Atitudes ressuscitadoras

Jacinto Jardim

O contexto sociocultural atual desafia continuamente toda a pessoa, e os agentes eclesiais em particular, a assumirem atitudes criativas, empreendedoras e diferenciadoras. As reais situações contemporâneas de desemprego, de apatia social, de individualismo, de crise de valores e de infelicidade exigem a promoção de experiências inovadoras e significativas que qualifiquem o sentido da vida e que constituam, efetivamente, uma mais-valia para o cristão, tanto considerado individualmente como coletivamente.

As propostas evangélicas e eclesiais fundamentam-se num conjunto de significados capazes de colmatar muitas lacunas na experiência quotidiana do Homem contemporâneo. Para isso há que, com lucidez e coragem, identificar o essencial da identidade cristã e realizar, com método, experiências significativas que qualifiquem os pensamentos, as emoções e os comportamentos de quem procura na Igreja respostas para as suas inquietações existenciais.

A Igreja, na sua essência, ao colocar-se ao serviço do Reino de Deus, procura satisfazer, em todos os tempos e em todos os lugares, a utopia do coração humano. Esta utopia refere-se ao desejo profundo do ser humano experimentar em pleno a vida, a felicidade, a paz, a liberdade, a unidade e a comunhão. Por isso, a Igreja torna-se sinal eficaz da união de todo o género humano, tendo, para isso, como ponto de partida, a comunhão da pessoa com Deus. Como mediação e expressão visível da concretização deste desígnio de vida em plenitude, quatro exigências se colocam continuamente a todo o cristão de modo a expressar o mistério da Igreja: realizar um serviço, viver a comunhão, proclamar a vida através do testemunho e celebrar a existência através da liturgia.

Ao nível do SERVIÇO, interessa responder às necessidades dos desempregados, capacitando-os e formando-os para assumirem uma atitude empreendedora na resolução das suas problemáticas profissionais.

Ao nível da COMUNHÃO, constata-se atualmente uma enorme sede de criação, desenvolvimento e fortalecimento de laços humanos. Num período dominado pelo individualismo, pelo vazio e pela fragmentação, a Igreja tem a proposta de uma experiência altamente significativa para a vivencia da comunhão, da ligação a Deus e, a partir d’Ele, a toda a Humanidade. Para isso há que trabalhar o acolhimento, a superação de conflitos, a maximização das potencialidades humanas e a minimização das fragilidades das pessoas, a liderança para a construção de pontes e desenvolvimento de um relacionamento maduro e a longo prazo.

Ao nível do TESTEMUNHO, o contexto de infelicidade e de crise exigem um repensar o modo de proclamar a força do mistério pascal. Por vezes, fica-se mais pela paixão e pela morte do que pelo essencial, que é a ressurreição que resulta do processo de sofrimento e de morte de Jesus Cristo. É a força de Cristo ressuscitado que é capaz de dar um significado para as frustrações, erros, mágoas, dificuldades da vida, levando a pessoa a se autotranscender.

Ao nível da LITURGIA, interessa dar-lhe vida, de modo a ser efetivamente a expressão das alegrias e das tristezas de quem participa num ato litúrgico. Por princípio, uma celebração é significativa quando contribui para a pessoa e a comunidade gerarem vida nova, suscitarem esperança e darem mais sentido à vida.

O período pascal é um tempo privilegiado para serem realizadas ações que levem à experiência de ressuscitados e de ressuscitadores, para serem aperfeiçoadas as modalidades de relacionamentos dentro e fora da Igreja, para serem encetados novos padrões no anúncio de ideias revitalizadoras e de serem experimentados novos modos de festejar a vida.

A fim de serem ativadas mudanças que visem responder efetiva e adequadamente aos desafios e sinais dos dias de hoje, interessa revitalizar o ser cristão de modo a ser possível interiorizar novos conhecimentos, assumir novas atitudes, experimentar novas emoções, encetar novos comportamentos, promover novas experiências.

Vivenciar e expressar a ressurreição de Cristo de um modo positivo, criativo e significativo, exige lucidez e coragem para ativar novas atitudes e promover experiências inovadoras.  Quem vive como ressuscitado assume atitudes ressuscitadoras e contagia os outros com a sua força interior. E é precisamente disso que precisamos nos ambientes onde vivemos, trabalhamos, educamos, comunicamos.

Jacinto Jardim, professor do Instituto Piaget e investigador da UCP

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Agência ECCLESIA

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