Francisco, primeiro Papa a visitar este reino, deixa sinal de apoio à minoria católica, apelando a alargamento da liberdade religiosa na região
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Awali, Barém, 06 nov 2022 (Ecclesia) – O Papa encerrou hoje a sua visita de quatro dias ao Barém, a primeira de um pontífice católico ao reino da Península Arábica, marcada por apelos à paz e ao diálogo entre católicos e muçulmanos.
Francisco foi recebido no palácio real de Sakkhir, na cidade de Awali, esta quinta-feira, tendo assumido, no seu primeiro discurso, a preocupação com o cenário mundial de guerras, alimentadas por “populismos, extremismos e imperialismos”.
“Rejeitemos a lógica das armas e invertamos o rumo, transformando as enormes despesas militares em investimentos para combater a fome, a falta de cuidados sanitários e de instrução”, apelou, num discurso em que recordou a vizinha população do Iémen, “martirizada por uma guerra esquecida”.
Num país com forte presença de imigrantes e uma comunidade cristã que representa cerca de 14% da população total, Francisco pediu que “a liberdade religiosa se torne plena, não se limitando à liberdade de culto”, numa mensagem que se estende particularmente ao chamado Vicariato Apostólico da Arábia do Norte – Barém, Kuwait, Catar e Arábia Saudita – e outros territórios do Golfo Pérsico.
“Não basta conceder autorizações e reconhecer a liberdade de culto; é preciso alcançar a verdadeira liberdade de religião”, insistiu o Papa, na sua intervenção seguinte, no encerramento de Fórum do Barém para o diálogo entre Oriente e Ocidente, que partilhou preocupações dos vários participantes relativamente ao conflito na Ucrânia.
Francisco alertou para os “ventos de guerra” que ameaçam uma humanidade cada vez mais dividida, condenando as injustiças sociais e o extremismo religioso
A primeira etapa desta viagem, dedicada ao diálogo com o Islão, ficaria concluída no encontro com Conselho dos Sábios Muçulmanos, presidido pelo grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, um aliado do Papa nesta causa.
O discurso de Francisco reforçou a rejeição de justificações religiosas para a guerra – uma mensagem que pode ser lida como crítica à Igreja Ortodoxa na Rússia – e disse que o mundo se transformou num “grande arsenal”.
Já na Catedral de Nossa Senhora da Arábia, onde se iniciou a etapa da visita dedicada às comunidades cristãs, na tarde de sexta-feira, o Papa presidiu a uma oração ecuménica pela paz, na qual recordou os mártires do Médio Oriente.
O sábado começou com um momento histórico, a segunda Missa presidida por um Papa na Península Arábica, que reuniu cerca de 30 mil pessoas, no Estádio Nacional, desafiadas por Francisco a “romper a espiral da violência”.
Mais tarde, junto de 800 jovens católicos, Francisco – que se deslocou em cadeira de rodas por causa do problema no joelho que o tem afetado nos últimos meses – afirmou que as novas gerações devem “semear fraternidade” para acolher diferenças étnicas, culturais e religiosas, alertando novamente para os “ventos de guerra” que atingem a humanidade.
O programa oficial da visita encerrou-se com uma breve passagem pela capital do país, onde o Papa visitou a primeira igreja católica construída na Península Arábica, a igreja do Coração de Jesus, deixando mensagens em favor do diálogo e da fraternidade.
Francisco despediu-se do Barém numa cerimónia privada, com o rei Hamad bin Isa Al Khalifa, na Base Aérea da Awali.
Esta foi a 39ª viagem internacional do atual pontificado, marcando o regresso de Francisco à Península Arábica, onde esteve em 2019, para uma visita aos Emirados Árabes Unidos, na qual, com Ahmad Al-Tayyeb, assinou a Declaração de Abu Dhabi, sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum.
Já a 14 setembro deste ano, o Papa deslocou-se ao Cazaquistão, onde participou na abertura e encerramento do VII Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais, associando-se à declaração final do encontro, que condena o extremismo, o radicalismo e o terrorismo.
OC