Arqueólogos desacreditam «descoberta» do túmulo de Jesus

O anúncio da alegada descoberta do “túmulo perdido de Jesus” foi recebido pelos especialistas católicos em arqueologia com duras críticas contra a “fantasia” e a intenção “publicitária” dos produtores do documentário. O Studium Franciscanum Biblicum de Jerusalém, através da sua Faculdade de Ciências Bíblicas e Arqueológicas, considera que as declarações de James Cameron estão marcadas por “arqueologia inventada, publicidade e vontade de vender”. Fabrizio Bisconti, secretário da Comissão Pontifícia de Arqueologia Sacra (instituída em 1852), refere à Rádio Vaticano que os nomes a que se fazem referência estavam “muito difundidos” no tempo de Jesus Cristo, em especial a inscrição “Jeshua bar Joseph” (Jesus filho de José), que aparece “pelo menos 70 vezes” nos ossários encontrados até hoje. “De forma alguma podem ser identificados com o túmulo de Jesus”, assegura. Est responsável lembra que os arqueólogos israelitas não sustentam as teses de Cameron, mais preocupado “com o comércio e a divulgação” e longe das “fases científicas em que se constrói a arqueologia”. Sobre a descoberta que serve de base ao documentário realizado por Simcha Jacobovici e produzido por James Cameron, o membro da Comissão Pontifícia de Arqueologia Sacra lembra que ela data já de 1980, e que o arqueólogo Amos Kloner “explicou de modo exemplar o tipo de descoberta que efectuou, ou seja, um túmulo familiar que continha ossários com inscrições referentes a nomes como Jesus, Maria ou Marta”. Em reacção às declarações de James Cameron, Kloner declarou que “os autores do documentário estão a tentar vender o filme”, frisando que os nomes inscritos eram “muito comuns e populares” no primeiro século depois de Cristo, época a que, no seu entender, remonta o túmulo do Bairro de Talpiot. “Jesus e os seus parentes eram uma família da Galileia, sem laços a Jerusalém. O túmulo de Talpiot pertencia a uma família de classe média do século primeiro”, declarou Amos Kloner. Fabrizio Bisconti lembrou ainda que, em 1980, a reacção a esta descoberta “não foi tão espectacular como agora se quer fazer crer”. Joe Zias, antropólogo, referiu que “cerca de 48% das mulheres do período a que se referem os ossários chamam-se Mariam, Maria ou Shlomtzion. O mesmo sucedia com nomes como José, Jesus, e por aí adiante”. “O que aqui fizeram foi simplesmente tentar, de um modo muito desonesto, penso, enganar o público levando-o a acreditar que este é o túmulo de Jesus, ou da família de Cristo. Não tem nada a ver com ele”, explicou. Stephen Pfann, professor de estudos bíblicos, chegou mesmo a dizer que o que vê claramente na ciaxa tumular é o nome Hanun e não Jesus. Ciência e ficção Yossef Gat, arqueólogo dependente da Autoridade de Antiguidades de Israel, foi o responsável pela descoberta da câmara mortuária no sudeste de Jerusalém, em 1980. Ali encontrou um túmulo tipicamente judaico, que remontava ao tempo do Rei Herodes. Os arqueólogos constataram que o espaço principal tinha sido coberto com terra e detritos, escondendo seis “kokhim” (ver foto), espaços onde os corpos permaneciam um ano ou o tempo necessário para a decomposição, segundo os ritos judaicos, antes de os parentes poderem recolher os ossos para guardá-los num ossário. Yossef Gat descobriu 10 ossários com inscrições em hebraico e grego antigo, uma das quais dizia ” Jeshua bar Joseph”, outra “Mara” (forma comum de Maria) e outra “Yose” (forma comum de José). O interior da câmara mortuária esteve encerrado durante longos anos por causa da construção de um edifício precisamente por cima do espaço. Amos Kloner, braço direito de Gat, entretanto falecido, publicou os resultados da descoberta em 1996, na revista da Autoridade de Antiguidades de Israel. O arqueólogo considera que, de forma alguma, este túmulo de Jerusalém poderia ter sido a sepultura da Sagrada Família, natural da Galileia, ao longo de várias gerações.

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