Bispo português de Madagáscar teme instabilidade

D. Alfredo Caires lamenta opulência dos políticos e pobreza da população Madagáscar vive numa instabilidade política e encontra-se “num reboliço constante”, disse à Agência ECCLESIA D. Alfredo Caíres, missionário português que é hoje Bispo de Mananjary, uma das 21 dioceses deste país do Índico. Natural da Madeira, este prelado Dehoniano está em Portugal desde meados de Fevereiro e relata que na altura da sua saída o “país já estava muito agitado”. A “apreensão” dos Bispos é natural porque “tentou juntar os dois intervenientes: Ravalomanana, ex-presidente, e Rajoelina”. O directório militar, criado Segunda-feira em Madagáscar depois da demissão do presidente Marc Ravalomanana, aprovou uma directiva que confere “plenos poderes” ao chefe da oposição Andry Rajoelina, anunciou à imprensa aquele directório a partir de um campo militar. “Recusámos categoricamente o directório (militar) que o presidente Ravalomanana nos pediu para criar desde a sua demissão. Sempre o recusámos. Entregámos totalmente o poder a Andry Rajoelina para presidir à transição”, declarou à imprensa o vice-almirante Hippolyte Rarison Ramaroson, designado chefe do “directório”. Um missionário português no terreno refere que “as coisas agravam-se e poderão avançar para a guerra civil”. “Cada vez a adesão popular é maior. O perigo estará do lado dos militares que estão divididos temendo-se ainda que haja confrontações”, explica. O Bispo de Mananjary voltará ao país no próximo dia 27, mas afirma que “não tenho receio nenhum”. Em contacto permanente com Madagáscar, D. Alfredo Caires tem explicações para a instabilidade política. O ex-presidente Ravalomanana fez “muita coisa pelo país – refez as estradas principais, criou uma rede de comércio tipo americana e ajudou bastante as escolas” -, no entanto “colheu bastantes frutos para ele”. E acrescenta: “até lhe chamam o presidente «iogurte» porque se dedicou ao ramo alimentar e, especialmente, à indústria do queijo, leite e derivados”, frisou D. Alfredo Caires. Os opositores criticam-no porque “ele tirou muitos privilégios para si”. As manifestações de riqueza começaram a sobressair. “Até comprou um avião por 60 milhões de dólares para se deslocar nas viagens que faz a todo o mundo”,realça o prelado. A população “não gosta destes exageros” visto que “é bastante pobre e faz bastantes sacrifícios”. Ravalomanana foi agora obrigado a deixar o poder depois de dois meses da pior crise política e social desde que ascendeu à presidência em 2002. Andry Rajoelina, utilizou o mesmo processo que Ravalomanana usou há oito anos atrás. “Começou a reunir o povo na praça pública e a motiva-los para a crítica”. O jovem Rajoelina é empresário da Comunicação Social – tem uma estação de Rádio e de TV – e é mais conhecido na capital. D. Alfredo Caires lamenta que o povo viva na “miséria” e os políticos na “abundância”. E adianta: “há muito dinheiro que não chega à população”. Os Bispos das 21 dioceses de Madagáscar já apelaram à calma e prestaram várias declarações. “O diálogo é fundamental”, refere D. Alfredo Caires. Com mais de 20 anos neste país do Índico, o prelado explica que os católicos são a maioria em percentagem, mas os protestantes “têm a alta sociedade”. E finaliza: “a maioria dos ministros são protestantes”.

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