Padre Miguel Cabral coordenou o livro com «Reflexões sobre Ética Médica»
Lisboa, 22 mai 2019 (Ecclesia) – O assistente espiritual da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP), padre Miguel Cabral, disse que uma sociedade que “atenta contra a vida não vai bem”, afirmando que o pedido de eutanásia “quase sempre um pedido de ajuda”.
“Como podemos lutar por uma sociedade mais justa onde exista paz quando na própria família não se respeita os mais velhos, os idosos, e se incentiva a possibilidade de legalizar a eutanásia”, disse o sacerdote, que também é médico oncologista, no contexto do novo livro ‘Reflexões sobre Ética Médica’.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o assistente espiritual da AMCP explicou que o pedido de eutanásia é, “em primeiro lugar e quase sempre”, um “pedido de ajuda” da pessoa que tem “dor, solidão”, que quer falar.
“A eutanásia é um pedido de ajuda na grande maioria dos casos”, frisou o padre Miguel Cabral destacando o exemplo de uma clínica em Espanha onde “mais de 95%” dos pacientes passado algum tempo de tratamento já não quer a eutanásia.
Para o sacerdote, que trabalhou dez anos como oncologista, uma sociedade que “atenta contra a vida não vai bem” e questionou como se podem “ter paz no mundo” quando se “atenta contra os mais idosos e mais débeis”.
“É preciso, muito antes de promover a eutanásia, promover o acesso, melhorar, os cuidados de saúde, melhorar as estruturas da saúde, promover leis que apoiem as famílias; Isso é mais importante, temos de caminhar por aí”, desenvolveu.
No livro ‘Reflexões sobre Ética Médica’ existe um capítulo sobre eutanásia com contributos da médica especialista em cuidados paliativos cuidados Isabel Galriça Neto, do presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, o juiz Pedro Vaz Patto, e do presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, Pedro Afonso.
Segundo o padre Miguel Cabral a “ética permite ver onde está o bem e o mal para o homem”, e salientou que existem coisas que “ajudam a ser mais homens, melhores pessoas, melhores uns para os outros”, enquanto existem “outras propostas legislativas” que pretendem “acabar com o problema pela solução mais fácil”, mas que “nem sempre ou nunca é a mais correta”.
Na nova publicação, que foi apresentada este mês numa formação em ‘Ética Médica’, apresenta-se o princípio do “respeito incondicional pela vida humana” como fundamental, “desde a conceção até morte natural”, percorrendo “as etapas da vida humana e dilemas éticos”: “Da gestação ao embrião, o aborto, o cuidado da criança recém-nascida, o diagnóstico pré-natal, a empatia na relação médico-doente”.
A técnica, atualmente, permite “sonhar, fazer tantas coisas”, mas é importante saber que “nem tudo o que é tecnicamente possível é eticamente aceitável”.
O assistente espiritual da AMCP considera que não se podem fazer “determinadas coisas”, “mesmo que a técnica permita”, e deu como exemplo a ecografia, “uma técnica relativamente antiga”, que permite identificar se um bebé tem “uma malformação”, como a possibilidade da criança ter trissomia 21, e como é que não se vai “respeitar aquela vida por nascer”.
Em 10 anos de trabalho como oncologista, o entrevistado teve “algumas situações éticas” que o motivaram a estudar “mais aprofundadamente e fazer tese de doutoramento na área da bioética” e lembra o caso de uma mulher com cancro durante a gravidez.
“É possível fazer tudo para salvar as duas vidas. Pode ser uma situação dramática o que não é possível é dizer que para salvar a mãe é preciso atentar contra a vida da filha. Temos de fazer o melhor possível”, acrescentou.
O tema ‘Ética Médica’ vai estar novamente em reflexão pela Associação dos Médicos Católicos Portugueses que está a preparar um encontro de formação em outubro deste ano.
PR/CB/OC