Beja revela os seus tesouros artísticos em Espanha

Diocese leva à Expo 2008, que está a decorrer em Saragoça, a exposição de arte sacra «Um rio de água pura» Indispensável para a vida, a água constitui, na sua relação com o desenvolvimento sustentável, o tema fundamental da Expo Zaragoza 2008. Em torno desta problemática são muitas as iniciativas que a comissão internacional da Expo, encabeçada pelo rei e pelo governo espanhóis, decidiu acolher e tornar acessíveis ao vastíssimo número de visitantes de Zaragoza – mais de um milhão só nos primeiros dias. Portugal é um dos países em destaque, assumindo especial ênfase, nos meses de Julho e Agosto, a região do Baixo Alentejo, escolhida para representar o nosso país no âmbito da cultura. A convite das autoridades aragonesas, vai ter lugar a inauguração, no próximo dia 18 de Julho, em Borja – Zaragoza, da exposição Um Rio de Água Pura – Arte Sacra do Sul de Portugal, iniciativa fundamental no âmbito da estratégia de irradiação da Expo 2008. Organizada pelo Departamento do Património Histórico e Artístico (DPHA) e pelo Centro de Estudios Borjanos da Diputación de Zaragoza e do Consejo Superior de Investigaciones Científicas, com o apoio dos municípios de Beja e Borja e a colaboração de um amplo conjunto de entidades nacionais e regionais, esta iniciativa dá a conhecer as profundas relações entre a água e a vida religiosa. Fá-lo através de um percurso que se estende da Idade Média até ao século XX e integra obras de arte provenientes de igrejas, conventos e museus da região de Beja. Ao contrário de outras iniciativas associadas à Expo Zaragoza 2008, que se centram exclusivamente no recinto das margens do Ebro, a exposição portuguesa está distribuída em três núcleos que correspondem a monumentos notáveis da estrutura urbana de Borja: o Museu Arqueológico, o Palácio de Aguilar e o Museu da Colegiada de Santa Maria, o que permite uma articulação espacial muito interessante. Leitura plástica e teológica Um Rio de Água Pura – Arte Sacra do Sul de Portugal recorre ao elemento aquático como alegoria da existência humana para apresentar uma síntese das tradições religiosas mais profundas do Baixo Alentejo a partir da leitura plástica e teológica de realidades que fazem parte do cerne do Cristianismo, como a fé, o mistério da Encarnação, o culto eucarístico, a vivência do ano litúrgico e a devoção aos santos. Não deixa, porém, de traduzir as características muito próprias da espiritualidade alentejana, em particular o fervor que rodeia a Paixão de Jesus Cristo e o apego a Nossa Senhora, matrizes de fortes ressonâncias místicas, bem enraizadas na piedade fortemente “antropológica” das gentes do Sul. Outros aspectos merecedores de referência no percurso expositivo são os contactos culturais com a Europa e o Oriente, o gosto pela sumptuosidade – “nada é demais para Deus”, segundo se diz ainda hoje nos meios populares –, bem evidente no entusiasmo pelas cores vibrantes e pelas superfícies douradas, e o diálogo artístico com diferentes regiões peninsulares, desde a Andaluzia até ao Levante. Novidades A exposição traz importantes novidades no âmbito do estudo do património cultural peninsular. Uma das peças mais extraordinárias é o raro fragmento têxtil do século XIV que figura, em dois painéis sucessivos, o Baptismo de Cristo e o Diálogo de Cristo com a Samaritana junto ao poço de Jacob, introduzindo com grande brilho artístico a simbologia da água. O Ecce Homo do convento da Conceição de Beja, obra-prima da pintura portuguesa dos finais da Idade Média, evoca um motivo só conhecido no nosso país e que junta à expressão devocional o interesse pela alquimia. No âmbito da escultura sobressai um conjunto invulgar de imaginária destinada aos altares, com realce para o São Pedro, de Machado de Castro, encomendado pelo primeiro bispo de Beja, D. Fr. Manuel do Cenáculo, em 1788. Pertence ao núcleo de ourivesaria, porém, a obra que mais interesse está a despertar na opinião pública espanhola: a cabeça-relicário de São Firmino. Não se conhece outra cabeça deste bispo e mártir, patrono de Pamplona, cujas festas taurinas são célebres. Este facto, ignorado até agora, despertou já o interesse do governo de Navarra, do município e da arquidiocese pamplonenses, que irão prestar especial homenagem ao seu santo protector no decurso da exposição.

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