História do Cristianismo nos dois países está ligada a Portugal
Lisboa, 20 nov 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco iniciou hoje a sua primeira visita à Tailândia e Japão, dois países do extremo oriente asiático em que os católicos são uma pequena minoria, herdeira da missionação portuguesa nos séculos XVI e XVII.
O Dicionário de História Religiosa de Portugal (Círculo de Leitores, 2001) dedica uma entrada à evangelização do Reino do Sião ou de Ayuthya, antigo nome da Tailândia, iniciada após a criação da Diocese de Malaca em 1558, que consagrou aos Portugueses o direito de padroado sobre aquele reino asiático, entre outros estados do Oriente.
Frei Jerónimo da Cruz e frei Sebastião do Canto, dominicanos, foram os primeiros religiosos portugueses a chegar a Ayuthya, por volta de 1566, num clima de grande tensão militar, por causa da ameaça birmanesa; numa escaramuça com a colónia portuguesa, frei Jerónimo foi assassinado e frei Sebastião ficou ferido.
Depois dos dominicanos, franciscanos, jesuítas e agostinhos enviaram missionários portugueses para o território, onde chegaram também franceses das Missões Estrangeiras, gerando uma questão resolvida em 1669, quando Clemente IX retirou o reino do Sião ao padroado português, transformando-o num vicariato apostólico, cujos 350 anos se celebram agora.
A presença no chamado ‘Bang Portuguet’ (bairro português) de Ayuthya ficou marcada pela edificação de igrejas; uma delas, a igreja de São Pedro, foi restaurada em 1995 com apoio da Fundação Gulbenkian; junto às ruínas da antiga igreja de São Domingos foi construído um memorial da presença portuguesa.
Os católicos na Tailândia são hoje menos de 400 mil, cerca de 0,5% da população num país de maioria budista, estando empenhados, em particular, nos campos da saúde e da educação, além da luta contra o tráfico de pessoas, que merece uma atenção particular do Papa Francisco.
A ação da Cáritas foi particularmente visível após o tsunami de 2004, com a reconstrução de 33 mil casas.
Num encontro com monges tailandeses no Vaticano, a 16 de maio de 2018, Francisco pediu que católicos e budistas “intensifiquem as suas relações, progridam no conhecimento recíproco e no conhecimento das respetivas tradições espirituais”.
O Papa vai visitar o Santuário dedicado ao primeiro beato tailandês, o padre Bunkerd Kitbamrung, que morreu como mártir em 1944, num clima de suspeita sobre o clero católico por causa da guerra entre a França e a Indochina.
Como jovem jesuíta, Jorge Mario Bergolgio tinha o sonho de ser missionário no Japão, onde vai estar pela primeira vez a partir de sábado, seguindo os passos de outro membro da Companhia de Jesus: o país foi evangelizado por São Francisco Xavier, entre 1549 e 1552, a pedido da Coroa Portuguesa.
Poucas décadas depois, a comunidade católica vivia uma fase de perseguição: os primeiros mártires foram crucificados em Nagasáqui em 1597; entre eles contava-se o português São Gonçalo Garcia, canonizado em 1862 por Pio IX.
Outros 205 católicos foram beatificados em 1867, entre eles sete portugueses: João Baptista Machado, Ambrósio Fernandes, Francisco Pacheco, Diogo de Carvalho e Miguel de Carvalho (todos da Companhia de Jesus), Vicente de Carvalho (religioso agostinho), e Domingos Jorge (leigo, cuja esposa japonesa e filho também foram martirizados).
Em Nagasáqui, centro da antiga comunidade católica, Francisco vai prestar homenagem aos missionários que evangelizaram o território nipónico.
Os portugueses foram definitivamente expulsos do Japão em 1639 e o Cristianismo nipónico entrou numa vivência de clandestinidade, que se prolongou até à reabertura do império ao Ocidente, na segunda metade do século XIX.
Privados do clero e das igrejas, e apesar dos massacres, alguns leigos japoneses conseguiram sobreviver, transmitindo a fé em segredo de geração em geração, sendo hoje conhecidos como “kakure kirishitan” – cristãos escondidos.
Atualmente, os católicos no Japão são 536 mil, correspondendo a 0,42% de uma população de mais de 126 milhões de habitantes, no arquipélago.
A Igreja possui 16 circunscrições eclesiásticas, 859 paróquias, 102 centros pastorais de diferentes tipos, servidos por 29 bispos, 511 sacerdotes diocesanos, 896 sacerdotes religiosos, 29 diáconos permanentes, 173 religiosos não sacerdotes, 4976 religiosas, 174 membros de institutos seculares, 1307 catequistas e 80 seminaristas.
A Missa que o Papa vai presidir em Tóquio, no dia 25, conta com uma leitura em língua portuguesa; os participantes vão rezar por todas as vítimas de acidentes nucleares.
OC