Cabo Delgado: Bispos de Moçambique alertam para «trágica situação» da população provocada por «atos de barbárie»

Conferência Episcopal alerta para recursos que estão a ser «subtraídos» e refere que o país «parece não ter rumo»

Foto CEM, Sessão Plenária da Conferência Episcopal de Moçambique

Maputo, 16 abr 2021 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) alertou hoje para a crescente “perceção” de “interesses de vária natureza” por trás dos conflitos em Cabo Delgado e lamenta a insegurança e a fome das populações provocados por “atos de barbárie”.

“Deploramos e condenamos todos os atos de barbárie cometidos”, afirmam os bispos moçambicanos numa declaração enviada à Agência ECCLESIA, aprovada na Sessão Plenária que está a decorrer em Maputo desde a última quarta-feira.

Os bispos moçambicanos lastimam a “trágica situação que vive a população de Cabo Delgado” onde as “pessoas indefesas são mortas, feridas e abusadas”, veem os “seus bens pilhados, a intimidade dos seus lares violada, suas casas destruídas e cadáveres de seus familiares profanados” e as pessoas “obrigadas a abandonarem a terra que os viu nascer e onde estão sepultados os seus antepassados”.

A CEM alerta que cresce e consolida-se a “perceção de que por de trás deste conflito há interesses de vária natureza e origem, nomeadamente de certos grupos de se apoderarem da nação e dos seus recursos”.

Os bispos moçambicanos advertem que os recursos da região estão a ser “subtraídos” com “total falta de transparência”, “alimentando a revolta e o rancor”, nomeadamente “no coração dos jovens” e tornam-se “fonte de descontentamento, de divisão e de luto”, quando deveriam ser “postos ao serviço das comunidades locais e tornarem-se fonte de sustento e de desenvolvimento”.

“Reconhecemos que um dos motivos fortes que move os nossos jovens a se deixarem aliciar e a juntarem-se às várias formas de insurgência, desde a criminalidade ao terrorismo, ou também aquela outra insurgência, não menos nociva, do extremismo político ou religioso, assenta na experiência de ausência de esperança num futuro favorável por parte dos nossos jovens”, lembra o episcopado moçambicano.

A CEP refere que, para a maioria dos jovens, “não há oportunidades de se construir uma vida digna”, a sociedade e decisores “ignoram o seu sofrimento e não escutam a sua voz”.

“Como podem ter os jovens perspetivas se o próprio país parece não ter rumo, um projeto comum, no qual são convidados a serem colaboradores ativos e que alimente a sua esperança?”, questionam.

Os bispos de Moçambique reafirmam que “nada justifica a violência”, manifestam  a “total solidariedade com os mais fracos e com os jovens que anseiam uma vida digna” e lembram que “as religiões têm uma grande contribuição a dar na  resiliência das comunidades e perseguir um ideal de sociedade unida e solidária”.

“Como missão da Igreja Católica tem sido sempre nosso compromisso colaborar para o bem da nação, apontando os perigos e esperando sempre que quem tem responsabilidades busque as devidas soluções”, afirma a CEM.

Os bispos de Moçambique pedem que “as forças políticas nacionais, as organizações presentes no país, a comunidade internacional” unam esforços e “socorram as populações deslocadas”, criem “mais oportunidades de trabalho e de desenvolvimento para todos” e apelam para que “todos contribuam para a pacificação, protegendo a população, fechando as vias de financiamento à guerra, isolando e travando indivíduos ou grupos que tiram proveito da tragédia de Cabo Delgado”.

PR

 

 

 

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