Beja: Cáritas Diocesana alerta para aproveitamento de vulnerabilidade de migrantes que enfrentam problemas de habitação, de emprego e legalização

Presidente da instituição em Beja faz retrato da diocese, a poucos dias da entrada do novo bispo, D. Fernando Paiva

Isaurindo Oliveira
Foto: Agência ECCLESIA/HM

Beja, 04 jul 2024 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Diocesana de Beja alertou para os problemas na habitação e emprego que atingem os migrantes na diocese, a que se junta a barreira linguística, um obstáculo que propicia o aproveitamento das suas vulnerabilidades.

“É um problema que tem a ver com o desenvolvimento agrícola desta zona, foi um desenvolvimento muito rápido e, portanto, com o tipo de culturas a exigir mão de obra muitíssimo grande […] deu origem à entrada de migrantes”, explica Isaurindo Oliveira, em declarações à Agência ECCLESIA, apontando este como um dos problemas da diocese, a poucos dias da ordenação do novo bispo de Beja.

O responsável descreve os principais desafios enfrentados pela diocese, numa altura de transição, em que no próximo domingo, dia 7 de julho, decorre a tomada de posse e ordenação de D. Fernando Paiva, 15ºbispo de Beja, que sucede no cargo a D. João Marcos.

“Desenvolvem-se aqui determinadas condições em que as pessoas vivem muitíssimo mal. Depois tem os problemas com a língua, que é outro dos problemas que leva a que a vulnerabilidade dessas pessoas seja potenciada ao máximo”, evidencia o presidente da Cáritas Diocesana de Beja, sobre os migrantes.

A esta conjuntura alia-se “o oportunismo de muitos agentes, no sentido de facilitarem ou ajudarem a facilitar os processos de legalização, que muitas das vezes e que na maioria dos casos poderiam ser gratuitos, e que as pessoas são obrigadas a pagar pequenas fortunas”.

Isaurindo Oliveira denuncia também os contratos de trabalho por empresas prestadoras de serviços, “que se formam na hora e que desaparecem na mesma hora”, e que conduzem ao trabalho precário.

“Isto depois é uma bola de neve. Isto cria problemas de falta de liquidez nas pessoas, falta de pagamento, o que leva a que estas pessoas passem à posição de sem-abrigo”, refere.

Odemira
Foto: Lusa

Sobre a exploração de migrantes em agriculturas intensivas, o presidente da Cáritas de Beja diz que este é “um problema permanente” e “crescente”, mas que ainda não atingiu o seu auge.

“As estufas aqui não existem, portanto as estufas estão essencialmente na parte de Odemira, no sudoeste, etc. Aqui temos a grande propriedade, nomeadamente com os olivais e a amêndoa, que são aqui os grandes necessitados de mão de obra, este perímetro do Alqueva, neste caso, ainda não atingiu o seu auge”, realça.

Isaurindo Oliveira destaca que estes são “problemas que vão persistindo” e que “ao serem culturas permanentes, mesmo que se atinjam o auge, as necessidades vão continuar”.

Para minorar estes problemas, Isaurindo Oliveira considera que a legalização dos migrantes é um meio, já que “todas as pessoas merecem o mínimo de dignificação”.

“Não são cidadãos de segunda”, sublinha, ressaltando que este “é um bom negócio para o Estado português em termos de segurança social, porque o volume de dinheiro que é pago é muitíssimo superior àquilo que é utilizado nos pagamentos de subsídios”.

O contributo dos migrantes para a segurança social é muitíssimo maior do que aqueles benefícios que eles têm, porque eles muitas das vezes desconhecem, inclusivamente, quais são os seus benefícios”, frisou.

Par o responsável, a “falta de dignificação” e a “utilização destas pessoas vulneráveis é qualquer coisa de abominável”.

A falta de respostas ao fluxo migratório em Beja não é a único dos desafios na diocese, que se carateriza por ter uma população envelhecida, que vive isolada.

“Depois há problemas de saúde mental, porque muitas das pessoas que aparecem, muitas das vezes, principalmente no centro de alojamento de emergência, são problemas dessa natureza, problemas com o álcool, com danos extremamente graves nesta situação”, indica.

Como resposta aos problemas da diocese, a Cáritas de Beja desenvolve o projeto agrícola “Horta – Nova Esperança”, na senda da carta encíclica Laudato si’, pretendendo dar competências a pessoas em “situação de vulnerabilidade e exclusão social”.

“O objetivo daquele projeto, desta valência, que é a comunidade terapêutica, é, essencialmente, a tentativa de estabilização, recuperação dessas pessoas para depois as poder, enfim, encaminhar outra vez para a sociedade”, explica.

PR/LJ/OC

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