Apostolado da Oração celebra 175 de presença em Portugal a passar para o digital uma proposta de espiritualidade

O diretor do Secretariado Nacional Rede Mundial de Oração do Papa considera que o ‘Click to Pray’ concretiza a passagem para o digital da proposta espiritual do Apostolado da Oração.

Na entrevista à Agência ECCLESIA e À Renascença, o padre António Valério traçou o percurso dos meios de divulgação de uma espiritualidade, desde ‘A Cruzada’ até ao ‘Click to Pray eRosary’, valorizando o “melhor da tecnologia” e o melhor da “tradição espiritual” num movimento que está nas dioceses de Portugal

Agência Ecclesia/MC

Entrevista conduzida por Ângela Roque (Renascença) e Paulo Rocha (Agência ECCLESIA)

Como é que um movimento já sénior, como é o Apostolado da Oração (AO) mantém uma proposta atual para as gerações de hoje? É um desafio constante?

Podemos dizer que o AO é um movimento sénior na sua história de 175 anos e também no seu modo de participação habitual, pela idade das pessoas que nele participam há muito tempo, porque tem uma presença muito forte nas nossas paróquias e uma tradição muito grande, e como acontece nos movimentos da Igreja e da sociedade, já está com pessoas de mais idade. Por isso é que tem sido uma experiência muito interessante o rejuvenescer destes grupos nos últimos anos, com gerações mais novas que vão entrando, com propostas diferentes para chegar a um público mais juvenil, e é nisso que temos estado a apostar.

 

Propostas como o ‘Click to Pray’ ou o ‘Passo-a-rezar’, com o uso das tecnologias que há hoje ao dispor, foram apostas ganhas? Têm tido uma adesão crescente?

Sim, e muito surpreendente. No fundo é manter esta imagem do Evangelho que diz que o homem sábio vai tirando coisas velhas e novas do seu tesouro e, por isso, o Apostolado da Oração, com uma história tão longa, tem a validade de uma proposta já muito experimentada e com muitos frutos espirituais na vida das pessoas e também na vida da Igreja.

Esta proposta continua a ser válida para todos os tempos e para todas as pessoas, mas temos novos canais de comunicação dessa proposta, por isso, ao apostar nas novas tecnologias com o ‘Passo-a-rezar’ e o ‘Click to Pray’ chegamos às pessoas mais novas, que aderiram muito facilmente.

 

O ‘Click to Pray’ é um projeto “made in Portugal”, que se transformou na aplicação oficial da Rede Mundial de Oração do Papa. Isto foi um momento importante para a presença do AO em Portugal?

Sim. Creio que de alguma maneira, mesmo no trabalho do Secretariado Nacional do Apostolado da Oração – que é a organização que leva para a frente a Rede de Mundial de Oração do Papa aqui em Portugal – há um antes e um depois do lançamento do ‘Click to Pray’. Já havia a experiência do ‘Passo-a-rezar’, que mostrou que é possível, e com muito fruto, fazer propostas de oração através das novas tecnologias, mas o ‘Click to Pray’ é passar para o digital a proposta espiritual do Apostolado da Oração. Começou em 2014, com o lançamento em Fátima e, passado dois anos, já estava a ser adotada como a plataforma da Rede Mundial de Oração do Papa a nível internacional. Passado três anos, em janeiro de 2019, o Papa Francisco abriu a sua própria conta de utilizador para colocar as suas intenções e a partir daí é uma comunidade com dois milhões de pessoas em todo o mundo, em sete línguas. Por isso, foi um crescimento muito grande, o que mostra que isto é útil e as pessoas precisam e procuram este tipo de propostas.

 

Click to Pray eRosary

Já esta semana a Rede Mundial de Oração do Papa lançou uma nova aplicação para se rezar o terço.

Tem a ver diretamente com o facto de o Papa Francisco ter criado a sua conta de utilizador. Ele põe lá as suas intenções de oração e isso teve um impacto mundial muito grande. Depois a empresa GTI (Gadge Tec Inc.), sedeada em Taiwan, que faz dispositivos eletrónicos, ao pensar fazer um para rezar o terço quis procurar um parceiro para os conteúdos. Ao ver que havia este projeto da Rede Mundial de Oração do Papa entrou em contacto e decidiu-se avançar. No fundo é um dispositivo eletrónico que junta o melhor da tecnologia com o melhor da tradição espiritual católica da Igreja , a oração do terço, e com uma missão muito concreta: este dispositivo é para rezar o terço pela paz no mundo, seguindo o pedido que o Papa Francisco faz com muita insistência aos jovens.

 

Para quem ainda não tomou contacto com este novo dispositivo, muito sinteticamente como é que funciona esta dezena eletrónica?

Eu ainda só vi vídeos de explicação, porque ainda não chegou a Portugal, ainda não está disponível em português. Foi lançado no dia 15, no Vaticano, em italiano, inglês e espanhol.

É uma pulseira. São dezenas com o formato de uma pulseira, em material resistente, para as pessoas andarem. Está ligada a uma aplicação móvel e a pessoa, ao rezar o terço, conta as dezenas e os mistérios na própria aplicação. A aplicação tem uma proposta do terço, não só em texto, mas a pessoa pode ver imagens, ouvir as próprias meditações enquanto está a caminhar, porque isto também é pensado para a mobilidade. Por isso é uma proposta em que se junta um dispositivo eletrónico com uma aplicação móvel e vai contando os terços que a pessoa vai rezando.

 

Tem custos?

Tem os custos destes dispositivos eletrónicos, não só por causa do material em que é feito, que tem de ser resistente, mas também os conteúdos, a nível das imagens e a tecnologia em si mesma. Podemos dizer que não é um dispositivo acessível a todas as carteiras, mas este projeto também serve para financiar o ‘Click to Pray’, que continua a ser uma aplicação gratuita mas que tem os seus gastos, porque uma plataforma com uma grande quantidade de utilizadores tem gastos bastante avultados.

 

Já houve muitas encomendas?

Sim. No dia seguinte ao ‘Click to Pray eRosary’ ter sido lançado já havia muitos pedidos para comercializar este produto em vários sítios, sobretudo nos Estados Unidos, nas Filipinas. Foi um lançamento mundial e há muito interesse.

 

 

Perfil de uma Obra Pontifícia

O Apostolado de Oração é uma obra pontíficia confiada aos jesuítas, que tem como missão principal divulgar as intenções de oração do Papa. Talvez valha a pena explicar como é que isso acontece. Já falamos destes vários dispositivos, mas há também o ‘Vídeo do Papa’, por exemplo, que é divulgado todos os meses, com uma mensagem do próprio Papa Francisco.

E isso dá muita visibilidade e foi muito importante nesta transição ou pelo menos na apresentação do Apostolado da Oração como Rede Mundial de Oração do Papa.

Como obra pontifícia é um serviço próprio do Papa e o Papa dá a cara e dá o seu tempo todos os meses para fazer este vídeo de um minuto, onde propõe a sua intenção de oração, aquilo que ele entende ser um grande desafio do mundo ou da missão da Igreja e para o qual é importante mobilizar os cristãos. O Papa está muito empenhado na recriação deste serviço e é por isso que um dos pontos altos foi o lançamento do ‘Vídeo do Papa’, em 2016, e ele tem feito fielmente este vídeo todos os meses. Depois temos todos os outros dispositivos, mas também comunicamos as intenções de oração através do papel e dos canais mais tradicionais.

 

Ainda há público para eles, a que é preciso dar resposta?

E muito público, sim. Aqui em Portugal fazemos isso através da revista ‘O Mensageiro do Coração de Jesus’ ou com aquelas folhas a que chamamos os bilhetes mensais, que são distribuídos nas nossas paróquias. Continuam a ser ferramentas para chegar a um público muito alargado.

 

É com essas ferramentas que chegam à maioria do público?

Se formos falar de um nível mais paroquial sim, o que chega é o papel, apesar das pessoas, como vamos percebendo, não é por terem mais de 50 ou 60 anos que não vão usar as novas tecnologias. Por isso, para estas pessoas é muito interessante terem as propostas em papel, mas já começaram a ter contacto com as propostas no digital.

 

E têm reação das pessoas sobre estas aplicações, como o ‘Click to Pray’ ou o ‘Passo-a-rezar’?

Sim, sabemos que as usam, porque as pessoas começam a utilizar a internet e por isso conhecem. Conseguem aceder no site e também recebem as propostas através do email e ficam muito contentes, porque é uma forma de transmitir aos filhos ou aos netos estas propostas e perceber que eles podem rezar tal como elas rezam, embora de uma forma diferente, mas estão a rezar pela mesma intenção.

 

Apostolado de Oração: um movimento nacional

Falamos de novas tecnologias, mas há um grande percurso até se chegar aqui, por parte do Apostolado da Oração, que está em Portugal desde 1864. Mantêm presença nas várias dioceses do país? Como é que o movimento funciona em termos de estrutura?

A nível de estrutura aqui em Portugal a única forma de pertença era através de um movimento diocesano, e isso manteve-se, mesmo com esta recriação que aconteceu com a aprovação dos estatutos, o ano passado. O responsável dos vários centros do AO que existem em cada paróquia – e não quer dizer que todas as paróquias tenham – é o pároco, tem a sua direção local e depois tem os zeladores, que transmitem e levam as intenções aos associados, as pessoas que fazem parte do Apostolado da Oração. Isto em algumas dioceses está muito vivo e presente, noutras já menos. Creio que acompanha muito também a realidade eclesial das várias dioceses. Há dioceses mais vivas do que outras, porque têm mais pessoas ou mais movimentos.

 

Mas ainda são muitos elementos? Ainda é expressivo em termos de número de associados e zeladores?

Como os centros do Apostolado da Oração funcionam muito independentes, mais a nível diocesano, não temos uma contabilidade, uma noção precisa de quantos são, mas sabemos que são centenas de milhar de pessoas, é um movimento muito numeroso. Sabemos também que a tendência é serem de idades mais altas, mas é muito numeroso e muito frequente. Há uns anos atrás havia dioceses que tinham um centro de Apostolado da Oração em todas as paróquias. Agora muitas já não têm.

 

Falou há pouco falou da importância das publicações em papel. Que relevância têm publicações como a ‘Cruzada’ ou o ‘Mensageiro do Coração de Jesus’ nesta divulgação das intenções do Papa e da espiritualidade do Apostolado da Oração?

Há uma linha de fundo que as nossas publicações procuram ter. A ‘Cruzada’ com um acento para a classe mais popular…

 

Que tiragem tem?

Tem 55.000 assinantes.

 

Mas, já chegou a ter mais de 100.000?

Sim, nos anos 50, 60, 80, quando era o meio principal de divulgação. Tem vindo a diminuir, o que é normal, e os meios digitais têm vindo a aumentar. Por isso estas revistas estão também em formato digital, a pessoa pode fazer uma subscrição e receber em formato PDF, e tem aumentado o número de pessoas que vão subscrevendo o formato digital.

A orientação destas revistas é divulgar as intenções de oração do Papa, mas com uma insistência muito grande na formação cristã para a vida de oração e também para a formação cristã mais catequética. O ‘Mensageiro’ numa forma um bocadinho mais estruturada, com outro tipo de linguagem e abordagem. A revista ‘Cruzada’ é mais através do contar histórias, através de exemplos as pessoas aprendem os conteúdos da fé.

É curioso que se fala muito da importância da comunicação do story telling. E a ‘Cruzada’, que já existe há 80 anos, já há 50 anos o seu grande sucesso era o story telling. A fórmula da ‘Cruzada’ é exatamente esta e toca muito as pessoas, porque até são os próprios assinantes que escrevem para lá a contar os seus testemunhos. Há uma secção de testemunhos onde contam dificuldades porque passaram e como a fé os ajudou, fala da intercessão dos Santos. É uma revista muito interessante.

 

Já este mês de outubro teve lugar o encontro anual dos diretores diocesanos do Apostolado da Oração. Quais foram as conclusões mais relevantes, já a olhar para médio e longo prazo?

Houve um processo antes, com as reuniões dos diretores, que são os responsáveis em cada diocese pelo Apostolado da Oração. e que são nomeados pelo respetivo bispo.

Nestes últimos anos fez-se a análise dos estatutos da Rede Mundial de Oração do Papa e como é que esses estatutos se aplicam agora na vida dos centros do Apostolado da Oração. Agora nesta altura é importante fazer um ponto de situação e uma avaliação. Como é que os novos estatutos foram recebidos nos centros? Como é que está a ser implementada esta nova mentalidade, que de alguma maneira traz algum ar fresco para a vitalidade do movimento? Que caminhos é que se vão abrindo? Os diretores diocesanos têm notado que tem havido uma boa abertura por parte dos centros de perceber que há pessoas mais novas a interessar-se por esta obra e que o Papa está explicitamente mais empenhado na divulgação das suas intenções.

 

Já vimos como os meios digitais são ferramentas muito importantes para chegar aos jovens. Já estão a pensar em alguma iniciativa em concreto para a Jornada Mundial da Juventude, que vai decorrer aqui em Lisboa?

Ainda está muito no início. Depende dos contactos que possam fazer-se com as pessoas e as equipas que vão estar a organizar as Jornadas. A experiência mais recente foi nas JMJ do Panamá. Claro que as Jornadas têm a sua própria aplicação móvel, mas fez-se a proposta, e foi aceite, de o ‘Click to Pray’ ser a aplicação oficial de oração da JMJ. Poderá passar por aí ou por outra forma de colaboração, mas ainda está tudo em aberto nesta fase.

 

175 anos de AO

Os 175 anos do Apostolado da Oração vão ser comemorados este fim-de-semana, em Fátima. O que é que está previsto?

As comemorações dividem-se em dois momentos: dia 19, sábado, vai haver um colóquio, com várias conferências sobre o Coração de Jesus, porque o Sagrado Coração de Jesus é, de alguma forma, a identidade ou a imagem que identifica mais o AO, que também tem como missão difundir esta espiritualidade. Vai-se olhar para o Coração de Jesus a partir de várias perspetivas, bíblica, pastoral, mais histórica. O dia termina com uma Eucaristia e à noite haverá uma vigília e adoração.

No Domingo, dia 20, é que é o momento celebrativo, com mais pessoas. Já vai ser na esplanada do Santuário, com o terço às 10h00 e a Eucaristia às 11h00.

Para além da celebração dos 175 anos do AO é também o encerramento do Ano Missionário, por isso o terço vai ser mais voltado para as missões.

 

Que pontos de encontro existem entre a espiritualidade do Coração de Jesus, do Apostolado da Oração, e esta atitude missionária que se celebra neste Domingo, Dia Mundial das Missões?

Existem desde a sua génese. A proposta espiritual do Apostolado da Oração é oferecer o dia. Se virem a oração da manhã do ‘Click to Pray’ termina sempre ‘ofereço o meu dia pelas intenções do Papa’ e as intenções do Papa são sempre o que é que há a fazer para mudar ou melhorar a vida da Igreja e a vida do mundo, há um espírito missionário muito explícito, é a pessoa unir a sua vida e as suas orações a esta missão da Igreja. Por isso, desde o início que é rezar e oferecer a vida pela missão da Igreja e saber que a própria oração é já uma missão. O estar a rezar já é estar a ser enviado. Por isso, oração e missão estão muito unidas no Apostolado da Oração.

 

No final desta peregrinação os bispos portugueses vão consagrar as dioceses do país ao Coração de Jesus. Que importância tem este momento?

É um momento importante e acontece por sugestão da própria Conferência Episcopal, o que também nos deixou muito contentes e agradecidos. De alguma maneira é um reconhecimento da importância que o Apostolado da Oração teve na história da Igreja ao longo deste tempo, e houve momentos, ao longo do último século, onde a devoção ao Coração de Jesus foi muito assinalada e presente pelos senhores bispos. Agora, fazer esta celebração no contexto do Ano Missionário é uma forma de reafirmar a centralidade da pessoa de Jesus no coração da Igreja, por isso é uma ocasião muito feliz para fazer esta consagração.

 

Falámos da Rede Mundial de Oração do Papa e de várias plataformas que ajudam as pessoas a rezar. Quer deixar alguma mensagem, alguma sugestão, a quem está arredado da fé?

Mesmo quem esteja mais afastado, há sempre uma coisa que acontece na oração: o contacto com a interioridade. Porque a nossa vida puxa-nos demasiado para fora de nós, a velocidade das coisas, as tarefas que temos, e a oração é uma porta de entrada para o mundo interior, para o contacto com ‘o que é que se passa dentro de mim?’.

O ‘Click to Pray’ propõe pequenas orações todos os dias que ajudam a pessoa a pensar ‘como é que eu estive ao longo do dia?’, ‘com que atitude é que eu começo o meu dia?’. Só isto ajuda logo a pessoa a encarar a vida com outra tranquilidade e com outra paz, sabendo que a oração acaba por ser sempre também o trabalho da graça de Deus. Isso é algo que nós não experimentamos, sensivelmente, mas a graça de Deus trabalha em nós na oração, e por isso também vai dando os seus frutos.

 

Rezar também se aprende. E rezar faz falta?

Sim! E é essencial. E, por isso, creio que o Papa Francisco também está muito motivado e quando foi a celebração dos 175 anos do Apostolado da Oração, em Roma, em que peregrinos de todo o mundo se juntaram com o Papa, ele disse que ‘o coração da missão da Igreja é a oração’. É a grande frase que ficou daquele encontro. Ele disse que ‘podemos fazer muitas coisas, mas sem a oração não vamos lá’. Portanto, esta ideia de que a Igreja não pode ser uma ONG (organização não governamental) e que o que diferencia a Igreja de uma ONG é o sermos movidos pela oração e a relação com Jesus, que por isso é que está exatamente no centro.

 

Durante muitos séculos a oração passou por ambientes sagrados, por igrejas, por conventos, agora está no ambiente digital. É preciso estar por dentro destas linguagens ou ter frequentado a catequese para receber propostas como as que aparecem na aplicação ‘Click to Pray’, por exemplo, ou qualquer pessoa pode, a partir daí, iniciar uma caminhada?

A ideia é que a pessoa, mesmo não tendo nenhuma catequese, mas desde que tenha alguma abertura e diga ‘isto pode fazer sentido para mim’, possa pegar naquelas propostas e ser perfeitamente “rezável”

 

A linguagem utilizada leva aí?

Leva aí. Até porque o que costumamos propor às pessoas que escrevem estes conteúdos é que pensem no público-alvo: um jovem entre 18 e 25 anos, que tem pouquíssima catequese e que tem vontade de rezar. Não usar termos teológicos muito complexos, que a pessoa não sabe o que significa. A linguagem tem de ser muito simplificada e deve ser muito colada à vida do dia-a-dia, que ajuda a pessoa, mesmo sem ter um grande substrato a nível de catequese, a conseguir rezar.

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Agência ECCLESIA

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