Bento XVI: Entrevistas e respostas a polémicas interromperam silêncio no pós-renúncia

Papa emérito passou últimos anos no Vaticano, sem aparições públicas, com exceção de viagem à Alemanha para despedir-se do seu irmão

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 31 dez 2022 (Ecclesia) – Bento XVI, que faleceu hoje, aos 95 anos teve várias aparições e intervenções públicas após a renúncia ao pontificado, em 2013, com destaque as polémicas sobre a sua resignação.

O Papa emérito, cuja saúde se veio progressivamente a deteriorar, acabou por evitar as aparições públicas desde julho de 2016, mantendo uma vida reservada no Mosteiro ‘Mater Eclesiae’, do Vaticano; em junho de 2020, viria a deslocar-se à Alemanha, para acompanhar o seu irmão, de 96 anos.

Monsenhor Georg Ratzinger faleceu no dia 1 de julho desse ano.

Dois meses antes, chegou ao público uma biografia do Papa emérito Bento XVI, que aborda a vida de Joseph Ratzinger ao longo de mais mil páginas, incluindo uma entrevista inédita que fala em “ditadura mundial” de um credo anticristão.

Em passagens da conversa com o jornalista Peter Seewald, autor de várias entrevistas a Joseph Ratzinger, o Papa emérito alertava para o impacto de “ideologias aparentemente humanistas”, lamentando que alguns o queiram “calar”, fruto de uma “distorção maligna da realidade”.

O livro destaca a amizade do Papa emérito com o seu sucessor, Francisco, sublinhando que apesar de polémicas que os queriam colocar em campos opostos, a relação “não apenas persistiu, como cresceu”.

O mesmo autor assina o livro-entrevista ‘Últimas conversas’, de 2016, com reflexões do Papa emérito sobre a sua renúncia ao pontificado, explicando que esta foi uma decisão amadurecida, que não vê como um “fracasso”.

“Talvez a governação resoluta e clara, bem como as decisões que têm de ser tomadas, não sejam o meu forte. Neste aspeto, sou de facto mais professor, alguém que pondera e reflete sobre os assuntos espirituais”, sublinhou, numa passagem da obra, editada em Portugal pela D. Quixote.

Já a 8 de fevereiro deste ano, Bento XVI divulgou uma carta em que responde às acusações de má gestão de casos de abusos sexuais, enquanto arcebispo de Munique, pedindo perdão a todas as vítimas destas situações.

Em 2018, Bento XVI enviou uma carta ao jornal italiano ‘Corriere della Sera’, na qual falava sobre o “lento declínio das forças físicas” e de um momento de peregrinação interior “para Casa”.

A 1 de março de 2021, o Papa emérito concedeu uma entrevista ao mesmo ‘Corriere della Sera’, na qual rejeitava o que denominou de “teorias da conspiração” sobre a sua renúncia ao pontificado, em fevereiro de 2013.

“Foi uma decisão difícil, mas tomei-a em plena consciência, e creio que fiz bem. Alguns dos meus amigos algo ‘fanáticos’ ainda estão zangados, não quiseram aceitar a minha escolha”, admite.

No 70.º aniversário de sacerdócio, a 29 de junho de 2021, o Papa Francisco agradeceu o testemunho de vida e de oração pela Igreja do seu antecessor: “Obrigado, Bento, querido pai e irmão, obrigado pelo teu testemunho credível, obrigado pelo teu olhar continuamente dirigido para o horizonte de Deus. Obrigado”.

Nessa data foi lançada a obra ‘Bento XVI. Vida e Desafios’ é assinada pelo jornalista Luca Caruso, com prefácio do arcebispo Georg Gaenswein, prefeito da Casa Pontifícia e secretário particular do Papa emérito.

“Não raras vezes, constrói-se uma imagem que não é capaz de mostrar a realidade da pessoa ou da obra, mas apenas uma representação fictícia que serve um propósito específico”, adverte o responsável.

Em 2016, foi Francisco a assinar o prefácio de uma biografia do Papa emérito, ‘Servidor de Deus e da humanidade’ (Mondadori), lançada na Itália.

“Todos na Igreja temos uma grande dívida de gratidão para com Joseph Ratzinger-Bento XVI pela profundidade e o equilíbrio do seu pensamento teológico, vivido sempre ao serviço da Igreja, até às responsabilidades mais elevadas”, escreve.

Nos primeiros anos após a renúncia, a 11 de fevereiro de 2013, o Papa emérito surgiu esporadicamente em público para acompanhar cerimónias presididas por Francisco ou receber homenagens.

A 28 de junho de 2016 fez-se história no Vaticano com o regresso de Bento XVI ao palácio apostólico, para uma homenagem por ocasião do seu 65.º aniversário de ordenação sacerdotal.

Nesse mesmo ano, o Papa emérito veio a público reafirmar que a publicação do chamado ‘Segredo de Fátima’ ficou completa após a divulgação da sua terceira parte, no ano 2000.

Em 2015, o Papa emérito participou na abertura do Jubileu da Misericórdia, atravessando a Porta Santa da Basílica de São Pedro, a 8 de dezembro, e, a 14 de fevereiro, no consistório para a criação de 20 cardeais, incluindo D. Manuel Clemente.

Um ano antes, o consistório de 22 de fevereiro tinha sido a primeira celebração em que Bento XVI surgiu em público junto do Papa Francisco, após ter renunciado ao pontificado em fevereiro de 2013.

O Papa emérito acompanharia Francisco na Missa de canonização dos Papas João XXIII e João Paulo II, num encontro internacional de avós e idosos e, finalmente, na beatificação do Papa Paulo VI, a 19 de outubro de 2014.

OC

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Agência ECCLESIA

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