Brasil: Independência é um «pró-forma» num país que permanece «colonizado» por elites internas

CNBB apresentou a «Análise de Conjuntura Social» na assembleia que decorre esta semana, a poucos dias da comemoração dos 200 anos da independência e a poucas semanas das eleições presidenciais

Foto Agência ECCLESIA/PR, D. Francisco Lima

Aparecida, 31 ago 2022 (Ecclesia) – O coordenador do grupo de Análise de Conjuntura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) disse que a Igreja sonha com “um estado de bem estar social” e denunciou as desigualdades e o fascismo num país que continua “colonizado”.

“Os colonizadores moram aqui, a elite continua a colonizar, não existe independência. Houve a independência, pró-forma, no papel, mas não existe”, disse à Agência ECCLESIA D. Francisco Lima, bispo de Carolina, no Estado do Maranhão.

Após ter apresentado na assembleia da CNBB a “Análise de Conjuntura Social”, o coordenador do estudo sublinhou que a Igreja não considera o país independente, mas colonizado por forças que estão no seu interior.

O bispo de Carolina disse que “é dentro da Amazónia, é dentro do sul do país” que estão as forças colonizadoras, as “grandes empresas que estão em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e na Amazónia” e que fazem do Brasil um país colonizado não por um “país de fora, mas de dentro”.

Questionado pela Agência ECCLESIA na assembleia da CNBB sobre as expectativas de mudança com as eleições presidenciais, marcadas para dia 2 de outubro, D. Francisco Lima disse que “o ato eleitoral não vai resolver muito”, porque os programas dos dois principais candidatos só “mudam de cor” e os opressores “podem ser de direita ou de esquerda”.

“Os dois candidatos são populistas, um de extrema direita e outro de esquerda. Quem for eleito, terá dificuldade em gerir o país porque temos no Congresso um ‘centrão’, uma bancada que se posiciona no centro e faz refém o sistema presidencialista”, afirmou.

D. Francisco Lima diz que o risco da tomada de poder pelos militares “é pequeno” e alertou para a instrumentalização da religião com fins políticos, referindo que se está a utilizar “a pauta moral da religião para poder legitimar posturas conservadoras ou de extrema-direita”.

“Do ponto de vista da sociologia da religião, está a acontecer um fenómeno: está a utilizar-se a religião para legitimar posturas políticas, nomeadamente as mais medievais, que a Igreja não utilizaria. O Deus, que era sempre afável, amável, passou a ser um Deus mais cruel. Aqui está até o modelo fascista, idealizado no modelo do fascista europeu”, afirmou.

O coordenador do grupo de Análise de Conjuntura da CNBB lembra que “a hierarquia tem refutado isso” e que se quer utilizar o seu estatuto de credibilidade para “poder queimá-la”.

Foto Agência ECCLESIA/PR, cidade de São Paulo

Comentando o facto de 902 candidatos incluírem o nome religioso nas urnas (como padre ou pastor, sendo este último o que mais aparece, em 476 dos candidatos, em 2022), D. Francisco Lima lembra que a Igreja Católica não quer “de forma nenhuma” que “o poder religioso esteja andando com o poder político”.

O bispo de Carolina referiu também que “38% dos deputados federais, que aprovam leis, são evangélicos”, e constituem a “chamada ‘bancada evangélica’”.

A respeito da situação atual do Brasil, “o país mais desigual do mundo”, D. Francisco Lima disse que a situação social se agravou por causa do impacto provocado pela pandemia e pela guerra na Ucrânia e de “outros 28 conflitos que estão a eclodir no mundo”.

“É a primeira vez na história do Brasil em que 60 milhões de pessoas têm insuficiência alimentar e 26 milhões passam fome”, alertou.

No próximo dia 7 de setembro, o Brasil vai comemorar os 200 anos de independência e, no dia 2 de outubro, realizam-se eleições presidenciais no país.

PR

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