Assunção

Homilia de D. António Taipa na peregrinação da Diocese do Porto ao Santuário de Nossa Senhora da Assunção, em Santo Tirso Santo Tirso ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA 2003.08.15 1 – Somos uma significativa parte desta nossa Diocese do Porto, que quer celebrar, este ano de modo particular, a solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria Desde 16 de Outubro de 2002 que a Igreja vive em alegria e acção de graças este 25º ano do Pontificado do Santo Padre João Paulo II – as suas Bodas de Prata – , ano que ele declarou como Ano do Rosário – de Outubro de 2002 a Outubro de 2003. Aplaudindo e respondendo a esta sua decisão, também quisemos, na nossa Diocese, fazer desta uma peregrinação Diocesana dedicada ao louvor e à contemplação do Santo Rosário da Virgem Maria. 2 – Se é claro para todos nós que neste gesto o Santo Padre confirma mais uma vez a sua forte e conhecida devoção à Mãe do Céu, também é evidente que o que ele pretende e procura, com esta proclamação do Ano do Rosário, é apresentar-nos e fazer-nos viver a oração do Rosário, como um dos mais fecundos caminhos para redescobrirmos o Rosto de Cristo, o seu Rosto crucificado e glorificado. 3 – Este Rosto que os homens pedem que lho mostremos, como outrora os gregos pediram a Filipe “queríamos ver a Jesus” (Jo 2,21), ainda que o façam como diz o Santo Padre, “sem se darem conta” (NMI 16). De facto quando os homens buscam a paz, quando os homens procuram e lutam pela vida e por uma vida com qualidade, quando anseiam pela verdade…, é a Jesus que procuram. Porque Jesus é a paz, é o príncipe da paz, é a verdade e é a vida…. E nós devemo-lo. Nós temos obrigação de lho fazer “ver”. 4 – E quando o homem se vê diante de guerras e violências, diante de catástrofes naturais ou provocadas pela sua incúria e malícia., quando experimenta que é a mentira que domina nas suas relações, quando verifica que a vida é dominada pela busca do prazer imediato, a qualquer preço, pela auto-satisfação dos mais baixos e degradantes apetites, quando o homem vê e sente, assim, que se encontra num caminho que não conduz a nada mas que o escraviza à volta de si mesmo, à volta da sua limitação e incapacidade, lhe corta os horizontes da universalidade a que e sente votado e o prende no mais feroz individualismo… quando o homem experimenta assim o sem sentido da vida… que procura ele? Que espera? De que precisa ele?.. De redescobrir um futuro de esperança e de vida… um futuro que lhe anime e dê sentido ao presente. De Jesus de Nazaré. 5 –Desse Jesus de Nazaré que, morrendo por nós na fidelidade inteira ao amor ao Pai e aos homens, à missão que o Pai lhe confiara, na fidelidade intransigente à sua condição de homem, que se fez, e ao compromisso que assumira, foi elevado à glória do Pai, à vida eterna, na nossa humanidade, como primícias de todos nós, chamados nele à mesma vida… É Ele a nossa esperança… a porta de um futuro de vida… 6 – Jesus é a esperança de que os homens precisam e procuram, de que todos temos necessidade absoluta para nos entendermos e entendermos a nossa a vida individual e colectiva. N’Ele sabemos que a vida é sempre um caminho para a vida, para a imortalidade, para a vida eterna sem riscos e sem medos. É uma esperança, esta, que não nos arranca à história, à vida. 7 – Pelo contrário, é exactamente sob a sua luz que o homem aprende a “ver” essa vida e essa história, na sua verdade inteira: – A descobrir a existência de tanta coisa boa que a dureza das aparências parece esconder. Como no meio de tudo isso, de todos aqueles males, há tanta solidariedade, há tanta gente que se dá pelo outro até quase à exaustão, há tanto esforço pela criação de relações verdadeiras e sempre renovadas entre os homens. Há tanta busca da verdade. Da felicidade. Há tanto amor. Tanta amizade. Tanta fome de vida. Tanto perdão…e tanta misericórdia – E é esta esperança e são estas luzes de vida, estas centelhas da presença do Verbo de Deus, da sua Palavra, que convidam o homem a potenciar o que existe, a lutar e a entregar-se na luta pela vida e pela vida com qualidade para si e para os irmãos. É esta esperança e esta constatação de que o homem, pecador embora, não está totalmente corrompido, que o anima a trabalhar e a responder com fé, alegria e esperança àquela primeira palavra do Senhor Deus “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gn 1,28) . 8 – É este Jesus, é esta esperança, que os homens exigem que lhes mostremos. É este Jesus que temos, nós mesmos de encontrar. Que a Igreja precisa de dar à luz. Com dores eventualmente… não é mais que o seu Mestre e Senhor. 9 – E aí, neste esforço, temos o Rosário. Na escola de Maria, isto é, com Maria, é o Rosário uma profunda meditação nos mistérios da vida de Jesus. Da vida familiar e privada de Jesus até à sua ascensão à direita do Pai.. Tínhamos e temos, os mistérios gozosos que nos põem à meditação a alegria que trouxe à terra o nascimento de Jesus. Os mistério dolorosos que nos faziam meditar nos seus sofrimentos, na sua paixão e morte – o seu rosto de dor. Os mistérios gozosos que nos conduzem à experiência, na contemplação, da sua glória junto do Pai. 10 – O Santo Padre criou agora os mistérios luminosos que nos convidam a meditar a contemplar a vida pública de Jesus, essa vida que O levou do Baptismo no Jordão até à instituição da Eucaristia, na véspera da sua Paixão.. Se não devemos esquecer os outros, como é claro, é nestes que eventualmente precisamos de apostar de modo especial. Precisamos todos de saber como Jesus viveu. De conhecer de perto aquela vida que O levou à condenação. Temos de saber como se relacionou Ele com os homens do seu tempo: com os novos e os velhos. Os ricos e os pobres. Os da sua terra e os estrangeiros. Os crentes e os não crentes. Os jovens e as crianças. Os criminosos e os doentes. Os famintos e os marginalizados da sociedade. Saber como se relacionou com o mundo e as suas coisas. Como se relacionou com Deus. É este Jesus que temos de fazer ver. 11 – Porque Jesus não é uma ideia. Porque o Jesus que temos de mostrar não é um sistema filosófico, nem é um código de leis. O Jesus que temos de mostrar é esse. Esse Filho de Deus que se fez homem, assumiu a nossa vida… e continua, em nós, por uma vida na esteira da sua, à procura dos homens que, sem ele não se encontram. 12 – O Rosário é este tesouro. É este maravilhoso compêndio em que este Jesus vai passando sucessivamente pelo nosso coração em todas as situações da sua vida. Para do coração passar tecido das nossas relações com os homens, com Deus e com o mundo 13 – Nesta perspectiva, rezá-lo é obedecer à mais bela e importante palavra que a Senhora que hoje cantamos no mistério da sua Assunção, deixou para todos os homens de todas as gerações: “Fazei o que Ele, o meu Filho, vos disser” Este é o princípio da vida segundo Jesus, este há-de ser também o princípio de renovação na nossa Igreja, da nossa Diocese que, aos pés da Virgem, implora as suas bênçãos neste seu esforço por responder à sua palavra. D. António Taipa Bispo Auxiliar do Porto

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