Beja: D. João Marcos diz que diocese precisa de «rejuvenescimento»

Responsável encerra percurso de quase dez anos no Baixo Alentejo, assumindo dificuldades provocadas pela falta de recursos e problemas de saúde

Foto Agência ECCLESIA/PR, D. João Marcos

Beja, 04 jul 2024 (Ecclesia) – D. João Marcos, que este domingo se despede da Diocese de Beja, após quase uma década de serviço episcopal no Baixo Alentejo, disse à Agência ECCLESIA que a Igreja neste território precisa de “rejuvenescimento”.

“Há sectores que verdadeiramente precisam de um rejuvenescimento, que eu também, pelos problemas de saúde, não pude dar”, refere o responsável católico.

A 21 de março deste ano, o Papa aceitou a renúncia apresentada por D. João Marcos ao cargo de bispo de Beja, nomeando como novo bispo da diocese D. Fernando Paiva, do clero de Setúbal.

A tomada de posse e ordenação episcopal do novo bispo vai ser celebrada este domingo, pelas 17h00, na Catedral de Beja.

D. João Marcos, que completa 75 anos a 17 de agosto, era bispo de Beja desde 3 de novembro de 2016, dia em que sucedeu a D. António Vitalino, após ter sido nomeado por Francisco como coadjutor da diocese alentejana a 10 de outubro de 2014.

“Deixo uma diocese pobre. Pobre de gente, digamos, também pobre de recursos. Deixo uma diocese que está a reencontrar-se”, refere o responsável.

O bispo emérito assinala a persistência de problemas com imigrantes, explorados do ponto de vista laboral.

“Neste momento, esse problema está em todo o Alentejo”, adverte.

D. João Marcos elogia o trabalho desenvolvido pela Cáritas Diocesana de Beja, num esforço “reconhecido no país todo”.

Quanto à comunidade católica, o responsável diz que falta uma “iniciação cristã séria”, acrescentando que, no território diocesano nunca encontrou “má vontade” em relação à Igreja.

“A Igreja, seja qual for o partido que está no poder, é respeitada e é ajudada por todos”, acrescenta.

Além dos problemas de saúde que o afetaram, o bispo emérito considera que a falta de recursos económicos e humanos retirou “condições para trabalhar mais na evangelização”.

Foto Agência ECCLESIA/PR, D. João Marcos

O balanço dos anos em Beja aponta ainda ao trabalho desenvolvido na área do património e dos assuntos económicos.

“Interpretei, e na prática aconteceu, que o meu papel era limpar a diocese”, sustenta.

O entrevistado refere que a Constituição Sinodal, lançada em 2017 após o Sínodo Diocesano lançado pelo seu predecessor, D. António Vitalino, é um documento “fundamental para a vida da Igreja no Baixo Alentejo”.

Quanto ao seu sucessor, D. Fernando Paiva, o responsável fala num homem “cheio de amor à Igreja e muito competente, com muitas qualidades”.

“Penso que é o bispo que fazia falta aqui, agora”, indica.

Beja tem cátedra episcopal desde o ano 531(então Pax Julia), sendo seu primeiro bispo histórico Santo Apríngio; em 754 esta cátedra desapareceu, tendo a diocese sido restaurada em 1770, pelo Papa Clemente XIV, sendo o primeiro bispo da diocese D. Frei Manuel do Cenáculo.

Com cerca de 12 300 km2, é a segunda diocese mais extensa de Portugal, englobando 14 concelhos do distrito de Beja e os de Grândola, Santiago do Cacém e Sines, do distrito de Setúbal.

D. João Marcos destaca a diversidade territorial da diocese, do Baixo Alentejo à margem esquerda do Guadiana, chegando ao litoral alentejano, admitindo uma “redistribuição” entre as dioceses de Setúbal, Beja e Évora.

Foto Agência ECCLESIA/PR, D. João Marcos

Quanto ao futuro, o bispo emérito decidiu regressar ao Lisboa, onde foi ordenado, para trabalhar na área dos seminários e “voltar aos pincéis”, como pintor.

D. João Marcos é natural da Diocese da Guarda; frequentou os seminários do Patriarcado de Lisboa, sendo ordenado sacerdote a 23 de junho de 1974 por D. António Ribeiro; a ordenação episcopal aconteceu a 23 de novembro de 2014, sob a presidência de D. Manuel Clemente.

Pároco entre 1974 e 2002 e membro do Conselho Pastoral do Patriarcado de Lisboa a partir de 2001, foi nomeado cónego da Sé de Lisboa em 2003; fez várias experiências de itinerância como membro do Caminho Neocatecumenal, nomeadamente em Évora (1981-1983), em Dublin (1984) e em Porto Velho, Manaus e Belém do Pará (Brasil, 1985).

Os temas da formação sacerdotal e da representação iconográfica da Liturgia da Bíblia preenchem as principais publicações da autoria de D. João Marcos.

PR/OC

 

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