Bento XVI, um Papa ecológico

 

Ao longo do seu pontificado, Bento XVI tem tido várias intervenções em favor de uma “economia verde” e do respeito pelo meio ambiente, promovendo um desenvolvimento sustentável.

Na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2008, Bento XVI defendia que “a família precisa duma casa, dum ambiente à sua medida onde tecer as próprias relações. No caso da família humana, esta casa é a terra, o ambiente que Deus criador nos deu para que o habitássemos com criatividade e responsabilidade”.

O Papa não faz da ecologia uma religião e observa que “respeitar o ambiente não significa considerar a natureza material ou animal mais importante do que o homem; quer dizer antes não a considerar egoisticamente à completa disposição dos próprios interesses, porque as gerações futuras também têm o direito de beneficiar da criação, exprimindo nela a mesma liberdade responsável que reivindicamos para nós”.

Já na mensagem para o Dia da Paz 2007, Bento XVI falava especificamente do problema do “abastecimento energético”.

“Nestes anos, novas nações entraram decididamente no sector da produção industrial, aumentando as necessidades energéticas. Isto está a provocar uma corrida sem precedentes aos recursos disponíveis”, alertava.

Em causa está, segundo Bento XVI, a imposição de um “tipo de desenvolvimento ou de não-desenvolvimento” derivado da escassez de reabastecimento energético. O Papa admite que a corrida às fontes de energia possa gerar mais injustiças e conflitos, em especial pela reacção de quem ficar de fora.

A água é outra preocupação papal, que a considera “um direito inalienável” e um recurso precioso que a comunidade internacional deve gerir de forma a permitir que todos possam ter acesso a ele.

Caritas in veritate

É sobretudo na sua última encíclica que Bento XVI condensa toda a reflexão nesta matéria, afirmando que os projectos para um desenvolvimento humano integral “não podem ignorar os vindouros, mas devem ser animados pela solidariedade e a justiça entre as gerações, tendo em conta os diversos âmbitos: ecológico, jurídico, económico, político, cultural”.

Em particular, desenvolvem-se as questões relacionadas com “as problemáticas energéticas”, condenando “o açambarcamento dos recursos energéticos não renováveis por parte de alguns Estados, grupos de poder e empresas”.

“A protecção do ambiente, dos recursos e do clima requer que todos os responsáveis internacionais actuem conjuntamente e se demonstrem prontos a agir de boa fé, no respeito da lei e da solidariedade para com as regiões mais débeis da terra”, indica o documento.

O Papa observa que “a monopolização dos recursos naturais, que em muitos casos se encontram precisamente nos países pobres, gera exploração e frequentes conflitos entre as nações e dentro das mesmas”.

Nesse sentido, prossegue, “a comunidade internacional tem o imperioso dever de encontrar as vias institucionais para regular a exploração dos recursos não renováveis, com a participação também dos países pobres, de modo a planificar em conjunto o futuro”. Por isso, Bento XVI frisa que também neste campo “há urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade, especialmente nas relações entre os países em vias de desenvolvimento e os países altamente industrializados”.

“As sociedades tecnicamente avançadas podem e devem diminuir o consumo energético seja porque as actividades manufactureiras evoluem, seja porque entre os seus cidadãos reina maior sensibilidade ecológica. Além disso há que acrescentar que, actualmente, é possível melhorar a eficiência energética e fazer avançar a pesquisa de energias alternativas”, pode ler-se.

“O açambarcamento dos recursos, especialmente da água, pode provocar graves conflitos entre as populações envolvidas”, alerta ainda a Caritas in veritate.

Ecologia Humana

Na sua última encíclica, Bento XVI afirma que a degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana: quando a “ecologia humana” é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental”.

“O sistema ecológico rege-se sobre o respeito de um projecto que se refere tanto à sã convivência em sociedade como ao bom relacionamento com a natureza”, escreve o Papa, assinalando que “o problema decisivo é a solidez moral da sociedade em geral”. Por conseguinte, “os deveres que temos para com o meio ambiente estão ligados aos deveres que temos para com a pessoa considerada em si mesma e em relação aos outros; não se podem exigir de uns e espezinhar os outros”.

2010

A Santa Sé já divulgou o tema da mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2010, desta feita intitulada “Se queres a paz, cuida da criação”. O Papa fala numa crise ecológica e na necessidade de enfrentá-la globalmente.

O tema pretende fomentar uma tomada de consciência do “forte elo que existe no nosso mundo globalizado e interconectado entre salvaguarda da criação e cultivo do bem da paz”, lembrando as “terríveis perspectivas que a degradação ambiental apresenta”.

Segundo a apresentação do tema divulgada pela Santa Sé, “se a família humana não souber fazer frente a estes novos desafios com um renovado sentido de justiça e de equidade social e de solidariedade internacional, corre-se o risco de semear a violência entre os povos e entre as gerações presentes e futuras”.

“Trata-se do dever, comum e universal, de respeitar um bem colectivo, destinado a todos, impedindo que se possam utilizar de modo impune as diversas categorias de seres”, refere a Santa Sé.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top