Canadá: Papa confessa «vergonha» após encontro privado com antigos alunos de internatos para indígenas (c/fotos e vídeo)

Francisco proferiu último discurso da viagem, junto ao círculo polar ártico

Iqaluit, Canadá, 29 jul 2022 (Ecclesia) – O Papa confessou hoje sentir “vergonha” pelos abusos sofridos por milhares de famílias indígenas, no Canadá, após um encontro privado com antigos alunos das chamadas escolas residenciais em Iqaluit, junto ao círculo polar ártico.

“Também hoje e aqui quero dizer-vos o grande pesar que sinto e desejo pedir perdão pelo mal cometido por não poucos católicos naquelas escolas, que contribuíram para as políticas de assimilação cultural e de desvinculação”, declarou, no pátio da Escola Primária Nakasuk, última etapa da visita ao país, iniciada no domingo.

Estima-se que 150 mil crianças indígenas tenham sido forçadas a frequentar escolas residenciais, um sistema de orfanato promovido pelo Governo, para a “assimilação” cultural destas populações, entre finais do século XIX e o séc. XX; mais de 60% destas escolas foram administradas pela Igreja Católica.

“Há pouco, ouvi vários de vós, ex-alunos das escolas residenciais: obrigado pelo que tiveram a coragem de dizer, partilhando grandes sofrimentos, que não teria imaginado. Isso reavivou em mim a indignação e a vergonha que, há meses, me acompanham. Maamianaq (perdão)”, confessou Francisco.

O encontro prolongou-se e acabou por atrasar o programa oficial em cerca de uma hora.

O Papa falou durante um momento cultural, que contou com a apresentação de algumas danças e músicas tradicionais dos inuítes, tendo recebido como presente um tambor.

A intervenção destacou, em particular, o testemunho dum idoso que “descrevia a beleza do clima que reinava nas famílias indígenas”, antes da chegada do sistema das escolas residenciais.

“De repente – dizia ele – o canto parou: as famílias foram desagregadas, os pequeninos levados para longe do seu ambiente; caiu o inverno sobre todas as coisas”, acrescentou.

O Papa condenou as “assimilações forçadas” das culturas indígenas, pelas políticas do Governo do Canadá, sublinhando que “filhos foram separados dos pais e sentiram o seu país como um país perigoso e alheio”.

Francisco convidou todos a “percorrer, juntos, um itinerário de cura e reconciliação” que ajude a “projetar luz sobre o que aconteceu e superar aquele passado obscuro”.

Eis a felicidade de Deus: não quando lhe estamos submetidos, mas quando vivemos como filhos que escolhem amá-lo, colocando em jogo a própria liberdade. Se queres fazer Deus feliz, este é o caminho: escolher o bem! Coragem, irmão! Coragem, irmã!”.

O discurso – em espanhol, língua natal do Papa, e traduzido para inuctitute e inglês – evocou os encontros de março e abril, no Vaticano, com representantes dos povos indígenas do Canadá, destacando a presença dos inuítes, “deste tempos imemoriais”, em terras que, “para outros, seriam hostis”.

“Soubestes amá-las, respeitá-las, guardá-las e valorizá-las, transmitindo de geração em geração valores fundamentais, como o respeito pelos idosos, um sentido genuíno de fraternidade e o cuidado pelo meio ambiente”, sublinhou o pontífice.

Após a recitação do Pai Nosso e a bênção final, Francisco desloca-se de carro para o Aeroporto Internacional de Iqaluit, onde decorre a cerimónia de despedida do Canadá.

OC

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