Beber na Fonte de Taizé

Tony Neves

Oração. Comunidade. Sinos. Partilha. Encontro. Natureza. Simplicidade. Voluntariado. Alegria. Cânticos. Silêncio…São algumas das palavras que ecoam no coração de quem passa uma Semana Santa em Taizé, esta ‘colina da Paz’ situada na Borgonha, não muito longe de Lyon, na França. Eram 5 mil jovens, 500 portugueses, em manhã de Páscoa.

Foi nesta aldeia que o Irmão Roger fundou uma comunidade monástica que acolhe, ano após ano, dezenas de milhar de jovens (e menos jovens) das origens mais diversificadas, mas todos à procura de um sentido para a sua vida. O ‘fenómeno Taizé’ assenta num estilo de oração meditativa enraizada no canto e no silêncio. Foi lá que um grupo de Jovens Sem Fronteiras viveu a Semana Santa e a Páscoa.

 

A Comunidade

São cerca de 100 Irmãos, vindos de 30 países. Pertencem a diversas Igrejas Cristãs e vivem em contexto ecuménico. Há Fraternidades na Coreia do Sul, no Bangladesh, no Brasil, no Senegal e no Quénia. Vivem do seu trabalho, de forma simples, acolhendo jovens e menos jovens que pretendam fazer uma experiência de espiritualidade. Organizam as ‘Peregrinações de Confiança sobre a Terra’ e os Encontros Continentais de Taizé. Alguns irmãos têm a missão de fazer visitas através do mundo para partilhar a experiência orante e ecuménica de Taizé.

 

Quem vem a Taizé?

O Irmão John tenta responder: jovens e menos jovens de todo o lado, com caminhadas eclesiais muito diversas, mas todos á procura de aprofundar a sua fé ou o sentido da sua vida. Uns chegam por ‘contágio’, outros por ‘curiosidade’. Querem, como sugeriu João Paulo II, beber da ‘fonte’, para saciar a sede de Deus e de reconciliação e, desta forma, continuar o seu caminho.

 

Ao toque dos sinos… a Oração

Em Taizé são os sinos quem comanda o ritmo do dia a dia. Ou melhor, é a oração. Às 8h15, às 12h30 e às 20h30, tudo para em Taizé e todos os caminhos vão dar á grande Igreja da Reconciliação. Sentados no chão, os jovens vão, em silêncio, esperando a chegada dos Irmãos. Tudo o que se faz em Taizé encaixa-se neste ritmo e neste horário. Quem vai a Taizé sabe que, nestas horas, não há mais nada, porque na Igreja se vive o essencial. A Oração é a alma, o coração da vida desta Comunidade e de quantos com eles partilham uns dias de vida.

A oração segue a tradição monástica, com textos bíblicos, cânticos simples, preces e silêncio. O que mais impressiona e deixa marcas é sentir a serenidade e profundidade de alguns minutos em que estamos num Igreja cheia de jovens sentados, onde se escuta apenas a voz interior do silêncio.

Na Igreja tudo é simples: os jovens sentam-se no chão, a decoração é feita de ícones espalhados pelas paredes e, no fundo, estão aqueles panos laranja que lembram uma tenda, há tijolos no chão e há velas acesas. Tudo tão simples, tão denso e tão belo.

 

Simplicidade

É uma imagem de marca de Taizé. Os jovens chegam á colina vindos de sociedades e famílias onde a abundância e o desperdício são habituais, mas ali há uma aposta clara no essencial: o alojamento em camaratas ou tendas; a alimentação simples, servida ao ar livre e tendo como apoios um prato, uma malga e uma colher; uma Igreja onde não há bancos; reflexões e workshops ao ar livre ou em espaços cobertos. Há um esforço de concentração no que é fundamental: a relação com Deus, a fraternidade e espírito de partilha entre todos.

Ali todos se entendem. O ‘babel’ da confusão, cedo dá lugar ao ‘Pentecostes’ de todas as línguas. O grito pascal ‘Cristo ressuscitou verdadeiramente’, dito pelo prior em todas as línguas dos participantes (quase 30 em 2011), mostra a riqueza da diversidade e como é simples partilhar a vida mesmo quando a nossa língua e a nossa Igreja são diferentes das dos outros com quem partilhamos alguns dias de vida.

 

Voluntariado

Taizé não tem funcionários. Tem a Comunidade dos irmãos, tem voluntários permanentes e conta com a colaboração de quantos ali estão. Assim se garante o acolhimento, a limpeza e manutenção de todos os espaços, a confeção e distribuição dos alimentos, a realização dos encontros temáticos e workshops, a acomodação e manutenção de um ambiente de silêncio na Igreja, a disciplina em todos os espaços e apelo ao cumprimento dos horários (levantar, deitar, participação nas orações, trabalhos de grupo de reflexão…). Também são os voluntários que asseguram o funcionamento do ‘Oyak’, um espaço de confraternização onde se pode comprar alguns bens alimentares e onde se pode cantar, dançar, beber um café ou até uma cerveja.

São os voluntários, como extensão da Comunidade, quem permite o funcionamento das atividades a preços tão baixos, fazendo uma experiência gratificante de serviço aos outros.

 

Partilha com alegria

A partilha faz-se nos pequenos grupos de reflexão, nas filas para as refeições, nos momentos livres, no Oyak. Faz-se a partir dos textos escolhidos da Bíblia e das Cartas do Prior da Comunidade (este ano o irmão Alois escreveu a Carta do Chile). Sempre com um sorriso nos lábios. Mesmo quando se mandar fazer silêncio na Igreja, se vai mandar deitar os que fazem confusão à noite ou levantar os que parecem não alinhar na Oração ou Reflexão, sempre se adverte de forma simpática e sorridente. A última Carta de Taizé tem por título: ‘Uma opção pela Alegria’, focada na alegria de viver que deve caracterizar os cristãos.

 

Semana Santa e Páscoa

É especial na Colina de Taizé. Eram 3 mil a que se juntaram mais 2 mil para a Páscoa. A oração marca o ritmo, mas são importantes os tempos de reflexão com um Irmão e, depois, em pequenos grupos.

Na Quinta Feira Santa houve a Eucaristia do Lava-Pés. A Sexta-Feira foi marcada pelo respeito pela morte de Cristo. Às 15h tocaram os sinos e tudo parou num silêncio que invadiu a colina. Neste dia o Oyak fechou e a Adoração da Cruz durou até às 6h30 da manhã de sábado, sempre com fila de jovens à espera da oportunidade de tocar na cruz e rezar.

A grande festa da Luz e da Ressurreição foi a Eucaristia do Domingo de Páscoa que terminou com o grito ‘Cristo Ressuscitou Verdadeiramente’, proclamado em todas as línguas dos participantes na Celebração.

 

Irmão Alois, Prior

Foi o sucessor do irmão Roger como Prior desta Comunidade. Alemão de origem católica, dá continuidade às grandes intuições do Fundador. Na sua Mensagem de Páscoa, lida na Terça-Feira Santa, na véspera de partir para Moscovo, onde viveu a Páscoa em contexto Ortodoxo, O irmão Alois falou da importância simbólica desta ‘Peregrinação a Moscovo’ com 240 jovens de 26 países. Partilhou o seu encontro com Bento XVI que lhe disse que era muito importante o que se faz em Taizé e considerou o irmão Roger um ‘homem santo’. Convidou todos os jovens a participar no Encontro de fim de ano que se vai realizar em Berna.

 

E depois de Taizé?

Depois, foi a alegria associada às lágrimas do adeus, ou melhor, do ‘até breve’, pois Taizé continua, nas Igrejas locais, nas vidas de cada um. Na hora do regresso, os jovens são convidados a continuar a aprofundar esta dupla amizade a Deus e a todas as pessoas. Taizé pretende promover a criação de uma rede de amizade que ajude a construir a unidade dos cristãos e seja um sinal de paz para um mundo tão injusto e tão dividido.

Os irmãos de Taizé estarão nas Jornadas Mundiais da Juventude, em Madrid, de 15 a 20 de agosto, na Basílica Hispano-Americana de la Merced, próximo do Paseo de la Castellana (Metro: Nuevos MInisterios).

Tony Neves

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