Bento XVI preocupado com conflitos, violências, guerras e ódio em solo africano

Na Nunciatura apostólica de Yaoundé, Bento XVI concluiu este terceiro dia da sua viagem a África encontrando-se com os membros do conselho especial para a África do Sinodo dos Bispos. Este encontro representou o simbólico início no continente africano da II assembleia sinodal especial que se efectuará no Vaticano de 4 a 25 de Outubro. O conselho especial é constituído por 12 membros pertencentes a vários países do continente: Nigéria, Tanzânia, África do Sul, Argélia, Camarões, Moçambique, Congo, Burkina Fasso, Zâmbia, Madagáscar e Egipto. Perante os conflitos étnicos que dilaceram o continente africano, Bento XVI fez votos de que o próximo Sínodo para a África possa encarar esta grave situação, porventura desenvolvendo aquela “teologia da fraternidade” de que já em 1988 falava o cardeal Gantin. O Papa começou por recordar que o continente africano “foi santificado pelo próprio Senhor Jesus”, pois “no alvorecer da sua vida terrena, tristes circunstâncias fizeram-No pisar o solo africano”. “Deus escolheu o vosso continente para abrigar seu Filho. Através de Jesus, Deus veio ao encontro certamente de todos os homens, mas duma maneira particular do homem africano. A África ofereceu ao Filho de Deus uma terra que O nutriu e uma protecção eficaz. Através de Jesus, já lá vão dois mil anos, o próprio Deus trouxe o sal e a luz à África” Desde então, a semente da presença de Jesus Cristo está enterrada nas profundezas do coração da África e germina pouco a pouco, para além e através dos riscos da história humana do continente. “A África representou uma etapa importante na Encarnação, o primeiro momento da kenose, porque acolheu o abaixamento e o despojamento do Filho de Deus antes de voltar à Terra Prometida. Por causa da vinda de Cristo que a santificou com a sua presença física, a África recebeu um apelo particular para conhecer Cristo. Que os africanos se sintam orgulhosos disso!” Bento XVI considera que, “aprofundando espiritual e teologicamente esta primeira etapa da kenose, o africano poderá encontrar as forças suficientes para enfrentar o seu dia a dia às vezes muito duro; poderá descobrir imensos espaços de fé e de esperança que o ajudarão a crescer em Deus”. Evocando, em breves traços, o lento avançar da evangelização no continente africano, Bento XVI deteve-se especialmente nos últimos dois séculos, quando a África subsaariana viu chegar missionários, homens e mulheres, provenientes de todo o Ocidente, da América Latina e mesmo da Ásia. Prestando “homenagem à generosidade da sua resposta incondicional ao apelo do Senhor e ao seu ardente zelo apostólico”, o Papa quis desde logo referir também “os catequistas africanos, companheiros inseparáveis dos missionários na evangelização”. “Leigos com os leigos, souberam encontrar na língua de seus pais as palavras de Deus que tocaram o coração dos seus irmãos e irmãs. Souberam partilhar o sabor do sal da Palavra e fazer resplandecer a luz dos Sacramentos que anunciavam. Acompanharam as famílias no seu crescimento espiritual, encorajaram as vocações sacerdotais e religiosas, e serviram de ligação entre as suas comunidades e os presbíteros e os bispos. Com naturalidade, realizaram uma eficaz inculturação que deu maravilhosos frutos. Foram os catequistas que permitiram que a luz brilhasse diante dos homens.” Bento XVI propôs-se entretanto adiantar “qualquer reflexão sobre o tema específico da Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, relativo à reconciliação, à justiça e à paz”. A Igreja – sublinhou o Papa – “deve ser uma comunidade de pessoas reconciliadas com Deus e entre si mesmas”, para poder “anunciar a Boa Nova da reconciliação à sociedade actual, que infelizmente conhece, em numerosos lugares, conflitos, violências, guerras e ódio”. A África, aliás, “foi e é ainda triste cenário de graves tragédias que reclamam por uma verdadeira reconciliação entre os povos, as etnias, os homens”. “Que pode haver de mais dramático, no actual contexto sociopolítico e económico do continente africano, do que a luta frequentemente sangrenta entre grupos étnicos ou povos irmãos? (…) Os conflitos locais ou regionais, os massacres e os genocídios que sucedem no continente devem-nos interpelar de maneira muito particular: se é verdade que, em Jesus Cristo, pertencemos à mesma família e partilhamos a mesma vida, dado que, nas nossas veias, circula o mesmo Sangue de Cristo, que fez de nós filhos de Deus, membros da Família de Deus, então não deveria haver mais ódios, injustiças e guerras ente irmãos.” Bento XVI recordou que, “ao constatar o avanço da violência e a aparição do egoísmo em África, o Cardeal Bernardin Gantin, fazia apelo, desde 1988, a uma Teologia da Fraternidade”. Na memória, tinha talvez aquilo que escrevia o africano Lactâncio ao alvorecer do século IV: «O primeiro dever da justiça é reconhecer o homem como um irmão. De facto, se o mesmo Deus nos fez e nos gerou a todos na mesma condição, que aponta para a justiça e a vida eterna, estamos seguramente unidos por laços de fraternidade: quem não os reconhece, é injusto». Recordando a recente Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, o Papa sublinhou que “é a partir desta Palavra que é preciso valorizar as tradições africanas, corrigir e aperfeiçoar a sua concepção da vida, do homem e da família”. “É urgente que as comunidades cristãs se tornem cada vez mais lugares de profunda escuta da Palavra de Deus e de leitura meditada da Sagrada Escritura. É por meio desta leitura meditada e comunitária na Igreja que o cristão encontra Cristo ressuscitado, que lhe fala e devolve a esperança na plenitude de vida que Ele oferece ao mundo.” Bento XVI concluiu rezando com os presentes uma oração invocando Maria, “Protectora da África”.

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