Arcebispo de Braga inaugura restauro da Igreja de São Sebastião, em Guimarães

O Arcebispo de Braga inaugura no próximo dia 3 de Janeiro, durante a Eucaristia dominical vespertina das 17h30m, o restauro da Igreja Paroquial de S. Sebastião – também conhecida como “igreja das dominicas” – no centro histórico de Guimarães. Na ocasião, D. Jorge Ortiga procederá à bênção do altar, uma peça em mármore desenhada (tal como a cátedra, o ambão, a estante e a credência do presbitério) pelo padre e arquitecto José Manuel Ribeiro. Este acto litúrgico oficial ocorre poucos dias após a apresentação pública da segunda fase de inventariação dos bens patrimoniais religiosos da arquidiocese, que a Diocese de Braga e o Instituto de História e Arte Cristãs, em colaboração com os museus Alberto Sampaio (Guimarães) e Municipal da Póvoa de Varzim, vão levar a cabo em várias igrejas da Arquidiocese de Braga (entre elas a de São Sebastião), mais precisamente em nove concelhos, no intuito principal de criar uma base de dados. Na sessão do passado dia 22, no salão nobre do Museu Alberto Sampaio, o prelado deixou bem claro que a Igreja bracarense quer todo o seu património cultural religioso inventariado no espaço de 10 anos, esforço que tem merecido acolhimento e apoio da parte das autarquias abrangidas. Após uma longa jornada de trabalhos, que se estenderam desde Março de 2006, encontra-se restaurado o principal acervo artístico da Igreja Paroquial de São Sebastião, sita no antigo convento de Santa Rosa de Lima ou “das dominicas”. Trata-se de um sumptuoso edifício conventual que começou a ser moldado em finais do século XVII, vindo a ter o seu apogeu no segundo quartel do século seguinte. Essa dinâmica construtiva chamou a Guimarães um importante núcleo de manufactura artística, composto por mestres oriundos de vários pontos do norte do país, realçando-se como uma das construções vimaranenses a contratar o maior número de artistas residentes fora da vila e seu termo. A partilha de informações estilísticas culminou no que é hoje o aspecto geral do convento, extinto enquanto tal a 9 de Março de 1888, com o falecimento da última religiosa. Devido à destruição, em 1892, da primitiva igreja paroquial, que ladeava as muralhas da cidade, e onde hoje podemos ler que “Aqui nasceu Portugal”, a paróquia aloja-se na igreja do Templo das Dominicas, que passa assim a assumir as funções de igreja paroquial da freguesia de São Sebastião. De fora da paróquia ficou toda a restante estrutura do convento e sua cerca, cedida pelo Governo à Câmara Municipal. Aos olhos de quem a visita, tal espaço, “espaço aberto sem rei nem roque”, nas palavras do pároco, Padre José Antunes, encontra-se infelizmente numa situação de iminente ruína, chegando a pôr em risco todo o valor patrimonial que constitui a igreja contígua. O conjunto patrimonial da Igreja de São Sebastião é constituído pelo altar-mor em talha dourada, no topo da igreja, construído nos anos de 1741-42 por António Fernandes Palmeira, de Braga, um dos mestres entalhadores mais afamados da época; dois altares laterais em talha dourada e policromada de 1745, por António da Cunha Correia Vale e seu irmão Manuel da Cunha Correia, de Barcelos; altar em talha dourada de pequenas dimensões, dedicado a Santa Teresinha, de autor desconhecido; altar do século XX que consagra a imagem de São Sebastião, em estilo neoclássico, e que, pelo desfasamento de séculos existente entre os altares, leva a crer tratar-se de uma adaptação recente para identificar o padroeiro; um órgão de tubos ricamente trabalhado em talha dourada e policromada, construído em 1776 por José António da Cunha; um púlpito dourado e policromado e, finalmente, um conjunto de sanefas em talha dourada do período joanino, que coroam as portas e janelas. Com o passar dos anos, todo o acervo necessitava de urgente intervenção, por forma a devolver-lhe toda a sumptuosidade e luminosidade que lhes era característica. Esta acção de conservação e restauro foi levada a cabo pela empresa Sacrorum Custos, sedeada no Porto. Consistiu o principal objectivo na conservação das estruturas, desinfestando as madeiras e consolidando-as, na fixação do ouro que se encontrava em destacamento, no levantamento de purpurinas e outros repintes e na sua limpeza. Esta intervenção veio trazer à luz do dia todo o esplendor original da talha, que se encontrava apagada pelas sucessivas intervenções anteriores, inadequadas à ética da conservação e restauro. Ao longo do restauro surgiu uma urgente necessidade de remodelar a instalação eléctrica que, devido à sua antiguidade, punha em causa toda a obra. A intervenção foi então interrompida para se instalar não só nova iluminação, minimizando a intensidade, como uma instalação eléctrica adequada ao edifício, pretendendo valorizar e salvaguardar toda a talha da igreja. Aquando da colocação da estrutura eléctrica, que obrigou ao levantamento do soalho e a aberturas nas paredes da igreja para a passagem dos fios, descobriu-se o pior: uma colónia de formiga branca tinha infestado o soalho e as bases dos altares. A intervenção era interrompida pela segunda vez para desinfestar cuidadamente os locais, sendo que a formiga branca vagueava um pouco por toda a estrutura da igreja. Para tal, foi necessária a eliminação do principal foco de atracção desta praga, a humidade, vedando todos os focos presentes na igreja e deixando-a estanque a esse factor atmosférico para prevenir novas colónias de formigas. Em síntese, as obras de restauro da talha impuseram uma acção de conservação global de todo o edifício, criando uma estrutura de elevado interesse patrimonial para a cidade de Guimarães. A igreja merece fazer parte do seu roteiro arquitectónico e é sem dúvida um pilar importante para a mostra da cultura vimaranense na Capital da Cultura de 2012. Aliás, espera-se que no âmbito desta iniciativa, ou com a acção da Câmara de Guimarães, seja devolvida à igreja a possibilidade de o órgão voltar a tocar, relembrando a época áurea em que o som dos tubos ecoava por toda a estrutura conventual e despertava nos crentes a beleza do transcendente e da presença divina.

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