Basta não ser contra

Paulo Rocha, Agência ECCLESIA

A palavra “geringonça” tem de ser chamada para este artigo (poderia até estar no título, com o risco de gerar curiosidade que a leitura das linhas que se seguem iria desapontar). E só para referir uma circunstância do atual quadro da governação em Portugal que, entre otimismos exagerados ou moderados, tem permitido, até agora, resolver conflitos sociais e laborais sem que se siga, por princípio ideológico, a via do confronto. Tanto em debates como nas ruas.

De facto, a necessidade de equilíbrio parlamentar faz com que, com mais ou menos tensão, as forças que o garantem o repliquem em diferentes contextos laborais, económicos, sociais, nomeadamente no que se relaciona com o papel de forças sindicais. O que tem dado à narração da história na atualidade duas caraterísticas, mesmo com o risco de que amanhã possa vir a ser recontada: acontece genericamente num ambiente pessoal e socialmente positivo; e conhece estratégias de diálogo que possibilitam a resolução de conflitos sociais e laborais que estariam na origem de um clima de crispação, não política, mas de toda a sociedade.

A atual composição parlamentar comprova que ajuda muito “não ser contra” para que um projeto se possa desenvolver. De facto, quando qualquer oposição não existe apenas para “ser contra”, meio caminho está feito. E ainda mais quando se evita o “ser contra” apenas por questões ideológicas.

Mais do que analisar resultados ou consequências do atual quadro político, o recurso ao que dele decorre tem apenas o objetivo de fixar a convicção de que, por vezes, “basta não ser contra” para dar brilho, cor, alegria e vida a muitos projetos, iniciativas criativas, vontades empreendedoras. Tanto em ambientes profissionais como pastorais.

Dois exemplos.

Com o mês de junho, chegam a muitas praças de aldeias e cidades festas populares em torno de santos que estão na memória e na vida dos que as habitam e dos que por elas passam. Elas acontecem, por vezes, entre tensões geradas pelo histórico das relações entre grupos. Mas são uma ótima a circunstância para afirmar que, por vezes, “basta não ser contra” para que tanto celebrações religiosas como manifestações de festa que as rodeiam sejam uma oportunidade de construção, de sentido novo, de alargar horizontes.

O outro exemplo não é de um mês em específico, mas de todos os dias. Está relacionado com a comunicação e os projetos, pessoais ou de grupos, que lhe dão corpo, tanto em torno de uma marca como de uma instituição. Neste ambiente, sobretudo neste ambiente, “basta não ser contra” para que toda a comunicação se faça com eficácia. Porque para comunicar um produto ou uma mensagem o pior que pode acontecer é enfrentar a contrainformação.

De facto, na vida pessoal e familiar, nas dinâmicas de grupo e na contribuição para a relevância das instituições, por vezes, “basta não ser contra”!

Paulo Rocha

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