Bélgica: Papa denuncia primado do mercado, que destrói pessoas e natureza

Francisco foi questionado por estudantes da «UCLouvain» sobre o papel das mulheres na Igreja

Foto: Lusa/EPA

Lovaina, Bélgica, 28 set 2024 (Ecclesia) – O Papa denunciou hoje o que denominou de “espiritualidade do mercado”, que devasta pessoas e a natureza, falando na Universidade Católica de Lovaina-UCLouvain, que celebra 600 anos

“Temos de ir à fonte do problema, que é o coração humano. É também daí que vem a urgência dramática da questão ecológica: da indiferença arrogante dos poderosos, que colocam sempre os interesses económicos acima de tudo”, disse a estudantes e docentes universitários.

Segundo Francisco, sem mudança de paradigma, “todos os apelos serão silenciados ou serão acolhidos apenas na medida em que forem convenientes para o funcionamento do mercado”.

“Enquanto o mercado estiver em primeiro lugar, a nossa casa comum sofrerá injustiças”, advertiu.

Na visita conclusiva do programa de sábado, penúltimo dia da viagem ao Luxemburgo e Bélgica, iniciada esta quinta-feira, o Papa assinalou “como é violento e arrogante o mal que destrói o meio ambiente e os povos”.

“Parece não ter limites. A guerra é a sua expressão mais brutal, tal como a corrupção e as formas modernas de escravidão”, lamentou.

Francisco admitiu que, por vezes, “estes males contaminam a própria religião, tornando-se um instrumento de domínio”.

“Isto é uma blasfémia”, advertiu.

O Papa falou da relação entre Cristianismo e ecologia, agradecendo a Deus “pelo céu estrelado e pela vida no Universo”.

“Estamos no mundo para preservar a sua beleza e cultivá-la a bem de todos, especialmente da posteridade, dos vindouros. Este é o programa ecológico da Igreja”, precisou, com um apelo a rejeitar “qualquer forma de opressão e de descarte”.

O encontro decorreu na Aula Magna da UCLouvain, após o acolhimento da reitora da instituição e do reitor da Universidade KULeuven, que o Papa visitou na sexta-feira.

Francisco viu uma projeção em vídeo sobre a proteção do ambiente e ouviu uma carta lida por vários alunos, nos quais estes sublinhavam que “o apelo ao desenvolvimento integral parece incompatível com as posições sobre a homossexualidade e o lugar das mulheres na Igreja Católica”.

“Caro Papa Francisco, onde é que encontra o lugar das mulheres na Encíclica? As mulheres estão claramente ausentes da ‘Laudato si’”, questionaram.

A intervenção criticou ainda uma teologia que “exalta o papel maternal” das mulheres e “proíbe o seu acesso aos ministérios ordenados.

Francisco respondeu, no seu discurso, assumindo a posição católica sobre o papel das mulheres na Igreja foi marcado pela “violência e a injustiça, juntamente com os preconceitos ideológicos”.

“A Igreja é o povo de Deus, não uma empresa multinacional. A mulher, no povo de Deus, é filha, irmã, mãe. Tal como eu sou filho, irmão, pai. São relações que exprimem o nosso ser à imagem de Deus, homem e mulher, juntos, não em separado”, indicou.

O Papa condenou “dicotomias ideológicas” sobre estas questões, convidando todos a partir da “dignidade comum e partilhada” entre homens e mulheres.

“Não um contra o outro, isso seria feminismo ou machismo”, observou.

A reflexão destacou ainda a importância de valorizar o estudo em função do “bem comum”, sem transformar os estudantes e a sua futura vida profissional em “mercadoria”.

Françoise Smets, reitora da UCLouvain, explicou ao Papa que os membros da comunidade universitária prepararam esta visita com um trabalho em torno de cinco temas: “as raízes filosóficas e teológicas da crise climática, o lugar das emoções e do empenhamento, a questão das desigualdades, o lugar das mulheres e as atitudes de sobriedade e solidariedade face à emergência climática”.

No final, depois de se associar, simbolicamente, à “Árvore dos Desejos”, que vai inspirar a carta comemorativa dos 600 anos da Universidade, Francisco deslocou-se ao terraço em frente à Aula Magna, para saudar a multidão, que foi cumprimentar de perto num carrinho de golfe, durante vários minutos.

Ainda esta tarde, o Papa visita o Colégio de São Miguel, para um encontro privado com os membros da Companhia de Jesus (Jesuítas).

A viagem encerra-se no domingo, pelas 10h00 locais (menos uma em Lisboa), com a Missa de beatificação de Ana de Jesus, no Estádio Rei Balduíno, perante cerca de 35 mil pessoas.

Desde a sua eleição, em 2013, o atual pontífice fez 46 viagens internacionais, tendo visitado 67 países, incluindo Portugal (2017 e 2023).

OC

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Agência ECCLESIA

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