Bispos portugueses pedem coerência entre fé e vida

Homilias na celebração da Páscoa deixam apelos aos cristãos, em tempos difíceis, nos quais não há lugar para conformismos O apelo da coerência de vida cristã, ao testemunho e ao apoio no Cristo ressuscitado são tónicas comuns nas homilias e mensagens proferidas pelos bispos portugueses nas celebrações pascais. Nas Vígília Pascais no Sábado e nas celebrações do Domingo de Páscoa foram deixados apelos à conversão e ao testemunho de vida. D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu, questionou os diocesanos sobre o reconhecimento da Ressurreição. “Nós, que nos apresentamos como testemunhas de tanta coisa que fomos aprendendo na Catequese e na Igreja, quem de nós já entendeu a Escritura, vive segundo os valores do Ressuscitado e o torna referência obrigatória, na vida e nos critérios que a orientam?” Na celebração do Domingo de Páscoa, D. Ilídio Leandro põe em confronto o entendimento e a fé que os cristãos expressam e o assumir essas consequências na vida cristã. “Será mesmo que a nossa vida cristã é credível, séria, consciente e verdadeira, assumindo todas as suas consequências?” O bispo de Viseu afirma que celebrar a Páscoa, “aderindo «às coisas do Alto» supõe morrer para tudo o que não é Vida, Verdade, Justiça, Solidariedade, Amor, Paz, mesmo que, para isso, tenhamos que ir até ao fim e dar a vida, como Jesus”. A ressurreição, afirma o bispo de Viseu, é perante “o fracasso das ideologias que nunca respondem plenamente às grandes questões da pessoa humana e perante as expectativas numa felicidade terrena e total, vindas da ciência, da técnica e dos progressos humanos, tantas vezes causas de maior descriminação e injustiça e mesmo de destruição da própria humanidade, nunca salvando os seus autores”, o “acontecimento que garante o futuro e liberta o presente de todos os homens”. No Funchal, D. António Carrilho, bispo diocesano, frisou que a novidade da ressurreição não pode ser guardada”. Na homilia de Domingo de Páscoa, o bispo afirmou que a Eucaristia “é o admirável mistério da fé da Igreja para a salvação do mundo e a fonte da sua missão evangelizadora”. Nesse sentido “não podemos guardar só para nós a boa notícia, que nos enche o coração e a vida. Urge partilhar o alegre anúncio Pascal, luz que dissipa as trevas e preenche o vazio existencial de tantas pessoas, que a investigação científica e tecnológica e o bem-estar material não conseguem colmatar”. Afirmou o bispo que apesar da “grave crise económica mundial” e do mundo “globalizado e hedonista, que fabrica e adora os seus próprios ídolos”, os cristãos são convidados a “dar sentido e valor à existência humana e às aspirações mais fundas dos nossos corações, sendo testemunhas da Ressurreição”. Também no Porto, D. Manuel Clemente frisou, na Vigília Pascal, o dever de não guardar o que os cristãos testemunham. Dirigindo-se aos catecúmenos, o bispo do Porto afirmou ser essencial “assimilar e comunicar, pelos sentimentos e pelas vidas, a infinda actualidade pascal”. D. Manuel Clemente frisou que os cristãos têm o dever de “reconhecer e respeitar activamente a vida como dom de Deus, em cada pessoa, da concepção à morte natural; tudo fazer para que as famílias se constituam com responsabilidade e viabilidade, como células insubstituíveis duma sociedade inteiramente humana; conseguir que todos acedam ao trabalho que, além de necessário para ganhar o sustento, é condição indispensável para a realização de cada ser humano; empenhar-se em tudo o que contribua para a justiça e a paz num mundo que é de todos e para todos, como Deus o criou e agora recupera em Cristo”. Sem esquecer “a incerteza que pesa sobre tantos concidadãos nossos”, o Bispo do Porto frisou que a “esperança tem nome e lugar certo na ressurreição de Cristo e no testemunho de quantos sabem que o futuro não se garante tanto por equilíbrios frágeis, quando não dúbios e demasiadamente nossos, como pela disponibilidade de quem vive da caridade final.”. Também no Domingo de Páscoa , D. Manuel Clemente apontou a importância de “viver o tempo pascal com particular empenho nas actuais circunstâncias”. O respeito pela vida, a omissão de pessoas, o desprezo pela dignidade de cada um, “que só em condições normais de educação, saúde, trabalho, justiça e participação cultural e cívica se pode realizar, do plano local ao internacional” são factos apontados pelo Bispo do Porto como “acontecimentos e perplexidades que nos tocam de perto ou de longe e nos deixam, como pessoas deste tempo e deste mundo, entre a expectativa e o desengano, as perspectivas ou a falta delas; entre realidades de variados âmbitos que nos poderiam deixar interrogativos ou inquietos” D. Manuel Clemente afirmou ser urgente, nos “tempos que correm que o anúncio leve esperança e coragem a quantos estão tristes ou deprimidos pelas mais diversas razões, da doença ao desemprego, da solidão ao cansaço”. Em Lisboa, o Cardeal Patriarca apontou os caminhos cruzados da criação bíblica e do darwinismo. Na Vigília Pascal, D. José Policarpo referiu que “a Igreja não pode abdicar de um diálogo com a ciência e de uma possível convergência na busca da verdade”. Por outro lado, “a perspectiva científica de Darwin levantou questões cruciais, a que a Igreja não pode ser indiferente na sua compreensão da realidade”. “Na busca da compreensão desta longa caminhada da vida sempre convergiram as religiões, as filosofias e diversas sabedorias e, mais recentemente, a ciência. Todos eles, sábios, teólogos, filósofos e cientistas percorrem este longo caminho, vivem a vigília”. “Estamos em vigília com a certeza da fé: em toda a evolução do tempo e da história, é a Palavra eterna de Deus que marca o ritmo da vida. Ritmo criador, ensina-nos a fazer a unidade entre a história humana e a restante criação; ritmo redentor, leva-nos a acompanhar a aventura da Palavra, numa longa história de salvação”. Já no Domingo, o Cardeal Patriarca afirmou que “a Igreja não vive do passado, mas da actualidade surpreendente da Ressurreição, que não significa apenas a actualidade perene de Cristo ressuscitado, mas a actualidade da ressurreição vivida pelos crentes”. D. José Policarpo afirmou que as provações e os sofrimentos não são eliminados do mundo, mas “estas realidades assumem um sentido novo, sob a luz da certeza de que podem ser participação na redenção operada pelo Senhor, e meio para vir a compartilhar a sua glória” . “Toda a Igreja e cada cristão recebem o sentido da sua existência desse rosto luminoso, rosto da Palavra que nos anuncia a salvação”. D. Manuel Quintas, no Algarve pediu maior consciência aos cristãos. O Bispo do Algarve pediu aos diocesanos que sejam “sinais de esperança” nos diversos ambientes. “Neste tempo tão conturbado que estamos a viver, em que andamos sem esperança, quando isso acontecer recordemo-nos desta noite”, pediu, garantindo aos recém-baptizados e aos recém-crismados que a diocese algarvia conta com eles. Na celebração do Domingo de Páscoa, o bispo apelou à alegria e exortou os crentes algarvios à coerência entre a fé e a vida, de modo que inspirem pela primeira todas as decisões tomadas na segunda dimensão, incluindo quando forem chamados a votar. Tendo presente o apelo da mensagem pascal ao testemunho, D. Manuel Quintas evidenciou que os cristãos de hoje são as actuais “testemunhas de Cristo ressuscitado”. “Professar a nossa fé em Cristo ressuscitado é, antes de mais, viver de modo coerente as implicações que essa verdade traz à nossa vida pessoal, familiar e profissional, com todas as opções que, como cidadãos, conscientes e livres, somos chamados a fazer. Não podemos deixar que aconteça um divórcio entre a fé que professamos e a vida que vivemos. Não podemos deixar de iluminar as nossas opções, a todos os níveis, mesmo em momentos em que somos chamados a dar o nosso parecer com o nosso voto. Não podemos deixar de iluminar as nossas opções, com os valores que professamos e celebramos ao nível da fé, com a Boa Nova que Jesus nos deixou”, advertiu o Bispo diocesano, considerando que “a exigência deste testemunho de cristão encontra a sua raiz e fonte no dia de Páscoa em Cristo ressuscitado”. “A exigência do nosso testemunho de cristãos torna-se hoje urgente e imperiosa”, concluiu. O Arcebispo de Braga pediu, na Vigília Pascal, que o voluntariado cresça em quantidade e qualidade. Segundo D. Jorge Ortiga, “o número dos voluntários existentes é significativo”, mas “é possível muito mais”. Presidindo na Sé à principal celebração do calendário litúrgico, durante a qual foram baptizadas duas crianças, o Arcebispo disse ainda que “o voluntariado deve tornar-se algo evidente que sabe responder com competência profissional e uma nova adequação às realidades”.

Partilhar:
Scroll to Top
Agência ECCLESIA

GRÁTIS
BAIXAR