Bento XVI lança apelo pela paz em Assis

Papa lembra São Francisco e pede diálogo entre povos e religiões, em especial no Médio Oriente Bento XVI chegou esta manhã à cidade italiana de Assis para comemorar o oitavo centenário da conversão de São Francisco, numa visita que passa por todos os lugares relacionados com este Santo, símbolo da paz e do diálogo inter-religioso. O Papa foi recebido no campo desportivo de Rivotorto pelo primeiro-ministro italiano, Romano Prodi. Antes de ir à basílica de São Francisco de Assis, o Papa visitou os santuários de Rivotorto e São Damião e a Basílica de Santa Clara. Esta “peregrinação espiritual” a Assis é uma tradição começada pelo Beato João XXIII e consolidada por João Paulo II, que visitou a localidade italiana por seis vezes. Logo no início da visita, o Papa esteve em adoração diante da cruz de São Damião, símbolo do momento de viragem na vida do Santo de Assis: Um dia, como fizera tantas vezes, entrou na capelinha solitária de S. Damião para rezar e perguntar: Senhor que queres que eu faça? Do próprio Cristo recebe uma ordem bem precisa: “Francisco, vai e repara a minha casa que, como vês, está quase em ruína”. Segundo o Papa, a figura de Francisco “surge como actual, para nós, a respeito dos grandes temas do nosso tempo, como a paz, a salvaguarda da natureza, a promoção do diálogo entre os homens”. Bento XVI preside neste momento a uma missa na praça da Basílica inferior de São Francisco, depois da qual visitará em privado o túmulo do “Poverello”, como é conhecido na Itália o Santo de Assis. Na sua homilia, perante cerca de duas mil pessoas, o Papa disse que “hoje tudo nos fala de conversão”, colocando em evidência a necessidade de transformação pessoal, no seguimento de Jesus, e a centralidade de Cristo na vida de São Francisco. Bento XVI falou do “espírito de Assis”, particularmente apreciado em todo o mundo desde o encontro inter-religioso convocado por João Paulo II em 1986, mesmo pelos que não se reconhecem na experiência do Cristianismo. Para o Papa, a iniciativa de João Paulo II foi “uma intuição profética” e um “momento de graça”, que lembram a total adesão de Francisco a Cristo e nos levam a “recusar, a priori, qualquer tentação de indiferentismo religioso, que nada teria a ver com o autêntico diálogo inter-religioso”. Antes, no encontro com as monjas clarissas de clausura – que hoje receberam autorização para saírem do Mosteiro – na Basílica de Santa Clara, o Papa referira que a conversão de Francisco “não foi um momento isolado, mas a vida inteira”. “Assis é um ponto de referência interior, que dá força interior”, disse ainda. Apelo pela paz Após a celebração eucarística, na recitação do Angelus, o Papa lançou desde Assis um apelo pela paz em todo o mundo, em especial no Médio Oriente. “Considero como meu dever lançar, desde aqui, um apelo urgente para que cessem todos os conflitos armados que ensanguentam a terra, se calem as armas e, em todo o mundo, o ódio ceda lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a ofensa à união”. Referindo-se, de novo, ao encontro inter-religioso pela paz convocado em 1986 por João Paulo II, em Assis, “lugar da alma”, o actual Papa disse que tinha presente “todos os que choram, sofrem e morrem por causa da guerra e das suas trágicas consequências, em todas as partes do mundo”, com um pensamento particular para o Médio Oriente, mencionando o Iraque e o Líbano. Para o Papa, “infelizmente” os povos desses países conhecem há muito tempo “os horrores dos combates, do terrorismo e da violência cega, a ilusão de que a força pode resolver os conflitos, e a rejeição de ouvir as razões da outra parte e de fazer justiça”. “Só um diálogo responsável e sincero, sustido pelo apoio generoso da comunidade internacional, poderá colocar um ponto final em tanta dor e voltar a dar vida e dignidade a pessoas, instituições e povos”, indicou. O espírito de Assis opõe-se à violência, ao abuso da religião como pretexto para a violência”, disse. “Assis significa que as próprias convicções religiosas e a fidelidade, principalmente a Cristo, não são expressadas com violência e intolerância, mas no respeito pelo outro, no diálogo, na liberdade, na razão e no compromisso pela paz e pela reconciliação”, prosseguiu. Em conclusão, o Papa pediu aos que têm “papéis de responsabilidade” que se sintam “animados por um amor apaixonado pela paz e uma vontade indómita de atingi-la, escolhendo meios adequados para a obterem”.

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