Brasil: «Igreja de Roraima ficou junto aos povos indígenas contra tudo e contra todos» – presidente do Conselho Indigenista Missionário

D. Roque Paloschi alerta para país «preconceituoso, discriminatório», onde se querem «negar os direitos originários dos primeiros habitantes»

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 25 jan 2023 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), organismo da Igreja Católica no Brasil, afirma que a Igreja em Roraima “ficou junto dos povos indígenas contra tudo e contra todos”, após imagens de fome e desnutrição no povo Yanomami.

“Nós vivemos num país preconceituoso, discriminatório, onde queremos negar os direitos originários dos primeiros habitantes dessas terras. Os povos Yanomami vivem nessa região há mais de 12 mil anos segundo os estudos, mas nós, porque armamos um arcabouço jurídico, achamos que temos o direito de tirar os únicos direitos que eles têm, os seus territórios, as suas culturas, as suas espiritualidades e o seu modo de viver”, disse D. Roque Paloschi ao portal ‘Vatican News’.

O presidente do CIMI salientou que o Povo Yanomami, segundo Davi Kopenawa (líder Yanomami), “não é contra o desenvolvimento”, mas questiona-se o desenvolvimento que quer “destruir a Criação, envenenar a terra, a água e o ar para concentrar riqueza nas mãos de poucos”.

“É mais do que urgente que o Governo Federal com seus diversos ministérios assuma essa responsabilidade pública e não dê trégua até que não se retire o último invasor de todas as terras indígenas, que está sendo uma vergonha para o Brasil, onde estamos negando o direito dos primeiros habitantes dessas terras”, acrescentou D. Roque Paloschi.

A Terra Indígena Yanomami (TIY) é a mais extensa terra indígena no Brasil com cerca de nove milhões de hectares, sendo habitada por cerca de 28 mil indígenas Yanomami, falantes de seis línguas distintas e divididos em mais de 300 comunidades, para além de grupos indígenas em isolamento, lê-se no sítio online da CNBB.

Foto: Vatican Media

A Diocese de Roraima, e várias organizações da Igreja Católica, manifestaram solidariedade ao Povo Yanomami e o “repúdio ao genocídio, envolvendo pelo menos 570 crianças, devido ao caos instalado nos últimos anos quanto à desassistência na saúde indígena, alto índice de malária, desnutrição e contaminação por mercúrio, provocados pelo garimpo ilegal na Terra Indígena no período do (des)governo anterior e sua necropolítica”, divulga o CIMI no seu sítio online.

“Estarrecidos e profundamente indignados” foi como ficaram os bispos do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com as imagens dos “corpos esqueléticos de crianças e adultos do Povo Yanomami no Estado de Roraima”.

Também a Comissão Especial de Bioética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou uma nota onde espera que as causas “desse escândalo sejam apuradas e sanadas, e assinala que “miséria, exploração, pobreza, fome e esquecimento atentam tanto a vida humana quanto os flagelos do aborto e da eutanásia”.

O presidente do Conselho Indigenista Missionário, D. Roque Paloschi, que foi bispo da Diocese de Roraima entre 2005 e 2015, recordou que o Povo Yanomami sempre teve um grande acolhimento à Igreja Católica, e afirmou que “a Igreja ficou junto aos povos indígenas contra tudo e contra todos”.

“E tem pago um preço muito caro, tem pago um preço muito caro, mas não arredou o pé da sua opção de proximidade, de diálogo com os povos indígenas, e sobretudo empenhando para que eles sejam sujeitos da sua própria história”, acrescentou D. Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, recordando campanhas e ações realizadas ao longo das décadas, divulga o portal ‘Vatican News’.

O Papa nomeou hoje D. Evaristo Pascoal Spengler como bispo da Diocese de Roraima, transferindo-o da prelazia territorial do Marajó.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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