Assumir a Nova Evangelização

Bodas de Prata Episcopais de D. Augusto César AE. Que avaliação faz destes 25 anos de Bispo? R.Exercitei a simplicidade na prática do ministério e aprendi a servir com esperança. Além disso, sinto-me comprometido num “projecto” de comunhão que me faz inquieto e próximo de todos. Não fiz coisas grandes. E durante os anos de “guerra” (em Tete), aprendi a perdoar e a sentir mais gosto pela paz. AE – Grande parte do seu múnus episcopal foi passado na Diocese de Portalegre-Castelo Branco. Desde a sua entrada nesta Diocese, quais foram as grandes transformações que ela sofreu? R.Decerto, esta pergunta devia ser feita aos meus colaboradores. Em todo o caso, concretizo: talvez uma consciência mais activa de ser Igreja e de sentir a missão como um desafio constante. Depois, um empenhamento grande na Formação Permanente e na construção do Estatuto Económico do Clero, (este, para salvaguardar a disponibilidade do tempo na dedicação pastoral e na dignidade do ministério). AE – Em que área, do ponto de vista pastoral, a Diocese tem mais carências? R.O aspecto vocacional é dos mais notados: pela idade dos padres e pelo débil investimento, neste campo, de muitas paróquias. Por outra parte, os conteúdos da Nova Evangelização precisam de ser assumidos mais em comum e com vigor. Mas o esforço é notório. AE – A Diocese de Portalegre-Castelo Branco está a sofrer um surto de desertificação, como grande parte do interior do país. O que esta Igreja está a fazer para combater esta realidade? R. Sim, também diz respeito à Igreja. E alguma coisa se faz, mas não é com muita convicção; pois a desertificação combate-se ‘lá’ e ‘cá’. Isto é: se Lisboa continua a atrair e a criar necessidades, os jovens deixam-se seduzir porque precisam e, também, por aventura. E se localmente não há investimento em dinheiro e em imaginação, os jovens não se prendem à terra. Em todo o caso, a Igreja vai cuidando dos idosos, insistindo com os filhos na obrigação que têm de cuidar dos pais vai criando centros paroquiais e misericórdias com postos de trabalho; vai acolhendo os reformados, para que se sintam bem e fiquem. . . E pouco mais pode fazer. AE – Existe uma grande comunidade cigana na sua Diocese. Que trabalho pastoral está a ser desenvolvido em relação a esta etnia? R. Muito pouco e com pesar. Com efeito, escasseiam agentes de pastoral, motivados concretamente para este trabalho. Ultimamente, fizemos nas cidades uma informação-campanha a favor da peregrinação dos ciganos a Vila Viçosa e pagámos a dois ciganos a viagem a Roma para participarem na beatificação de Zeferino Gimenez Malla. Talvez estas acções despertem outras e possa retomar-se o caminho que a Diocese já percorreu na pastoral dos ciganos. AE – Actualmente, quais são as grandes prioridades pastorais? R. A evangelização, em geral. Depois, a formação de base dos adultos. E ainda a pastoral da juventude e das vocações e a pastoral das festas, com reflexão teológica e ajustamento litúrgico. AE – Durante três anos, de 93 a 96, a Diocese apostou na pastoral familiar. Que carências descobriram nas famílias e que prioridades apontaram? R. Sim, durante três anos, o plano diocesano incidiu sobre a família. E a Diocese mexeu. Aspectos negativos: envelhecimento alargado da população e a consequente falta de estímulo pastoral; isolamento dos idosos e ausência de natalidade; activismo exagerado para ter ou por necessidade de sobreviver; um certo desfazer da vida familiar em alguns casos. . . Aspectos positivos: formação doutrinal mais cuidada: criação de grupos de reflexão; reestruturação do Secretariado; implementar o CPM nos Arciprestados; um Centro de Atendimento Familiar e abertura para outros. . . AE – Uma vez afirmou “que as fracas remunerações são uma das razões que desincentivam as vocações para o sacerdócio”. Será esta a razão principal da falta de vocações sacerdotais? R. Não foi essa a minha afirmação porque não é esse o contexto. E, em todo o caso, a organização do Estatuto Económico do Padre é urgente nas Dioceses: primeiramente, para disponibilizar o tempo a favor da pastoral (e não incentivar a dispersão por outros afazeres); depois, para clarificar a missão do Padre = homo Dei, pro homínibus, e para favorecer o discernimento vocacional também. A razão da falta de vocações anda mais pelo egoísmo da vida (falta de acolhimento e falta de consciência de missão). E, ainda, um estilo consumista que confunde os valores ou privilegia os mais imediatos. AE – O que é que a Igreja de Portalegre-Castelo Branco está a fazer para incentivar os jovens para este estilo de vida? R. Qual estilo? Vocacional? Decerto, evangelizando, comunicando esperança, atraindo ao altar, fomentando campos de férias, retiros, cursos para animadores. . . AE – Como é que um “homem de Braga”, como é o caso de D. Augusto César, se adaptou à diocese de Portalegre-Castelo Branco? R. Acho graça à pergunta e já a têm feito mais vezes: sente-se bem? Gosta de estar cá? Em primeiro lugar, um sacerdote com espírito missionário, adapta-se em qualquer parte do mundo; depois, não costumo pensar nisso, antes de me entregar ao trabalho e à missão que me é confiada (e, depois, já não tenho tempo de pensar nisso). Olhe, sinto-me bem aqui e tenho aprendido a doar-me à conta dos apelos que me são feitos. AE – A cidade de Portalegre pertence à região do Alto Alentejo, Abrantes, ao Ribatejo e Castelo Branco à Beira Baixa. É possível uma pastoral conjunta com mentalidades diferentes? R. E acha que alguma diocese é homogénea? Esta, de facto, faz de charneira a três Províncias e está repartida por quatro zonas pastorais. Se soubermos valorizar o que de bom há em cada uma, disfrutamos duma riqueza maior. Além disso, as divisões geográficas criadas pela política, são menos próximas das populações e mais caprichosas que as da Igreja.

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