Celebração de 5 de janeiro, presidida pelo Papa Francisco, segue modelo das «exéquias de um sumo pontífice»
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 03 jan 2022 (Ecclesia) – O Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice (Santa Sé) divulgou hoje o esquema do funeral do Papa emérito Bento XVI, falecido no último sábado, que se vai celebrar esta quinta-feira.
A “Missa exequial pelo Sumo Pontífice Emérito Bento XVI” vai ser presidida pelo Papa Francisco, a partir das 09h30 (menos uma em Lisboa), na Praça de São Pedro.
O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, precisou que a inédita celebração do funeral de um Papa presidida pelo seu sucessor, “grosso modo, repete o modelo das exéquias de um sumo pontífice”.
O responsável apontou alguns “elementos originais”, entre eles a referência a um “Papa emérito”, e outros que não são incluídos, porque dizem respeito à morte de um pontífice em exercício, como, por exemplo, as súplicas da Diocese de Roma e das Igrejas Orientais, no momento da sepultura.
O rito, acrescentou, foi preparado por um grupo de especialistas.
Após as 19h00 de quarta-feira, quando a porta da Basílica de São Pedro encerra portas aos fiéis e visitantes que se têm despedido do Papa emérito, o caixão, em madeira de cedro, será fechado num rito privado.
O mestre das Celebrações Litúrgicas, monsenhor Diego Ravelli, lê o ‘rogito’ – elegia em latim, relatando os principais atos da vida do falecido Papa -, e, em seguida, estende-se o véu de seda branca sobre o rosto do defunto, que é aspergido com água benta.
Junto ao corpo de Bento XVI é colocado um saco com as moedas e medalhas cunhadas durante o pontificado, os pálios (insígnia litúrgica que é símbolo de autoridade nas arquidioceses metropolitas, como a de Munique e de Roma, servidas por Joseph Ratzinger) e o tubo com o ‘rogito’, depois de selado com o selo do Departamento das Celebrações Litúrgicas.
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé explicou que, pelo contrário, a férula papal (o corresponde ao báculo, que é encimado por uma cruz) não é colocada no caixão, sendo o seu uso associado a um Papa reinante.
Já na quinta-feira, pelas 08h45 de Roma, o corpo é transportado da Basílica de São Pedro para a Praça, onde será recitado o Rosário.
A última Missa exequial de uma Papa foi celebrada a 8 de abril de 2005, após a morte de João Paulo II, sob a presidência do então cardeal Joseph Ratzinger, decano do Colégio Cardinalício, que seria eleito como Papa, assumindo o nome de Bento XVI.
A celebração conta com leituras bíblicas diferentes das do funeral do santo polaco, sendo a passagem do Evangelho tirada do capítulo 23 de São Lucas.
Era já quase a hora sexta e fez-se trevas sobre toda a terra até à hora nona, quando o sol se eclipsou; o véu do templo rasgou-se a meio e Jesus, clamando com voz forte, disse: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito». Dito isto, expirou.
“Um dos malfeitores suspenso na cruz blasfemava contra Ele, dizendo: «Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!». Mas o outro, em resposta, repreendendo-o severamente, afirmou: «Nem a Deus temes, tu que estás sujeito à mesma pena?». Para nós é justo, pois recebemos o que as nossas ações mereciam, mas este nada fez de errado». E dizia: «Jesus, recorda-te de mim quando fores para o teu reino». Ele disse-lhe: «Amen te digo: hoje estarás comigo no paraíso»”. Era já quase a hora sexta e fez-se trevas sobre toda a terra até à hora nona, quando o sol se eclipsou; o véu do templo rasgou-se a meio e Jesus, clamando com voz forte, disse: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito». Dito isto, expirou. (Lc 23, 39-46) |
O Papa Francisco profere a homilia da Eucaristia e o cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, vai celebrar no altar, como tem acontecido em várias celebrações dos últimos meses, devido às limitações físicas do atual pontífice.
Após a homilia, os presentes vão rezar por Bento XVI, para que “o eterno Pastor o acolha no seu reino de luz e de paz”.
Uma das intenções da oração universal vai ser lida em português: “Pelos irmãos e irmãs atribulados pela pobreza e a indigência em todas as suas formas, que a caridade de Deus nos abra à compaixão e ao acolhimento dos últimos e dos pobres”.
Após a Comunhão, decorre o rito da ‘Ultima Commendatio’ (última encomendação) e da Valedictio (adeus), e o Papa asperge a urna com água benta, antes da sepultura, em cerimónia privada.
Bento XVI vai ser sepultado, por seu desejo expresso, na Cripta da Basílica de São Pedro, no túmulo que recebeu São João Paulo II, antes de o Papa polaco ser transferido para uma capela perto da ‘Pietà’ de Michelangelo, após a sua canonização.
O caixão em cedro é selado com os selos da Prefeitura da Casa Pontifícia, do Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice e do Capítulo de São Pedro, antes de ser colocado numa urna em zinco e num terceiro caixão, em madeira.
A cerimónia deve demorar cerca de duas horas e é concelebrada por um número estimado de 125 cardeais e 400 bispos, incluindo vários representantes portugueses;
A Missa Exequial pelo Sumo Pontífice Emérito Bento XVI é uma capela papal, termo que aplica às celebrações litúrgicas mais solenes sob a presidência ou com a assistência do Papa, na Basílica de São Pedro.
O livrete da celebração apresenta, na sua página inicial, o quadro “A deposição” de Jesus (1603-1604), de Caravaggio, conservado nos Museus do Vaticano.
OC