Avós: Aos 73 anos, «sinto-me mais livre» – Bagão Félix

I Dia Mundial dos Avós e dos Idosos assinalado domingo com tema «Eu estou contigo todos os dias»

Foto Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 24 jul 2021 (Ecclesia) – Bagão Félix, professor catedrático de economia afirmou ter, aos 73 anos, a mesma curiosidade da juventude e vontade de lutar contra a ideia de “finitude, e hoje sentir-se “mais livre”.

“Um dos aspetos positivos, se podemos falar tendo em conta esta subjetividade, é que hoje sou mais livre, porque passei parte da minha vida profissional, a ser mais determinado do que a determinar a minha vida. Hoje determino mais o que quero fazer, com quem quero estar. Ser livre é depender de quem se gosta e do que se gosta”, afirma numa conversa promovida pelo Departamento Nacional de Pastoral Familiar, a propósito do I Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.

“Procuro lutar contra a consciência da finitude, que está mais perto, mas isso não é dramático; O que é dramático é olhar para trás e sentir que não valeu a pena. Pelo contrário, cada dia vale mais a pena este dom da vida que os nossos pais nos deram. A curiosidade e a capacidade de me espantar que permanece em mim tal como uma criança. Tenho a mesma curiosidade hoje, que tinha com 10 anos, com 30 ou 50”, acrescentou.

Aos 73 anos, livre para desenvolver atividades ligadas à Botânica, que sempre o interessaram, e outras, Bagão Felix recorda um episódio: “Resolvi telefonar para uma escola de italiano, que gosto muito, e a senhora ia-me perguntando os motivos de aprender: «É profissional, vai para Itália?» Perguntou-me porque queria melhorar o italiano e eu respondei que me apetecia. E ela disse: «Nunca ninguém tinha dito isso». Hoje estudo e traduzo italiano, algo que não pude fazer durante a minha vida ativa”.

O padre José Manuel Pereira de Almeida, Secretário da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), valorizou a iniciativa do Papa Francisco, com a convocação deste I Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, sublinhando a proximidade que o próprio Papa revela com as pessoas.

“O Papa Francisco toma a palavra a propósito deste dia, a partir da sua experiência e como primeira pessoa – sou eu, uma pessoa com 84 anos, que foi chamada para bispo de Roma, quando me devia reformar. O falar na primeira pessoa, dirigindo-se a cada um de nós, nesta circunstância é muito importante”, entende.

Num contexto de aumento da esperança média de vida, de longevidade, “e falo no contexto europeu, onde estamos e isso é particularmente relevante”, o responsável aponta a oportunidade para “respirar”, “num lugar fresco e novo sobre um quotidiano que tem sido pesado, por causa da pandemia”.

No atual quotidiano, o padre José Manuel Pereira de Almeida aponta como fragilidades maiores entre os mais velhos, o isolamento e a solidão.

“A solidão não desejada, sobretudo das pessoas que ficaram nos andares de cima, de um prédio que não tem elevador, de uma pessoa que não recebe visitas habituais – não porque não queira”, ilustra.

Foto Agência ECCLESIA/MC

António Bagão Félix lamenta ainda a “bipolaridade” que a sociedade imprime, geradora de categorias: os pobres e os ricos, os da cidade e do campo, o litoral e o interior, novos e velhos, empregados e desempregados.

“Na questão geracional há uma segmentação artificiosa, falaciosa, que não beneficia os mais novos com a sabedoria, a disponibilidade, a ternura dos mais velhos”, sustenta.

Pedro Macedo, médico especialista em Psiquiatria, lamenta igualmente a segmentação da vida, em períodos que afirma não fazerem sentido, ao invés de se olhar para a vida como “um continuo”.

“Falar de longevidade é um termo mais interessante porque retira o lado negativo. Lamento que não se fale das vantagens de ter mais idades. Temos muitos anos de vida e podemos fazer muitas coisas, ter muitos interesses para além dos percursos profissionais. Temos de valorizar a pessoa com mais idade”, sustentou.

‘Eu estou contigo todos os dias’ (cf. Mt 28,20) é o tema do primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que vai ser celebrado este domingo, junto à celebração litúrgica de São Joaquim e Santa Ana (26 de julho).

A conversa organizada pelo DNPF, conduzida por Fátima Lopes, juntou ainda os avós Miguel e Luísa Horta e Costa, e a neta Matilde Horta e Costa.

Este domingo, o programa 70×7 (RTP2), às 17h40, e o programa Ecclesia, na Antena 1, às 06h00, vai destacar diferentes percursos e experiências sobre o envelhecimento e a relação avós/netos.

A emissão integral da conversa organizada pelo DNPF é emitida nas redes sociais da Agência ECCLESIA e do Departamento Nacional da Pastoral Familiar a partir das 18h00 deste domingo.

LS

 

 

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