Bento XVI nos Camarões com mensagem de esperança

Papa aponta preocupações da sua viagem: violência, pobreza, tráfico humano, opressão económica ou política Bento XVI chegou esta Terça-feira aos Camarões, etapa inicial da sua primeira viagem ao continente africano, sendo acolhido em clima de festa aeroporto Internacional Nsimalen, de Yaoundé. Na sua intervenção inicial, o Papa apontou como preocupações da sua viagem temas como a violência, pobreza, tráfico humano, opressão económica ou política. Nesse sentido, defendeu que “diante da dor ou da violência, da pobreza ou da fome, da corrupção ou do abuso de poder, um cristão não pode permanecer calado”. Bento XVI disse “não” a “novas formas de opressão económica ou política”, “à imposição de modelos culturais que ignoram o direito à vida dos que ainda não nasceram”, manifestando-se ainda contra “rivalidades interétnicas ou inter-religiosas”. Conflitos locais, prosseguiu, “deixam milhares de pessoas sem tecto e em necessidade, órfãos e viúvas”. O Papa lembrou os muitos habitantes de África “cruelmente raptados e levados além-mar, para trabalhar como escravos”, bem como o tráfico de seres humanos – “especialmente das mulheres e crianças indefesas”, que considerou uma forma moderna de escravatura. “Num tempo escassez alimentar de global , de confusão financeira, de modelos causadores de alterações climáticas, a África sofre desmesuradamente: um número crescente dos seus habitantes sucumbe, vítimas da fome, da pobreza, da doença. Eles imploram em voz alta por reconciliação, justiça e paz, e é isto precisamente que a Igreja lhes oferece”, acrescentou. “Mesmo no meio dos maiores sofrimentos, a mensagem cristã traz consigo a esperança”, assegurou o Papa. “Aqui, em África, como em tantas partes do mundo, incontáveis homens e mulheres desejam ouvir uma palavra de esperança e de conforto”, constatou. Acolhido pelas autoridades civis, religiosas e militares dos Camarões, o Papa ficou longos minutos a saudar e trocar algumas palavras com várias das pessoas que o rodearam desde o primeiro minuto em solo africano – após um período de espera, devido a dificuldades técnicas com a colocação da escada que permitiria a Bento XVI descer do avião da Alitalia. O primeiro discurso papal, o único desta Terça-feira, começou por revelar a “alegria” de Bento XVI nesta sua primeira viagem apostólica até à África, após outras 11 a diversos destinos noutros continentes. “Venho até vós como um pastor, venho para confirmar os meus irmãos e as minhas irmãs na fé”, apontou. Após lembrar a próxima celebração do 50.º aniversário da independência dos Camarões, Bento XVI falou dos Santos que a África deu ao mundo durante os primeiros séculos do cristianismo – “São Cipriano, Santa Mónica, Santo Agostinho, Santo Atanásio, para nomear só alguns” –e do “testemunho” dos mártires e missionários neste “grande continente”, com 150 milhões de fiéis. Prosseguindo o discurso em inglês, depois de ter falado em francês, o Papa recordou a viagem precedente de João Paulo II, que ali promulgou, em 1995, a Exortação Apostólica pós-sinodal “Ecclesia in África” e a sua intenção de entregar nos Camarões o instrumento de trabalho para o segundo sínodo africano. “Vim aqui para apresentar o «Instrumentum laboris» para a Segunda Assembleia Especial, que terá lugar em Roma no próximo mês de Outubro. Os Padres do Sínodo reflectirão, juntos, sobre o tema: «A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz: ‘Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo’ (Mt 5, 13.14)». Quase dez anos depois da entrada no novo milénio, este momento de graça é um apelo a todos os Bispos, presbíteros, religiosos e fiéis leigos do continente para se dedicarem com redobrada força à missão que tem a Igreja de levar esperança aos corações do povo da África e, desse modo, também aos povos de todo o mundo”, apontou. O Presidente da República dos Camarões, Paul Biya, saudou a presença do Papa e falou do seu país como uma “terra sinodal”, dada a importância que tem tido na celebração dos Sínodos para a África. As preocupações da “justiça, da paz e da reconciliação”, presentes na II assembleia sinodal que terá lugar em Outubro, foram apontadas como temas fundamentais para o continente. “Obrigado por ter vindo até nós”, concluiu. O Papa falou dos Camarões como “uma terra de esperança” para a África central, dado que “milhares de refugiados” dos países em guerra ali recebem asilo. Falou ainda de uma “terra de vida”, uma “terra jovem” e uma “terra de paz”, que resolveu “através do diálogo o contencioso na península de Bakassi”. O país foi também descrito como uma “África em miniatura”, pátria de mais de 200 grupos étnicos diferentes, “que vivem em harmonia uns com os outros”. Bento XVI antecipou a sua visita de Quinta-feira ao Centro Cardinal Léger, no qual terá oportunidade de “observar pessoalmente a solicitude pastoral desta Igreja local em favor das pessoas doentes e dos que sofrem”. “É particularmente digno de louvor que os doentes de SIDA neste país sejam tratados gratuitamente”, acrescentou. Em conclusão, o Papa rezou pela Igreja em África e pelos trabalhos da segunda assembleia especial do Sínodo dos Bispos para este continente, que decorrerá em Outubro, no Vaticano. Bento XVI permanecerá três dias nos Camarões, de onde seguirá Sexta-feira para Angola, país em que estará até 23 de Março. Amanhã, Quarta-feira, presidirá a uma Missa privada na Capela da Nunciatura Apostólica, em Yaoundé. Em seguida encontrar-se-á com Paul Biya, no Palácio da Unidade, e terá ainda um encontro com os Bispos do país. Mais tarde, o Papa presidirá na Basílica Maria Rainha dos Apóstolos à oração das I Vésperas da solenidade de São José, com a participação de bispos, sacerdotes, religiosos, seminaristas, diáconos, movimentos eclesiais e de representantes de outras confissões cristãs.

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