Bruxaria e feitiçaria matam crianças em África

Muitas crianças continuam a ser abandonadas e a morrer por nascer de um modo diferente do que é tradicional. Várias organizações trabalham para poupar as crianças a este destino e dar-lhes um futuro. A menos que um bebé nasça com a cabeça primeiro e a face virada para cima, muitas comunidades no norte do Benin acreditam que esta criança é uma bruxa ou um feiticeiro. A tradição manda que esta criança seja morta, as vezes esmagando a sua cabeça contra uma árvore. Aos olhos dos povos Baatonou, Boko e Peul, uma criança cujo nascimento ou desenvolvimento inicial se desvie das normas aceites está amaldiçoada e tem que ser destruída. Se os pais tiverem compaixão limitam-se a abandonar a criança no bosque, onde acaba por morrer ou é recolhida por uma alma caridosa. “Os agricultores que vão para os seus campos ou as mulheres a caminho do mercado recolhem bebés abandonados e trazem-nos até nós”, disse Alexis Agbo, do Centro de Recepção e Protecção da Criança (CRPC). Mas se os pais de um bebé “mal nascido” obedecem à tradição entregam-no a uma pessoa designada que vai, seguindo a tradição, matar a criança. Não é preciso muito para que um recém-nascido seja condenado à morte. Basta que não nasça de cabeça, ou que a cara esteja virada para o chão. Se a mãe morre durante o parto, não nasce o primeiro dente antes dos oito meses, ou nasce, mas no maxilar superior, é igualmente condenado. “É um acto horrível que derrama o sangue de recém-nascidos em nome da tradição”, disse Boni Goura, uma antropóloga social e membro do grupo étnico Baatonou, que juntou activistas dos direitos das crianças numa tentativa de abolir o infanticídio no norte do país. Patrick Sabi Sica, padre católico, também do grupo étnico Baatonou, está também na primeira fila da luta contra o infanticídio. Criou um grupo de apoio chamado Esperança Luta contra o Infanticídio em Benin (ELIB). Este faz campanha para abolir a prática de dar morte aos bebés que nascem de modo menos convencional, ajudando a cuidar as crianças que são abandonadas. ELIB actualmente cuida de 30 crianças abandonadas pelos pais, e já organizou a adopção de outras tantas. Patrick acredita que facilitar cuidados médicos apropriados às mulheres que dão à luz é parte da solução. Dá o exemplo da construção de uma clínica maternal na aldeia vizinha há já dois anos. Mais de 300 crianças, que nasceram num modo considerado diferente, foram poupadas. A sua integração não é fácil e a melhor solução aprece ser a adopção. Sílvio Cabecinhas

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