Arquivo Secreto do Vaticano revela documentação sobre Pio XI

A Santa Sé procede, a partir de hoje, à abertura da totalidade dos arquivos do pontificado do Papa Pio XI (1922-1939). Até agora, apenas uma parte destes arquivos está disponível para consulta aos investigadores. A abertura destas fontes históricas refere-se, nomeadamente, a toda a actividade diplomática da Santa Sé, no período que antecedeu a II Guerra Mundial, e foi decidida por Bento XVI, seguindo um desejo já antes manifestado pelo seu antecessor João Paulo II. Assim, passarão a estar “disponíveis à investigação histórica, nos limites dos regulamentos, todos os fundos documentais até a Fevereiro de 1939 (…) nomeadamente os arquivos secretos do Vaticano e os arquivos da segunda secção da Secretaria de Estado” responsável pelos negócios diplomáticos, concretiza o comunicado. O trabalho de cerca de 20 pessoas, nos últimos quatro anos, torna possível a abertura dos Arquivos Vaticanos relativos ao Pontificado de Pio XI (1922-1939) e, com isso, o acesso a um enorme campo de pesquisa histórica. O período abarca as trágicas consequências da I Guerra Mundial, o percurso que levou à II Guerra Mundial; a chegada ao poder de Mussolini, Hitler ou Estaline; a crise de 1929, as guerras coloniais e civis, e as leis raciais alemãs e italianas, entre outros acontecimentos. Pio XI foi uma presença notável, nesta altura: resolveu a questão romana com os Pactos Lateranenses (1929), protegeu e aumentou a Acção Católica, celebrou o Jubileu de 1925 e o extraordinário em 1933-1934, planeou um enorme projecto missionário que chegou à China, desenvolveu sua acção para o Oriente, olhou com olhos novos a ciência, estabeleceu relações diplomáticas entre a Santa Sé e vários países do mundo. O prefeito do Arquivo Secreto Vaticano, o padre Sergio Pagano, anunciou oficialmente já em 2002 que, após a abertura do Pontificado de Pio XI, tudo se fará para disponibilizar as fontes documentais vaticano-alemãs relativas ao pontificado de Pio XII (1939-1958), em parte já publicadas por vontade de Paulo VI nos 12 volumes (1965-1981) dos “Actes et documents du Saint-Siège relatifs à la seconde guerre mondiale”. Há algum tempo está também disponível o fundo do “Departamento de informações vaticano para os prisioneiros de guerra”, que compreende documentos de 1939 a 1947. Além disso foram também abertos os arquivos das Nunciaturas de Munique e de Berlim até 1939. Secreto, mas não muito O arquivo secreto do Vaticano tem abertas as suas portas a todos os visitantes que por ele queiram passar, na Internet. O centro de pesquisa histórica mais importante do mundo está em foco no sítio oficial da Santa Sé (www.vatican.va). A página está organizada em subsecções: o arquivo ontem e hoje, uma visita ao arquivo através dos frescos e documentos, documentos históricos. E é nesta última que se pode folhear uma carta autografada de Michelangelo, as actas do processo contra Galileo Galilei, ou a carta que o Papa Honório III envia a São Francisco de Assis, confirmando a regra dos Frades Menores. O arquivo, nos moldes em que existe, nasceu por iniciativa de Paulo V, por volta de 1610, se bem que a sua história vá até bem atrás nos séculos, ligando-se às origens e desenvolvimento da própria Igreja Católica. De facto, desde bem cedo nasceu a tradição dos Papas guardarem com cuidado a documentação que se referia ao exercício da sua própria actividade, custodiados no “scrinium Sanctae Romanae Ecclesiae”. A fragilidade dos papiros – utilizados na chancelaria pontifícia até ao século XI, as mudanças políticas e as mudanças de residência fizeram com que o material arquivístico anterior a Inocêncio II se tenha perdido na sua quase totalidade. Graças às novas tecnologias, a Santa Sé transpõe virtualmente para o ecrã uma parte dos seus 85 quilómetros de estantes. O arquivo secreto Vaticano conserva mais de 630 fundos de arquivos diferentes, qualquer coisa como mais de 800 anos de história. Como se explica no sítio, no caso de alguns países, os documentos são os mais antigos, os que datam do próprio início da respectiva história nacional. O documento mais antigo conservado no Vaticano é o famoso “Liber Diurnus Romanorum Pontificum”, livro de fórmulas da chancelaria pontifícia do século VIII.

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Agência ECCLESIA

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