Admirável pedagogia esta da Igreja, que nos vai iniciando nos mistérios e nas realidades profundas da existência humana, – e por isso é que são fundamentais também na celebração da fé -, ao longo dos meses e das estações, porque é precisamente nos tempos e nos espaços, que não são iguais, que a nossa vida se desenrola. E o mês de Novembro convida-nos a isso, quando a natureza como que se retrai, preparando-se para o recolhimento do inverno… Esta estação do Outono convida-nos a pensar na morte, já como existencial humano irrecusável, que a cultura do carpe diem, materialista, hedonista e neopagã, não consegue contornar, apesar de todos os esforços de recalcamento, mas sobretudo na perspectiva cristã, esse morrer de amor, que, em união com Cristo, os santos vivem e testemunham. Estive há dias com minha Mãe, com os seus largos e profundos 95 anos!… Um dia ela não se sentia bem, e disse-me que ia morrer, que eu rezasse por ela. Depois, passada aquela crise, e quando, serenamente sentada a meu lado, me contava histórias do seu passado tão remoto, aquelas coisas que nunca esqueceu, assim sem mais e de repente, começou a recordar antigas orações, que aprendera já de sua avó, e que, na sua cândida simplicidade, são uma prece de preparação para uma santa morte, para aquela feliz e boa hora do encontro. Neste contexto da celebração de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos, elas têm um especial sabor, porque nos permitem escutar a voz que vem do fundo do tempo, daqueles que as compuseram, as rezaram e agora nos precedem, convidando-nos, também, a entrar na mesma espiritualidade tão viva e tão fortemente gravada na memória da minha Mãe que assim mas ditou: I Nesta cama me venho deitar Para dormir e descansar Se a morte me vier buscar Que eu não possa falar Apego-me aos cravos Abraço-me à cruz Que me leve a minha alma O Sagrado Coração de Jesus. Amado Jesus, José e Maria Meu coração vos dou E a alma minha. II Ave Maria de Graça Vossa Graça é comigo Defendei-me, Ave Maria, Do poder do inimigo Ó Anjo da Guarda A quem Deus me confiou Ó Anjo, vinde para mim Que eu não sei para onde vou. Guiai-me pela caminhada Da justiça e da verdade Para eu gozar de Deus A feliz eternidade José Jacinto Ferreira de Farias, scj joseffarias@netcabo.pt