Bispo da Guarda espera pelo «sim» de Cister

“Aguardo, a todo o momento, que os Monges de Cister nos digam que escolheram o local na diocese da Guarda para iniciar o seu ministério” – confessou à Agência ECCLESIA D. Manuel Felício, bispo da Guarda, a propósito da possível vinda dos monges brancos para aquele território eclesial. E acrescenta: “todos os dias rezo para que Deus nos mande os Monges de Cister”. O ideal para fundar um mosteiro é um grupo de doze mas, se no início, “vierem apenas três ou quatro elementos “será um grande bem para a nossa diocese” – referiu o prelado da diocese mais alta do país. Os contactos feitos com a Comunidade do Sobrado (Galiza) “estão cheios da melhor esperança” mas ainda “não há sítio escolhido. A diocese é muito rica em termos de lugar e de casas”. A cidade da Guarda está fora de questão porque existe aquele aforismo antigo: «os beneditinos gostam dos montes, os cistercienses dos vales, os jesuítas da cidade e os Franciscanos das aldeias». Como são monges de Cister a “sua clausura é a quinta” – disse o con. Eugénio Cunha Sério. No verão passado, um grupo de monges de Cister estiveram na diocese durante uma semana e dialogaram com os sacerdotes, religiosos e leigos da diocese. “O facto de estarmos aqui significa que há uma grande inquietude entre os portugueses sobre a vida monástica” – referiu Jaime Lamas, monge cisterciense, durante aquela visita. Para este monge do Mosteiro do Sobrado, a visita foi vista como o início de uma caminhada. “Estamos a começar a dar alguns passos, mas temos de admitir que se trata de um processo lento, mas temos esperança de que um dia avance” – explicou Jaime Lamas. Recentemente, o Pe. José Luis Farinha, do presbitério da Guarda, foi para os Monges de Cister. “Não queremos usá-lo como moeda de troca mas facilita os nossos contactos” – admitiu D. Manuel Felício. Para além de ser “um serviço” à diocese da Guarda, a vinda será “o retomar do maravilhoso serviço que os monges de Cister prestaram à história de Portugal”. Homens da terra, oração e estudo O convento de S. João de Tarouca foi, no Séc. XII a primeira casa conventual, em Portugal, a adoptar a Regra da Ordem de Cister. A sua filiação à Abadia Mãe de Claraval, em França, teve lugar entre 1140 e 1144. Os Monges da Ordem de Cister caracterizavam-se pela simplicidade e vivendo uma vida monástica trabalhavam principalmente na terra, sendo a oração, o estudo, o ensino, a organização de cartórios e a cópia de manuscritos, as suas ocupações dentro do convento. A construção deste convento, está envolta em lendas, tendo a documentação sobre o mesmo sido destruída em grande parte num incêndio no seminário de Viseu. De todo o conjunto monástico apenas permanece a Igreja e as ruínas de algumas dependências monacais, bem como os dormitórios. A Igreja do séc. XII é um exemplar da arquitectura cisterciense da escola de Borgonha, tendo sofrido posteriormente alterações. Foi sagrada em 1169 por D. Peculiar, Arcebispo de Braga. Depois de muitos séculos em Portugal, os monges cistercienses foram expulsos de Portugal (tal como todas as ordens religiosas) em 1834. Foram os equívocos político-religiosos que levaram o poder emergente a cortar “abruptamente com a nossa tradição mais criativa de culto e cultura” – realçou D. Manuel Clemente, numa conferência sobre a «Vida Monástica na Igreja e na Sociedade» proferida, há uns meses, no Mosteiro de Alcobaça. Quase dois séculos após esta «deliberação», os monges brancos estão de volta ao nosso país.

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