Texto de São Paulo apresenta uma «complexa síntese da teologia paulina»
Lisboa, 01 nov 2023 (Ecclesia) – A comissão que coordena a nova tradução da Bíblia da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lançou hoje o texto provisório da Carta aos Romanos, a única que foi destinada a uma comunidade que não foi fundada por São Paulo.
“A Carta aos Romanos é a única que Paulo destina a uma comunidade que não foi fundada por si”, afirmam os biblistas que promoveram a tradução deste texto.
Para os especialistas, esta é, provavelmente, a última das “grandes cartas de São Paulo, escrita no contexto de “novos horizontes geográficos e teológicos”, comprovada pela vontade do autor “ir até à Hispânia”, como se lê no versículo 24 do capítulo 15 da Carta aos Romanos.
“Nesta viagem, que pretende empreender depois de ir a Jerusalém (15,25), quer passar por Roma (15,24), razão pela qual escreve a presente carta, onde apresenta as suas ‘credenciais’”, afirmam.
Os biblistas que trabalharam na tradução do texto afirmam que é “uma carta serena, como se de um grande testamento espiritual e exegético se tratasse, no qual o apóstolo relê as Escrituras no contexto do mundo greco-romano, colocando o evangelho em diálogo quer com a Torá, quer com a cultura envolvente”.
A carta, que “terá sido escrita em Corinto, por volta dos anos 57-58, durante a terceira viagem missionária de Paulo”, é dirigida à comunidade cristã de Roma, que “seria composta por cristãos oriundos da Síria e da Palestina, provenientes da tradição hebraica, mas também por muitos vindos do paganismo”, sendo por isso uma “comunidade mista, com possíveis conflitos entre os cristãos vindos do paganismo e os judeo-cristãos”.
“A Carta aos Romanos apresenta uma complexa síntese da teologia paulina, em particular sobre a unicidade da história da salvação e sobre a constância da ação de Deus ao longo dessa história. Os temas mais comuns desenvolvem a relação entre o pecado e a graça, a justiça e a Lei, o bem e o mal, a Lei e a fé, Israel e os pagãos”.
As temáticas são desenvolvidas “no enquadramento da teologia paulina sobre a coerência do agir divino, que começa na história de Israel (1,18-4,25), passa pelo presente da condição cristã (5,1-8,39), e se consuma no futuro (9,1-11,36).
As secções que formam “o grande corpo da Carta aos Romanos incluem também uma “longa secção exortativa” (12,1-16,23), onde são feitas as recomendações finais (16,1-23).
“Sem negar o papel da Lei, o apóstolo mostra como a Torá não possui capacidade salvífica, pelo que apresenta a fé em Deus como o meio que Ele desde sempre concedeu para que seja possível ao homem manter-se na sua aliança e acolher a sua oferta salvadora”.
Para o autor, a salvação traduz “a gratuidade da parte de Deus, mesmo quando o ser humano peca e se dá conta – como Paulo – de que experiencia o drama do pecado”. “Para sair do círculo vicioso do pecado (7,24-25), o homem precisa do auxílio da graça do Senhor: isto constitui a justificação de Deus, operada em Cristo (5,12-21)”.
Ao colocar online a tradução provisória da Carta aos Romanos, a Comissão Coordenadora da Tradução da Bíblia da CEP convida a comunidade a envolver-se no processo de tradução e revisão deste documento e dispõe-se a acolher o contributo dos leitores, em ordem ao melhoramento da compreensibilidade do texto.
A tradução provisória deste e de outros textos bíblicos está disponível para download no site da Conferência Episcopal Portuguesa, podendo sugestões e comentários ser enviados através do endereço eletrónico biblia.cep@gmail.com.
Desde agosto de 2021, um novo livro da Bíblia é disponibilizado mensalmente em formato digital e divulgado pela Agência ECCLESIA.
Em março de 2019, a Conferência Episcopal Portuguesa apresentou o primeiro volume da nova tradução da Bíblia em português feita por 34 investigadores a partir das línguas originais, com a publicação da edição de ‘Os Quatro Evangelhos e os Salmos’.
PR