Assis 2022: «Quando é que a Economia que mata se tornará Economia da vida?», perguntam jovens participantes

Dramas da Ucrânia, Afeganistão ou Amazónia marcam início do encontro «Economia de Francisco», com o Papa

Assis, Itália, 24 set 2022 (Ecclesia) – Os participantes no encontro ‘Economia de Francisco’, que se conclui hoje em Assis, receberam o Papa na cidade italiana, apresentando questões sobre o futuro da humanidade e os dramas vividos na Ucrânia, Afeganistão ou Amazónia, entre outros.

“Quando é que a Economia que mata se tornará Economia de vida?”, perguntou uma das mil participantes, em representação dos jovens de 120 países, incluindo Portugal, na cerimónia que antecedeu a assinatura de um pacto global em favor de uma “nova economia”.

A chegada do Papa ao Teatro Lyrick foi marcada por uma apresentação artística e uma reflexão inspirada na Bíblia (Isaías, 21,11-12), sobre a passagem da madrugada para o dia – com intervenções em ucraniano, chinês e português, entre outras línguas.

Olena, vinda da Ucrânia, perguntou: “Quanto falta para o fim da Guerra? Quando vai acabar a dor imensa do nosso povo e de todos os países em guerra?”.

“Quanto temos de esperar para que o nosso país, o Afeganistão, e em todos os países do mundo, sejam finalmente reconhecidos os direitos das mulheres, das jovens, das meninas?”, perguntou outra das participantes.

As intervenções pediram uma Economia “mais fraterna” e mudanças políticas para a defesa do planeta, sublinhadas pela jovem indígena Bárbara Flores, que se dirigiu à assembleia em português.

Estamos esmagados e humilhados: quando serão reconhecidos os direitos dos povos indígenas e as nossas diferentes economias? Quando serão respeitadas e talvez imitadas as nossas antigas e nobres culturas? Esta noite durou séculos: quando terminará?”

Após a sessão de abertura, o Papa ouviu o testemunho de oito jovens, representantes de cinco continentes, entre eles um recluso, condenado por homicídio, e uma refugiada afegã.

“No Afeganistão agora reinam a tirania, o desemprego, a pobreza. As mulheres já não são livres, não podem estudar nem trabalhar. Aqueles que protestam por direitos são brutalmente reprimidos, até mesmo ouvir música no carro é motivo para morrer”, advertiu Maria, na sua intervenção, falando sobre o seu trabalho na defesa dos direitos das mulheres.

A refugiada chegou à Itália, com a ajuda da ‘Economia de Francisco’, depois de ter visto a sua casa ser incendiada, sendo perseguida pelos Talibã.

Outro dos testemunhos chegou da tailandesa Lilly Ralyn Satidtanasarn, ativista ambiental de 14 anos, que falou da sua luta contra as mudanças climáticas e a poluição, que levou à proibição nacional de sacos de plástico de utilização única.

“Devemos encorajar outros jovens a superar as barreiras que deveriam limitá-los, dando-lhes recursos e oportunidades como as que me foram dadas hoje. Educar e Cuidar”, apelou.

Andrea foi condenado em 2013 e cumpre pena de prisão, após ter matado um homem, no contexto de uma discussão, e falou da importância de fazer que a prisão ajude as pessoas “a sair melhores do que entraram”, uma passagem saudada pelos presentes com uma salva de palmas.

“No início da minha prisão, escrevi-lhe uma carta [ao Papa], pedindo perdão pelo que tinha feito e, para minha surpresa, recebi uma resposta em pouco tempo. Graças a esse perdão a minha vida pôde recomeçar”, relatou.

A viagem encerra o encontro da ‘Economia de Francisco’, que se iniciou na quinta-feira, reunindo economistas, gestores, estudantes, empresários e outros profissionais.

A iniciativa surge após uma convocatória lançada pelo próprio pontífice, em maio de 2019; após o adiamento do encontro presencial, por causa da pandemia, a ‘Economia de Francisco’ acabou por transformar-se num movimento internacional de jovens, para repensar modelos económicos, financeiros e de desenvolvimento, com várias iniciativas online em volta de 12 “aldeias” sobre temáticas que vão do papel da mulher na economia à sustentabilidade e a crise ecológica.

OC

 

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Agência ECCLESIA

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