Arcebispo de Braga quis que cerimónia do Lava-pés representasse “uma interpelação à sociedade”
Braga, 17 abr 2014 (Ecclesia) – O bispo de Braga, D. Jorge Ortiga disse, esta tarde na homilia da Missa da Ceia do Senhor, ser “imperioso e urgente dar prioridade a uma agenda social” entre todos para que se encontrem respostas para a crise em que vive Portugal.
“Hoje fala-se muito do problema da dívida externa, do resgate financeiro do país, do renegociar ou reestruturar para deixar de depender do financiamento estrangeiro (…) penso ser imperioso e urgente dar prioridade a uma agenda social que comprometa a todos, através de respostas concertadas em todos os domínios”, disse D. Jorge Ortiga esta tarde.
Por esta razão, antes da homilia, o arcebispo de Braga lavou os pés “a pessoas de situação económica estável”, “desempregados”, “sem-abrigos”, a “pessoas que ficaram dependentes do consumo de droga”, “pessoas que vivem em famílias monoparentais”, “vítimas de violência doméstica”, “portadores de doenças graves e incuráveis” e “pessoas isoladas sem suporte familiar”, uma escolha que quis que representasse “uma interpelação à sociedade”.
“Lavar os pés a estas pessoas do centro e da periferia da sociedade (e da Igreja) significa perpetuar o encontro com verdadeiros rostos de Cristo, para que os gestos duma solicitude terna e meiga entrem no nosso pensar e agir onde o compromisso acontece não só no assistencialismo mas sobretudo na promoção, talvez heroica perante o feroz egoísmo imposto pelo consumismo, duma humanidade que deveria ser fraterna e acreditar na força e valor dos gestos por mais pequenos que sejam”, explicou D. Jorge Ortiga.
Durante a homilia o arcebispo de Braga analisou depois o momento em que Jesus lava os pés aos discípulos, considerando este os cristãos devem entender através deste gesto que “ser cristão é apenas retribuir aos outros aquele mesmo gesto amoroso de Jesus, porque, embora já não vejamos o seu rosto, a mística dos seus gestos permanece”.
D. Jorge Ortiga lembrou que “ao contrário do que se pensa” a Eucaristia “não é a última mas sim a primeira ceia” porque “ainda hoje continuamos à mesa com Jesus, celebrando no altar da vida esta ceia com caráter salvífico”.
Alertando para a importância da Eucaristia, enquanto “encontro pessoal e apaixonante com Cristo”, D. Jorge Ortiga afirmou que na ausência desse encontro “a fé reduz-se a uma mera coleção de conteúdos catequéticos, a uma obediência fundamentalista da disciplina moral da Igreja e a um conjunto de práticas religiosas obrigatórias, que muitas vezes geram revolta e desilusão”.
“Peçamos ao Senhor que nos conceda a alegria da humildade para nos lançarmos na aventura dos gestos caritativos que podem salvar muitas pessoas da miséria humana, material e espiritual”, conclui o arcebispo de Braga.
MD