As novas formas da missão

Leigos abraçam desafios nas Igrejas lusófonas A Igreja Católica em Portugal continua a marcar presença nos territórios de missão, mormente no espaço lusófono, mas hoje em dia os projectos e os seus protagonistas são muito diferentes, ocupando funções específicas. No ano de 2003 foram cerca de 300 os jovens portugueses que se comprometeram em experiências de missão mais ou menos prolongadas, com vários movimentos de diversas regiões do país a deslocarem-se até Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Mais de 50 destes leigos voluntários vão permanecer em África por um período de 1 ou 2 anos. Ligados essencialmente a congregações religiosas, partilham de forma específica o cariz missionário das mesmas, vivendo e partilhando o seu projecto de vida dos fundadores. Um exemplo vem dos 4 Membros da Juventude Mariana Vicentina que partiram para Moçambique. O projecto Mãos Abertas 2003/04 inclui a Marisa Rodrigues, de Cucujães, Amilcar Costa, de Águeda e o Nuno Marinho de Agilde, que irão permanecer em África por 1 ano. “Vamos para 200 quilómetros a norte de Maputo, para uma terra pobre afectada pelas cheias de 2000. A nossa ideia é levar a nossa força e ajudar na formação das populações locais”, explica o Nuno à ECCLESIA. A Associação de Leigos Voluntários Dehonianos é também um projecto que compreende um ano de formação orientado à vivência da espiritualidade desta Congregação e à consolidação das suas estruturas de ensino e de missão em África, que já conseguiu cativar quase duas dezenas de voluntários em 3 anos. Dentro destes projectos o destaque vai para os 25 voluntários missionários dos “Leigos para o Desenvolvimento” que este ano partiram por um ou mais anos para São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor Lorosae, um número que permite mesmo reabrir duas missões. Como explica à Agência ECCLESIA Gonçalo Carvalho, a vida universitária e profissional define os tempos de missão para os jovens voluntários, sendo que este ano foram muitos os que antes de entrar no mercado de trabalho quiseram dar um tempo da sua vida à missão. “Também há casos de pessoas que deixam a sua estabilidade para aderir a um projecto que lhes parece importante, indo viver em comunidade e ajudando povos bem mais carenciados”, relata. Esta Organização não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) de cariz católico que, através dos seus voluntários, actua nos chamados países “em Vias de Desenvolvimento”, em especial nos de expressão oficial portuguesa, apresenta uma estrutura que é garantia de integração para os voluntários: “nesta missão os projectos que apresentamos são projectos a longo prazo, alguns com 15 anos, e os voluntários que vão para o terreno estão mais apoiados. Trabalhamos sobretudo na área da educação, onde as pessoas se integram conforme a sua disponibilidade na leccionação e na administração”, refere. O verão de 2003 foi marcado, ainda, pelos mais de 230 voluntários portugueses que passaram algumas semanas em países de missão, trabalhando nas áreas da saúde, educação e evangelização. Na origem dos projectos estiveram iniciativas de congregações religiosas, dioceses, seminários diocesanos, grupos de jovens e mesmo uma geminação paroquial. Projectos em que a aventura pode servir como apelo, mas onde só participa quem percorrer um caminho espiritual e de formação específica. A viagem é preparada ao longo de todo um ano – reuniões semanais, retiros, experiências de trabalho em Portugal e formações específicas – e se há grupos com uma experiência vasta na preparação das missões, também existem estreias. Nove jovens do grupo “Mariajuda” partiram pela primeira vez para um verão de solidariedade, que a jovem Margarida, explica à Agência ECCLESIA: “nós já pertencíamos todos a um movimento católico, o de Schönstatt, e o nosso percurso na Fé criou esta vontade de dar frutos concretos junto dos mais desfavorecidos, pelo que quando surgiu o convite aceitámos logo”. O projecto “Uma semente em Cabo Verde” é outro exemplo de novas formas de missão, pois nasce da geminação entre a paróquia da Apúlia, na Diocese de Braga, e a de São Tiago em Cabo Verde. O orçamento para esta missão ultrapassou os 15.000 Euros, na sua grande parte suportados pela comunidade paroquial da Apúlia, que assumiu assim este compromisso missionário. O Pe. Vítor Mira, regressado da missão “ASA 2003”, explica que projectos de um ou dois meses são bastante breves para o muito que há a aprender e a fazer nas missões. “O que costumamos dizer aos voluntários quando se preparam para ir, e principalmente quando já lá se encontram, é que o objectivo é levá-los a conhecer uma realidade muito diferente daquela a que estão habituados e que com eles regresse o desejo de lá voltar por um período mais longo e em que possam ser ainda mais úteis”, explica. Quem chega destas missões não consegue esconder o entusiasmo que a experiência provoca. E se as congregações religiosas são os principais mentores destes projectos, é fácil perceber por esta breve apresentação que as dioceses, ONG’s e as próprias paróquias começam a despertar para o potencial destas missões limitadas no tempo e com tarefas bem delineadas. O Bispo de Aveiro, cuja Diocese enviou vários jovens em missão, fez questão de lhes recordar, no regresso, que “estas experiências, que vale a pena cultivar na vossa paróquia e nos ambientes de trabalho, são importantes para potenciar as vossas capacidades, para serem melhores e mais para os outros. Têm de o testemunhar no Dia Mundial das Missões, em encontros de crismandos e sempre.”

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