«Cabaz de Conversas»: Do madeiro da Luz à generosidade das mesas, o Advento e Natal faz-se de inclusão e partilha – (c/vídeo)

Manuel Cardoso, do Secretariado Diocesano na Pastoral da Cultura e Turismo (SDPCT) de Bragança-Miranda, fala das tradições deste tempo em Trás-os-Montes

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Bragança, 02 dez 2020 (Ecclesia) – O tempo de Advento e de Natal em terras transmontanas tem o cheiro da madeira queimada, fruto das lareiras em cada casa e dos madeiros que nas comunidades juntam a população em celebrações de luz e inclusão.

“Faz-se luz numa altura menos luminosa do ano. É a luz que nasce no contexto cristão. A fogueira é feita pela comunidade. Aqui em Latães, por exemplo, é preparada em vários dias e tem o contributo de todas as pessoas que, com tratores, juntam a lenha para acender na noite de Natal, ou se estiver a chover, fica para a noite de ano novo ou do dia dos Reis. Essa fogueira é a conhecida fogueira de Natal. As pessoas, independentemente de andarem zangadas durante o ano, juntam-se à volta da fogueira. Bebem-se uns copos e conversa-se”, explica à Agência ECCLESIA Manuel Cardoso, membro do Secretariado Diocesano na Pastoral da Cultura e Turismo (SDPCT) de Bragança-Miranda.

As festas de inverno realizam-se à volta da fogueira e assumem um “grande significado”: “As fogueiras são manifestações pagãs. Seja o que for, é um ponto de encontro entre o pagão e cristão, entre o que é sagrado e profano, precisamente a fronteira para onde veio o menino Jesus – não veio para o meio dos convertidos, mas para o meio dos que não estavam convertidos”, ilustra.

Em muitas aldeias, a fogueira é acesa depois da Missa do Galo, na noite de Natal e em algumas localidades, mesmo no adro da igreja; em Miranda, por exemplo, em frente à concatedral, “uma pirâmide de fogo avista-se a quilómetros de distância”.

Manuel Cardoso evidencia um “sentido comunitário” que congrega mesmo quem está “zangado durante o ano”.

“A fogueira é um momento congregador, de pessoas com imensos pontos de vista, atitudes diversas perante a vida, mas que nessa noite, simbolicamente, e neste período de Natal, estão todos juntos”, valoriza.

Ao olhar para um mesa de Natal, Manuel Cardoso salienta um “denominador comum” na ceia de Natal, independentemente das classes sociais.

“Parte da evolução dos tempos, em que havia uma abstinência mais rigorosa, há o hábito de a ceia de Natal não ter carne. Existe o bacalhau, o polvo, geralmente cozido, passado por ovo e frito, existem as couves pencas, muito importantes na economia doméstica, as batatas cozidas com rábanos, e existem as sobremesas, que são próprias para vencer o frio – rabanadas, as filhós, os sonhos, maçãs assadas usadas em muitas aldeias, que dão um perfume característico a quem entra em casa”, descreve.

Manuel Cardoso regista ainda “outra tradição que em algumas aldeias apelidam de mesa de Santo Estevão” que é organizada após a celebração do Natal, aqui já com “carnes, enchidos e o fumeiro, típico desta época do ano, em que são convidadas todas as pessoas em comunidade, para fazerem um almoço”.

 

Em Trás-os-Montes vive-se uma “grande inclusão” nesta altura, “grande partilha e contactos”, apesar de “momentos de dificuldade que marcam a memória coletiva”.

O membro do SDPCT fala dos transmontanos como um povo em movimento: “Os que estão nas cidades regressam à aldeia, os que estão fora regressam ao país. O mesmo se passa com a mensagem do Natal: o recenseamento das pessoas, o movimento de São José e Nossa Senhora, a Estrela, os Reis Magos… no Natal estavam todos em movimento, tal como hoje os transmontanos”.

E em festas de inverno que vão acontecendo nas aldeias e comunidades de Trás-os-Montes, ninguém fica de fora e nota-se uma “generosidade e partilha”, atitudes que Manuel Cardoso convida a cultivar singularmente.

“É muito importante estarmos atentos aos nossos vizinhos. Não podemos estar só à espera das formas organizadas, todos nós individualmente temos a obrigação de olhar para o próximo. Temos visto que as paróquias estão a fazer um grande esforço para ajudar, para perceber o que se está a passar. Aqui há uma grande articulação entre autoridades civis e paróquias, mas devemos estar atentos ao nosso vizinho, parentes e família para os valermos no que for possível”.

Manuel Cardoso sublinha que “amor e a caridade” começam em atitudes singulares e indica a “grande atenção e consideração” necessária entre todos, nesta altura, em especial.

LS

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Agência ECCLESIA

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