Bispo do Funchal apresenta balanço da visita ao Reino Unido

Madeirenses de Londres realizaram visitas do Espírito Santo Nestes dias que passei em Londres, por ocasião do «Dia da Madeira», encontrei gente nova e trabalhadora de quase toda a Madeira. Geralmente estão contentes, são amigos de visitar a Madeira enquanto os pais são vivos, raramente mostram intenções de deixarem Londres para se estabelecerem na Madeira. Estão a comprar casa na capital britânica, onde esperam viver com os filhos. 1. Desde o séc. XVI que Londres exerceu uma forte atracção sobre a pequena ilha da Madeira. Neste século a monarquia inglesa dos Tudors estabeleceu a paz na Inglaterra permitindo o florescimento da arte e do comércio. Nasceu o teatro inglês, talvez a mais feliz e duradoira contribuição à cultura mundial. Basta o nome de Shakespeare para o comprovar, talvez o cérebro mais genial que produziu o reino de suas majestades. A influência na Madeira deve-se ao comércio e descoberta do Novo Mundo. Os veleiros e toda a espécie de barcos, até ao Keen Mary II, de nossos dias, encheram de admiração durante séculos os olhos dos madeirenses e adornaram o porto do Funchal. Os ingleses na Madeira construíram o seu império de costas voltadas para os residentes que, nas gravuras e escritos da época, são apresentados sob formas grotescas, uma espécie de «selvagens» domesticados, sem que eles tivessem contribuído para a promoção da sua vida social, cultural ou artística. Como não há regra sem excepção, a convertida Mary Jane Wilson, com a sua inteligência e santidade, redimiu a imagem arrogante e distante do seu povo, dedicando-se completamente aos mais carenciados, tendo merecido do governo português a mais alta condecoração, sendo depois presa e deportada para Londres. O seu amor pela Madeira, levou-a a esquecer a afronta e a voltar de novo, até à sua morte. 2 – Após a última grande guerra, e com a cidade de Londres bombardeada, alguns madeirenses seguiram de barco para trabalharem no Reino Unido e servirem os seus senhores. Esta romagem, que já tinha começado antes, aumentou de tal forma que hoje a comunidade madeirense do Reino Unido aproxima-se do número de residentes na África do Sul ou Venezuela. Ouvir falar português com acento madeirense, é comum nalguns quarteirões de Londres principalmente no de Sotchwell. Nestes dias que passei em Londres, por ocasião do «Dia da Madeira», encontrei gente nova e trabalhadora de quase toda a Madeira. Geralmente estão contentes, são amigos de visitar a Madeira enquanto os pais são vivos, raramente mostram intenções de deixarem Londres para se estabelecerem na Madeira. Estão a comprar casa na capital britânica, onde esperam viver com os filhos. Este ano a reunião do Dia da Madeira, com a vitória de Portugal sobre o Irão, não teve a participação dos anos anteriores. As praças e ruas animaram-se com bandeiras portuguesas e bebidas à mistura, de tal forma que era perigoso conduzir, trazendo as suas famílias para o encontro. Na eucaristia dominical, sucedeu o contrário, a «Igreja do Salvador» foi pequena para conter tantos fiéis, apesar dos crismas administrados noutros templos. O número de madeirenses que ainda respeita o domingo, como dia do Senhor, é grande. A procura de sacramentos – baptismo, crisma, comunhão e matrimónio – sem a devida preparação, preocupa e causa interrogação sobre o futuro de uma fé num mundo secularizado. As seitas e a Igreja Universal do Reino de Deus estão atentas e lançam as suas redes, por vezes, com resultado. Este ano, a comunidade que se reúne na igreja dos Padres Scalabrinianos, organizou pela primeira vez visitas do Espírito Santo à casa dos madeirenses que previamente se inscreveram. Tudo foi realizado segundo a tradição madeirense, não faltando as bandeiras do Espírito Santo, as «saloias» e os músicos. Disseram-me que foi um dos momentos mais emocionantes da vida de fé nas famílias que se reuniram com os amigos, esperando as insígnias do Espírito Santo. A emoção era tão grande que as lágrimas corriam dos olhos, tanto dos que recebiam a visita como dos que levavam as insígnias. Os homens que me narraram estas vivências espirituais ficaram novamente com lágrimas nos olhos. A piedade popular tem uma grande força evocativa, revigora as raízes culturais e alimenta a fé bebida na infância. Com esta visita procurei também ajudar os responsáveis religiosos das comunidades a promoverem uma pastoral de conjunto, porque a messe é grande e ameaçada por muitos perigos e os operários são poucos e por vezes carregados de anos. 3 – As comunidades madeirenses do Reino Unido convidam representantes da Região Autónoma da Madeira e do Consulado Português em Londres, para a celebração deste Dia. Da parte do Governo Regional esteve presente a Secretária dos Assuntos Sociais, Drª Conceição Estudante que, no seu discurso entusiasmou os assistentes que me referiram as suas agradáveis impressões. A relação do Consulado sobre a comunidade portuguesa obriga a reflectir e agir. Segundo o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, no Reino Unido reside meio milhão de pessoas com passaporte português, embora só metade tenha sangue lusitano. Os outros provêm do oriente, Macau, Hong Kong, Timor, também da África sendo uma parte dos passaportes clandestinos, facto que causa tantas preocupações por causa do terrorismo. O Consulado atendeu no ano passado 46 900 pessoas. Tem 28 funcionários que se esforçam por fazer o melhor que podem a favor desta imensa comunidade. O ditado «é um desconsolo ir ao consulado» está a perder cotação… Ao celebrarmos os 30 anos de Autonomia, o bispo do Funchal, que tantas vezes foi convidado para visitar e atender à comunidade madeirense e nacional no Reino Unido e Ilhas do Canal, felicita todos os que, remando contra ventos e marés, promovem, organizam, se sacrificam, para que estes encontros, ajudem a reunir pessoas e a acordar as suas raízes e tradições, humanas, cristãs, sociais e culturais. A capa do número das Comunidades Madeirenses para este evento (foto acima) apresenta o Parlamento inglês com a torre do Big Ben e a Catedral do Funchal com a sua torre. Os monumentos são símbolos da história dos povos, recordam o passado e apontam para o futuro, unem e não destroem. Constatei que a comunidade madeirense ao olhar para a torre do Parlamento ou da Catedral do Westminster, não se esquece da torre da sua Catedral nem da Igreja da sua paróquia. Que o seu trabalho e a sua fé, ajudem a «dar uma alma à Europa», porque a construção da humanidade passa pelo respeito, estima, diálogo do pensamento e da vida com todos os que Deus colocou a nosso lado e são nossos irmãos. Funchal, 25 de Junho de 2006 † Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

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