Assistente social preside ao organismo criado em maio de 2018, que tem em curso um plano de prevenção num país onde muitas crianças são abusadas no ambiente familiar
Paulo Rocha, enviado da Agência ECCLESIA a Santiago, Cabo Verde
Praia , 13 set 2019 (Ecclesia) – A Presidente da Comissão Diocesana para a Proteção de Menores da Diocese de Santiago (CDPM-DS) disse hoje à Agência ECCLESIA que a estrutura é pioneira em África, apontou a “prevenção” como prioridade e referiu “relatos semanais” de abusos.
“Infelizmente eles existem em Cabo Verde. É notório! Há estudos que o comprovam e também o dia a dia, com os meios de comunicação social a relatar quase semanalmente casos de abuso”, afirmou Marilena Baessa que, entre 2003 e 2016, presidiu ao Instituto Cabo-verdiano da Crianças e do Adolescente
“O que ainda é mais lamentável é que esses abusos acontecem no seio da família ou pessoas muito próximas das crianças que deveriam estar a protegê-las, mas aproveitam-se da fragilidade destas crianças e abusam delas sexualmente”, acrescentou.
A presidente da CDPM-DS disse também que os casos de abuso acontecem sobretudo nas “comunidades mais carenciadas, onde as crianças estão mais vulneráveis” e ficam sozinhas e “à mercê da sua própria sorte”, porque as “as mulheres têm de sair para o trabalho, para procurar o sustento, porque são chefes de família”
Marilena Baessa disse que durante os anos em que acompanhou o setor da infância não teve conhecimento de nenhuma denúncia relacionada com membros do clero e que “não há nenhuma circulação deste facto na sociedade cabo-verdiana em relação à comunidade católica”.
Para a presidente da CDPM-DS, a proteção das crianças “é um dos grandes desafios” da Diocese de Santiago, onde a comissão deseja trabalhar na prevenção.
Marilena Baessa adiantou que o trabalho da comissão vai ser “formar formadores” preparados para “prevenir o abuso sexual de crianças e pessoas vulneráveis”.
A CDPM-DS está a elaborar um “Guia de Prevenção de Abusos”, elaborado a partir do direito civil e do direito catónico, que vai servir de manual para as formações, a iniciar no segundo semestre de 2019.
“Com esta comissão iremos também prevenir estes abusos na famílias e, junto com as políticas que o governo já tem, diminuir o número de abusos sexuais em Cabo Verde”, concluiu.
Comissão Diocesana para a Proteção de Menores da Diocese de Santiago é presidida por uma assistente social e composta por uma psicóloga, uma pedagoga, dois juristas e um padre, assistente.
Marilena Baessa valorizou a criação da comissão pelo bispo de Santiago, cardeal D. Arlindo, “extremamente comprometido com a causa da criança”, acrescentando que não têm “nenhuma informação se há já noutros países no continente africano”.
A presidente da Comissão Diocesana para a Proteção de Menores da Diocese de Santiago falou à Agência ECCLESIA sobre o trabalho da comissão durante o encontro de formação de professores de Educação Moral e Religiosa Católica que está a decorrer em Cabo Verde, onde a disciplina vai iniciar este ano nas escolas públicas.
PR