Bispos apelam à «recta consciência» na questão do aborto

Encerramento dos trabalhos da Assembleia Plenária da CEP, em Fátima Os Bispos portugueses reafirmaram hoje a sua determinação em “lutar pela vida e em ajudar as mulheres em dificuldade”,perante a aprovação da lei do aborto. Neste contexto, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lembrou aos católicos que a questão “mantém todo o seu peso no campo da decisão moral”. “Apelamos para a recta consciência das mulheres, dos casais, dos médicos, dos enfermeiros e de todos os intervenientes no processo que pode conduzir ao aborto”, refere o comunicado final da Assembleia Plenária da CEP, que decorreu entre 16 e 19 de Abril, em Fátima. O documento afirma, por outro lado, que “a possibilidade de objecção de consciência não deverá nunca ter incidência negativa na vida profissional de quem por ela opte”. Na conferência de imprensa conclusiva, D. Jorge Ortiga disse que um médico católico que pratique abortos “deverá repensar e rever a coerência com a sua fé”. O presidente da CEP disse que esta recomendação se estende “às mulheres que encontram perante um dramático apelo interior para efectuar o aborto, para a família e para aqueles que operam diariamente na área da saúde”. Logo no início dos trabalhos, o Arcebispo de Braga tinha apelado para um maior reconhecimento oficial das instituições da Igreja que cumprem a sua missão no espírito de subsidiariedade. Hoje, D. Jorge Ortiga voltou a sublinhar que “o Estado não pode nem deve fazer tudo, tem de permitir uma articulação de esforços”. Interpelado pela Agência ECCLESIA sobre a mobilização da Igreja em volta das questões sociais -em contraponto à recente mobilização aquando do referendo ao aborto -, o presidente da CEP diz que o facto de “um quinto dos portugueses viver na pobreza” deve responsabilizar a Igreja, o Governo e a sociedade civil, “no sentido de trabalharmos na luta contra a pobreza”. “A Igreja tem de preocupar-se pelo desenvolvimento integral de todo e qualquer ser humano”, apontou. D. Jorge Ortiga lembrou que, mesmo no contexto da questão do aborto, os Bispos sublinharam sempre que “era necessário cuidar da vida na sua globalidade”, “a vida toda e a vida de todos”. Concordata Nesta reunião magna, os Bispos analisaram alguns atrasos na aplicação da Concordata. “Verificando perplexidades e demoras na concretização da Concordata, em algumas áreas específicas, a CEP requer a activação das Comissões Paritária e Bilateral, bem como espera do Governo uma actuação efectiva dos mecanismos de aplicação previstos nesse documento, de modo a evitar uma fase de aparente vácuo legal”, assinala o comunicado final. Dois anos depois da assinatura do tratado, alguns aspectos nele referidos continuam à espera de regulamentação, com destaque para questões do património, do ensino, da assistência religiosa e da situação laboral dos padres (descontos para o fisco e a Segurança Social). O presidente da CEP admitiu um “certo mal-estar” nestas matérias, afirmando que a CEP está à espera de uma “actuação efectiva”. “Gostaríamos de ver tudo claro”, confessou, lamentando o “atraso” que se regista, inclusivamente na “contribuição” do Estado para a construção de novas igrejas, como disse D. Carlos Azevedo. Outra questão liga-se à “nulidade” dos matrimónios católicos. O Tribunal da Relação de Guimarães está mesmo a devolver os processos dos tribunais eclesiásticos. Teologia A Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios apresentou nesta Assembleia “o problema do ensino da Teologia em Portugal”, decorrente da aplicação das orientações do processo de Bolonha. D. Jorge Ortiga lembrou aos jornalistas que o ensino da Teologia é feito, neste momento, “num número um pouco exagerado de centros e de lugares”, com 3 pólos ligados à UCP e Institutos em Coimbra, Évora e Viseu. A supressão de qualquer centro, contudo, “depende muito dos Bispos locais”. “Para apostarmos na qualidade, é necessária uma redifinição do ensino da Teologia em Portugal”, indicou. O presidente da CEP disse que não é intenção dos Bispos retirar dos centros do interior “capacidade de formação para sacerdotes e para leigos”, dado que os mesmos são “absolutamente necessários para a promoção da cultura religiosa”. No final dos trabalhos, D. Carlos Azevedo voltou a assinalar a necessidade de formar os leigos para os diversos serviços e ministérios, alertando que se corre o risco de “esquecer-se a formação básica e formar apenas técnicos”. A CEP defende que “o equilíbrio entre as dimensões doutrinária, espiritual, celebrativa, comunitária e social foi valorizado”. “A presença laical no meio da cultura exige redobrada preparação teológica”, apontam. Notícias relacionadas • Comunicado final

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