Colégio Nossa Senhora da Graça acolhe 66 pessoas e acompanha 32 , de forma externa, «porque já não tem espaço para mais»
Vila Nova de Milfontes, 23 mar 2022 (Ecclesia) – O Colégio de Nossa Senhora da Graça, em Vila Nova de Milfontes, acolhe desde 3 de março mães vindas da Ucrânia, acompanhadas pelos seus filhos, num esforço que vai marcar a comunidade, procurando a sua integração.
“Este acolhimento vai marcar de forma positiva esta população. As crianças são quem melhor acolhe, integra e transmite para toda a sociedade, sobretudo para os seus pais, o que é ser criança, jovem e adulto numa sociedade em movimento. E esta população quer marcar com respostas de caridade cristã, não apenas de solidariedade”, disse à Agência ECCLESIA o padre Manuel Pato, diretor do Colégio e pároco de Odemira, Diocese de Beja.
O estabelecimento acolhe atualmente nas suas instalações 17 famílias, entre 42 crianças acompanhadas por 24 adultos, mas presta assistência a 32 pessoas, que já não pode acolher nas instalações; o responsável adianta que a toda a hora o número se altera e informa que para amanhã está prevista a chegada de mais pessoas.
A primeira família chegou no dia 3 de março, “eram 16h43”, indica o responsável que não esquece a hora em que conheceu Anna Ovcharova, e os seus filhos Nikita e Makei, que depois de “seis ou sete dias de viagem”, chegaram, “sem saber onde”, num “estado de cansaço emocional”, “trazidos por uns amigos distantes” que os deixaram no Colégio.
Desde 2000, o concelho de Odemira tem sido região de acolhimento da comunidade ucraniana, que atualmente contabiliza cerca de 500 pessoas ali residentes, e que hoje procuram acolher e ajudar os cidadãos que fogem da guerra na Ucrânia.
“Nos últimos 12 anos, em que sou pároco de Odemira tenho contacto com esta comunidade que quase gritou para ajudar no acolhimento dos que estavam a fugir da guerra”, indica o sacerdote.
A primeira resposta que o Colégio deu foi o acolhimento, o “dar tranquilidade e paz, conforto e habitação” e posteriormente tratar da documentação ao mesmo tempo que se providencia a satisfação das necessidades essenciais, como a alimentação, o vestuário e, no caso do Colégio, a inscrição das crianças na escola.
O padre Manuel Pato fala no trabalho concertado que está a ser feito, com o Alto Comissariado para as Migrações, com as autoridades locais, a autarquia, a autoridade de saúde, articulando entre todos para “responder rapidamente para que as pessoas que chegam, destruídos interiormente, encontrem um lugar de paz e tranquilidade” onde possam pensar “refazer a sua vida ou pensar no regresso ao seu país”.
O diretor informa estarem habituados ao acolhimento, uma vez que o Colégio acolhe 21 nacionalidades e indica serem as crianças que procuram “de forma extraordinária” integrar quem chega.
“A resposta dos pais, dos professores, das pessoas do concelho de Odemira que nos têm ajudado com alimentos, roupa e calçado para o que são as necessidades básicas tem sido extraordinária”, reconhece.
No entanto, indica o responsável, os custos são elevados e se não querem fechar a porta ao acolhimento, necessitam de ajuda para “continuar a ajudar”.
“Como Igreja não fechamos as portas a ninguém e procuramos respostas junto de outros serviços que estão a acolher, mas precisamos de ajuda para podermos continuar a ajudar, porque os custos são muito elevados. Vivemos muito longe dos serviços centrais, onde precisamos de nos deslocar para tratar da documentação, o que implica deslocações a Lisboa ou a Évora e estamos a fazer todo esse serviço, para além da alimentação, luz e gás, a que se junta o material escolar para as crianças – cadernos, livros e restante material. Pedimos a ajuda a sociedade a que possa colaborar”, alerta.
A reportagem é um dos destaques da emissão desta quarta-feira do Programa ECCLESIA, na RTP2.
LS