta nova etapa da “peregrinação penitencial”, Francisco passa por um dos locais de peregrinação mais antigos e populares da América do Norte, que atrai mais de um milhão de pessoas por ano.

Os organizadores estimam a presença de 10 a 15 mil pessoas, dentro e fora da basílica; 70% dos lugares estão reservados para representantes das comunidades indígenas.

Milhares de pessoas começaram a acorrer ao local, desde as primeiras horas da manhã.

A última vez que o Santuário recebeu a visita de um Papa foi em 1984, aquando da primeira viagem de São João Paulo II, que esteve três vezes no Canadá.

Desde a década de 80 do século XIX à década de 90 do século XX, o governo canadiano administrou um sistema de internatos que a Comissão Nacional de Verdade e Reconciliação considerou como uma forma de “genocídio cultural”.

A mesma comissão, em 2015, dirigiu-se ao Papa, pedindo-lhe que apresentasse “um pedido de perdão às vítimas, às suas famílias e comunidades pelo papel da Igreja Católica no abuso espiritual, cultural, emocional, físico e sexual contra menores das Primeiras Nações, dos Inuítes e dos Métis nas escolas residenciais”.

Foto: Vatican Media

Estima-se que 150 mil crianças indígenas tenham sido forçadas a frequentar escolas residenciais, um sistema de orfanato promovido pelo Governo, para a “assimilação” cultural destas populações; mais de 60% destas escolas foram administradas pela Igreja Católica.

Em 2021, os restos mortais de mais de mil crianças – algumas com apenas três anos de idade – foram encontrados enterrados em locais de antigas escolas.

Francisco tem repetido pedidos de perdão às populações indígenas pelo envolvimento de instituições católicas nestas políticas de “assimilação e desvinculação”, intervenções que foram recebidas com manifestações de satisfação e também com algumas críticas.

Para antigos alunos e responsáveis indígenas, uma das questões por abordar é a chamada “Doutrina da Descoberta”, a partir de bulas papais, utilizadas para a apropriação de territórios indígenas, por parte das potências europeias; o conceito chegou a ser aplicado nos processos entre os novos Estados da federação americana e os povos nativos.

O Papa recebeu, em março e abril deste ano, no Vaticano, delegados dos Métis, Inuítes e das Primeiras Nações, representantes das comunidades indígenas no Canadá.

Os responsáveis convidaram Francisco a visitá-los, nos seus territórios, bem como a devolver quaisquer artefactos indígenas detidos pelas coleções dos Museus do Vaticano e a abrir os arquivos do Vaticano relativamente ao sistema de escolas residenciais.

Numa Acordo sobre as escolas residenciais indígenas, de 2005, várias instituições católicas do Canadá comprometeram-se a pagar 29 milhões de dólares de indemnização; a promover iniciativas e serviços concretos de cura e reconciliação, no valor de 25 milhões de dólares; e a realizar uma campanha de angariação de fundos, para conseguir outros 25 milhões de dólares.

Em 2015, o governo canadiano reconheceu que os dois primeiros compromissos tinham sido cumpridos e que os esforços feitos para o terceiro eram adequados.

Já os bispos católicos do Canadá estabeleceram uma instituição de caridade para gerir o “Fundo de Reconciliação Indígena”, destinado a compensar as vítimas, num total de 30 milhões de dólares.

As “Primeiras Nações” são os povos presentes no território canadiano antes da chegada dos europeus; os “Métis” (mestiços) nasceram do encontro entre indígenas e europeus, tendo uma identidade específica, reconhecida oficialmente; os “Inuítes” são os povos das terras do norte, junto ao Ártico, conhecidos habitualmente como esquimós.

A viagem do Papa, entre 24 e 30 de julho, passa pelas cidades de Edmonton, Quebeque e Iqaluit – que abriga o maior número de Inuítes.

OC

Canadá: Papa reforça pedido de perdão às comunidades indígenas (c/vídeo e fotos)

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