«Temos pela frente um trabalho bastante árduo para construir relações, construir redes, para ter uma complementariedade de recursos logísticos, financeiros e humanos» – Márcio Guerra
Beja, 18 nov 2022 (Ecclesia) – A Cáritas Diocesana de Beja apontou a desafios “imensos” na resposta à crise social e identificou diversas prioridades, na conferência ‘Sem-Abrigo – Quais os desafios e qual o papel dos organismos públicos’, realizada esta quinta-feira.
“Se há alguma conclusão que saiu da conferência é que os desafios são imensos, os recursos são limitados, as parcerias são inexistentes, e temos pela frente um trabalho bastante árduo para poder construir relações, para poder construir redes, para ter uma complementaridade de recursos logísticos, financeiros e humanos que permitam dar reposta àquilo que é atualmente uma realidade do nosso Concelho de Beja, que é um aumento significativo do número de pessoas em situação de sem-abrigo”, disse hoje Márcio Guerra à Agência ECCLESIA.
O técnico da Cáritas Diocesana de Beja, e responsável pelo Setor da Comunicação desta instituição, contextualiza que a problemática das pessoas em situação de sem-abrigo “tem vindo a agudizar-se” nos últimos três anos nesta região, que originou o novo Projeto ‘Estou tão perto que não me vês’, apesar de terem a funcionar uma resposta para acolhimento, desde 2014.
Em 2020, a organização identificou 88 pessoas em situação de sem-abrigo, mas, de janeiro a outubro deste ano, já foram sinalizadas 279 pessoas nesta situação no concelho de Beja.
Márcio Guerra observa que nestes números há uma realidade relacionada com a migração, pessoas de outras nacionalidades que procuram encontrar “melhores condições de vida”, mas há quem fique “dependente” do que chamam de “organizações de angariação de mão-de-obra” e alguns terminam “numa situação bastante vulnerável”.
“Estão identificadas 56 pessoas de nacionalidade portuguesa, mas este número será muito superior. Temos nos diversos serviços da Cáritas, sobretudo ao nível do atendimento e acompanhamento social, uma noção que nos preocupa de famílias que estão com ações de despejo”, alertou.
O técnico da Cáritas Diocesana destacou que existem diversos desafios como a “ausência de resposta e de equipamentos de emergência” para o número de pessoas em situação de sem-abrigo em Beja, não existe um Centro de Alojamento de Emergência Social, nem nenhum Centro de Alojamento Temporário.
O trabalho em rede e a constituição de um NPISA são desafios, e este responsável, adiantou que “há um compromisso” para que seja construído um Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo, bem como o acesso aos “cuidados de saúde através do Serviço Nacional de Saúde” (SNS), e Márcio Guerra realçou que “grande parte desta população não tem médico de família, número de SNS, sobretudo os migrantes, documentação de regularização em Portugal”, mas tem uma “taxa muito baixa no acesso aos cuidados primários”.
Neste sentido, sugere ainda o desafio da “sensibilidade dos serviços públicos para o atendimento” das pessoas em situação de sem-abrigo – como na Segurança Social, nas Finanças, Lojas do Cidadão, para que “não seja baseado em preconceitos ou estereótipos” – e da sociedade em geral para a existência destas pessoas.
O entrevistado salienta que a conferência “não teve um objetivo de tirar conclusões”, mas criar pontes, reflexão, pensamento para em conjunto poder “dar resposta aos desafios”, e adianta que, em 2023, vão realizar uma segunda edição, onde já poderão “fazer um balanço” relativamente àquilo que identificaram e querem “projetar para o futuro”.
A Conferência ‘Sem-Abrigo – Quais os desafios e qual o papel dos organismos públicos’ realizada esta quinta-feira, na Biblioteca Municipal José Saramago, no âmbito do VI Dia Mundial dos Pobres 2022, que a Igreja Católica celebrou no domingo, dia 13 de novembro, teve reflexões de Isaurindo Oliveira, presidente da Cáritas diocesana, Maria do Carmo, Filipe Duarte, Maria Filomena Mendes, Marisa Saturnino, Sérgio Fernandes e Rita Valadas, a presidente da Cáritas Portuguesa.
Em declarações à Agência ECCLESIA, Maria do Carmo, coordenadora do ‘Estou tão perto que não me vês’, realça que a reflexão “foi muito importante”, para além de darem a conhecer o projeto, que vai terminar em dezembro de 2023, à população em geral e a outros serviços em Beja, “para que também possam sinalizar e encaminhar” pessoas que precisam de apoio.
CB/OC