Bispo do Funchal exige turismo de rosto humano

Os números sobre o turismo figuram entre os colossos industriais, comparado com o fabrico de carros, do aço e do petróleo. Cento e vinte sete milhões de pessoas trabalham no mundo na área do turismo. Nos países ricos o turismo representa 32% na facturação dos serviços e 9% nos países em vias de desenvolvimento. O sul da Europa e do mundo recebe e alimenta o tempo livre dos habitantes do norte. 1. Embora o momento actual não seja para alguns portugueses muito propício para um turismo fora de fronteiras, as férias são hoje um direito adquirido, necessário para refazer forças, cultivar o espírito, encontrar pessoas e povos, tornando o universo a casa da família humana. Os números sobre o turismo fi-guram entre os colossos industriais, comparado com o fabrico de carros, do aço e do petróleo. 127 mi-lhões de pessoas trabalham no mundo na área do turismo. Nos países ricos o turismo representa 32% na facturação dos serviços e 9% nos países em vias de desenvolvimento. O sul da Europa e do mundo recebe e alimenta o tempo livre dos habitantes do norte. Nos países industrializados, a sociedade de consumo fez do turismo uma forma de prestígio social. Até aos inícios de 1900 o turismo era um fenómeno de elites, da nobreza e alta burguesia. Felizmente que o turismo se tornou fenómeno de massas com a industrialização e urbanização. Afirma-se, frequentemente, que o turismo representa para os países pobres uma possibilidade de progresso. Esta afirmação deve ser redimensionada. Só uma pequena parte do produto do turismo fica nos países mais pobres. A maior parte retorna aos países ricos, com o consumo local muito reduzido, com produtos vindos do exterior e com grandes investimentos estrangeiros. Nem sempre se consideram os riscos de embate ambiental. O ecossistema dos países pobres é sacrificado ao interesse da procura turística. As férias ligadas ao golf criaram graves problemas às comunidades no sudoeste asiático e médio oriente pelo uso da água e dos pesticidas. Na Europa do Norte os depósitos de Inverno levaram à morte de várias florestas. 2 – A condição dos trabalhadores, nos lugares de férias, torna-se facilmente terreno fértil para a exploração, principalmente para os 13 a 19 milhões de jovens que traba-lham em sectores ligados ao turismo. Os países de sonho publicitados pelas agências de Viagens, verdadeiros ou falsos, escondem por vezes motivações de abuso da pessoa humana, considerada como mercadoria. Há uma proliferação de formas de turismo. Um recente estudo realizado na Inglaterra, adivinha quatro tipos de turistas. Primeiro os turistas de massa, que compram viagens com tudo organizado. Segundo o turista de massa individual, mais livre e autónomo que estabelece antes de partir o plano da sua viagem, das visitas e repouso. Os guias turísticos permitem encontrar tudo o que o visitante necessita até com frases próprias para se livrar dos vendedores ambulantes. Terceiro, o turista pioneiro ou explorador, que procurou lugares pouco visitados ou exóticos, sozinho ou em pequenos grupos e gasta muito mais do que os outros grupos. Por fim, o chamado «vagabundo» que evita qualquer organização turística e procura conhecer a realidade local, à sua maneira, decidindo à noite o que vai realizar no dia seguinte. É possível que alguns grupos não se enquadrem neste esquema, como o turismo religioso, mas o que interessa no tempo livre é quebrar a própria rotina, gerir os dias de forma diversa do habitual, experimentar novas formas de alimentação, encontrar pessoas e tecer novas amizades. O turismo internacional torna-se cada vez mais uma válvula de escape para milhões de pessoas que se sentem peças de uma máquina na sociedade onde vivem e traba-lham, onde tudo está organizado e sob controlo do patrão, da polícia, do horário de trabalho, dos familiares. Acontece também, que algumas vezes o tempo de férias sujeita a pessoa a outro esquema que favorece o stress e não permite um verdadeiro repouso, no meio de multidões que se comprimem nos aeroportos, auto-estradas, restaurantes, praias e hotéis. É preciso humanizar o turismo, educar para a hospitalidade e cultura da sobriedade, alegre e digna, enriquecer o espírito com o encontro de novas culturas e experiências. 3 – As novas gerações descobriram uma nova forma de ocupar o tempo livre nas férias, colocando-se ao serviço das populações carenciadas do terceiro mundo. São férias diferentes, ricas de espírito de doação, alegria interior que esquece sacrifícios, privações, comodidades, para entrar em contacto com a pobreza, ignorância, por vezes doenças e perigos, mas enriquecendo o espírito de generosidade, construindo amizades duradouras, semeando alegria, educando para a paz e progresso humano. Com o espírito de grande doação esta juventude alegra o coração do mundo novo, faz emergir a presença do Invisível na vida, no encontro, no diálogo, no serviço realizado com amor generoso e gratuito. Para estes, o tempo livre, converteu-se em tempo de libertação, de vida missionária e bênção de Deus. D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

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