Bento XVI vive momentos chave nos Camarões

Islão e II Sínodo da Igreja africana vão marcar o terceiro dia da viagem O programa do Papa em África conhece momentos fortes esta Quinta-feira de manhã, numa agenda que inclui um encontro com os representantes da Comunidade Muçulmana dos Camarões (quase 4 milhões de fiéis, 22% da população), o único do género no programa da visita. Mais tarde, Bento XVI preside à Missa por ocasião da publicação do «Instrumentum Laboris» da II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, no Estádio Amadou Ahidjo. As intervenções papais em território camaronês têm sempre com uma perspectiva aberta sobre todo o Continente: em Outubro, terá lugar a II Assembleia Especial do Sínodo para a África e é aqui que o Papa vai entregar aos Bispos do Continente o documento que orientará os trabalhos no Vaticano. Bento XVI visita nesta mesma Quinta-feira o Centro Cardinal Léger, no qual terá oportunidade de “observar pessoalmente a solicitude pastoral desta Igreja local em favor das pessoas doentes e dos que sofrem”. “É particularmente digno de louvor que os doentes de SIDA neste país sejam tratados gratuitamente”, acrescentou. Logo no avião que o levou até aos Camarões, o Papa foi deixando claro que a Igreja acredita que pode fazer a diferença em África, ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz. Estes temas estão no centro da II Assembleia especial para a África do Sínodo dos Bispos. 15 anos depois do primeiro Sínodo africano, que abordou questões relacionadas com a missão evangelizadora em vista do jubileu de 2000, esta segunda reunião dos episcopados católicos de África vai decorrer em Outubro próximo, no Vaticano – uma opção que alguns contestam, mas que tem como intenção mostrar que os problemas dos católicos deste Continente não são periféricos, mas estão no coração de toda a Igreja. Ponte entre estes dois grandes momentos é a capital camaronesa, Yaoundé, onde João Paulo II promulgou, em 1995, a Exortação Apostólica pós-sinodal “Ecclesia in África” e Bento XVI irá entregar o documento orientador do próximo Sínodo. Do documento que leva o actual Papa aos Camarões sabe-se que é um texto de 94 parágrafos, distribuídos por cinco capítulos, para além da introdução e da conclusão. Abordam-se diversos aspectos dos desafios centrais – reconciliação, justiça, paz -, não só à luz das problemáticas actuais em África, mas também com os seus aspectos positivos. Entre as dificuldades evidenciadas destacam-se o etnocentrismo ou o tribalismo que muitas vezes está por detrás de outros problemas – conflitos, nepotismo e corrupção, impunidade. O entusiasmo que se gerou com a obtenção da independência por parte das nações africanos acabou por desaparecer, muitas vezes, por causa do falhanço de governos, de iniciativa política ou militar. Em entrevista ao jornal do Vaticano, “L’Osservatore Romano”, D. Nikola Eterović, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, destaca a importância de ir ao encontro das esperanças dos africanos e dar voz às experiências de reconciliação e de paz. “O diálogo é apresentado como algo a que não se pode renunciar, com uma atenção particular às relações com o Islão, destacando algumas regiões onde há aspectos positivos e outras onde não faltam problemas”, adianta D. Eterović. Temas como as pandemias que atingem a África ou a escravidão também estarão presentes neste documento orientador, que propõe uma revisão do caminho feito desde o I Sínodo, de 1994. “A Igreja, no Continente, está sempre na primeira linha quando se trata de reconciliação, justiça, educação, saúde”, assinala o secretário-geral do Sínodo. Na sua intervenção inicial em solo camaronês, o Papa apontou como preocupações da sua viagem temas como a violência, pobreza, tráfico humano, opressão económica ou política. Nesse sentido, defendeu que “diante da dor ou da violência, da pobreza ou da fome, da corrupção ou do abuso de poder, um cristão não pode permanecer calado”. Bento XVI lembrou os muitos habitantes de África “cruelmente raptados e levados além-mar, para trabalhar como escravos”, bem como o tráfico de seres humanos – “especialmente das mulheres e crianças indefesas”, que considerou uma forma moderna de escravatura. “Num tempo escassez alimentar de global, de confusão financeira, de preocupantes alterações climáticas, a África sofre desmesuradamente: um número crescente dos seus habitantes sucumbe, vítimas da fome, da pobreza, da doença. Eles imploram em voz alta por reconciliação, justiça e paz, e é isto precisamente que a Igreja lhes oferece”, acrescentou. Programa do dia Yaoundé (Hora local, menos uma em Lisboa) Quinta-feira, 19 de Março 08.45 – Encontro com os representantes da Comunidade Muçulmana de Camarões na Nunciatura Apostólica de Yaoundé. Saudação do Papa 10.00 – Missa por ocasião da publicação do «Instrumentum Laboris» da II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, no Estádio Amadou Ahidjo. Homilia do Papa 16.30 – Encontro com os doentes no Centro Cardeal Paul Emile Léger – CNRH. Discurso do Papa 18.30 – Encontro como s membros do Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos, na Nunciatura Apostólica. Discurso do Papa 19.30 – Jantar com os membros do Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos e com os Cardeais e Bispo da Comitiva Papal na Nunciatura Apostólica de Yaoundé

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