«Ao ver a estrela os Magos sentiram grande alegria»

Homilia do Bispo de Santarém na celebração da Epifania “Ao ver a estrela os Magos sentiram grande alegria”. A celebração da Epifania prolonga e amplia a alegria do Natal. Neste domingo são os Reis Magos que exemplificam e convidam a viver a alegria da salvação que Jesus pelo seu nascimento traz para todos os homens. Antes de mais para a sua Igreja garantindo-lhe que a acompanha e guia na peregrinação por este mundo obscurecido pelas trevas: “Levanta-te e resplandece Jerusalém porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor”. A alegria do Natal é oferecida igualmente a todos os povos. Da pequena cidade de Belém da Judeia irradia uma mensagem universal de renovação da humanidade. No Menino pobre e humilde do presépio “manifesta-se a graça de Deus que traz a salvação a todos os homens” (Tito 2,11), torna-se visível o sorriso de Deus que confia nos homens e vem viver com eles. Epifania é a manifestação da bondade e da misericórdia de Deus que vem ao nosso encontro para nos conduzir pelos Seus caminhos – caminhos de fraternidade e de justiça, de amor e de paz. Nos vários acontecimentos da Epifania, – revelação aos Magos por uma estrela; ao povo judaico no Baptismo pelo cumprimento das profecias; aos discípulos em Cana pelos sinais que realiza – em todos estes momentos se manifesta a universalidade da salvação e desabrocha a alegria do Natal. “Instruídos nestes mistérios da graça divina, irmãos caríssimos, celebremos com alegria espiritual o dia das nossas primícias e o princípio da vocação dos gentios à fé e à salvação”, assim nos recomenda São Leão Magno, no sermão da Epifania, apresentado hoje no ofício de leitura. Na nossa diocese de Santarém a alegria tem um motivo acrescido pela ordenação de um presbítero, Tiago Moita, e de três diáconos, Mário Taglialatela, Pedro Dionísio e Ricardo Conceição. Eles vêm enriquecer a Igreja diocesana e permitir uma assistência pastoral mais rica ao povo de Deus. Como os Reis Magos também estes jovens se puseram a caminho para se prostrarem e consagrarem ao Senhor e Lhe oferecerem o dom das suas vidas, representado nos três presentes dos Magos: ouro, incenso e mirra. Também eles oferecem o ouro da sua entrega total ao serviço da Igreja e dos homens; o incenso da oração que dirigem a Deus por si mesmos e pelo povo, realçando a dimensão espiritual da vida humana; a mirra da humildade e da obediência com que confiam em Deus e se dedicam à missão que a Igreja lhes pede. A comunidade diocesana dá graças ao Senhor por este presente dos Reis e vive com alegria e com esperança a ordenação para o ministério que vem enriquecer o trabalho na vinha do Senhor. Em nome desta porção do povo de Deus agradeço a presença de todos vós que viestes partilhar a alegria deste acontecimento. Antes de mais, aos ordinandos que, guiados pela estrela da vocação, deixaram tudo e se puseram a caminho do ministério com esforço e perseverança. Saúdo também com cordialidade e gratidão as suas famílias que os ajudaram a crescer na vida e na vocação. Manifesto o reconhecimento da diocese aos seminários e aos seus responsáveis que os acompanharam com dedicação e os ajudaram a discernir e a amadurecer a vocação. Com o presbitério diocesano, de modo particular com a equipa diocesana das vocações, partilho a mesma alegria por estas ordenações e o mesmo cuidado pela pastoral vocacional. Saúdo também os seminaristas, os pré seminaristas, os diáconos permanentes e os(as) religiosos(as) envolvidos na mesma aventura da vocação de consagração. Às comunidades cristãs aqui representadas, sobretudo aquelas que têm acolhido e ajudado estes candidatos no seu crescimento e preparação, declaro igualmente o meu reconhecimento pelo apreço e apoio que prestam às vocações consagradas que se dispõem a servir o povo de Deus. Os Magos são figuras exemplares do itinerário da procura da luz e da verdade que dá sentido à vida humana. Ensinam-nos, portanto, a pormo-nos a caminho da beleza e da santidade de Deus. Colocam-nos também perante a responsabilidade da missão. Na verdade, a luz de Cristo que resplandece no rosto da Igreja é para levar a todos os homens. De Belém parte um movimento para renovar a humanidade. Os Magos exemplificam, assim, dois movimentos: o caminho para encontrar a alegria da salvação; e o movimento da missão que, partindo do presépio, irradia a luz de Cristo no mundo. 1.Vieram de longe guiados pela estrela do Messias. Podemos considerar o caminho dos Magos como uma “peregrinação de confiança sobre a terra” servindo-nos da linguagem dos encontros de Taizé. Só com uma confiança total em Deus, estes estudiosos dos astros poderiam despojar-se das suas comodidades e pôr-se a caminho do desconhecido, enfrentando perigos, procurando constantemente o rumo certo, consultando pessoas que encontravam no seu trajecto. Confiaram na estrela como um sinal de Deus e continuaram a esperar mesmo quando a estrela desapareceu. Só a esperança permite aguardar que depois da escuridão regresse a luz. A confiança que colocam em Deus leva-os a confiar neles mesmos e nas pessoas com quem se cruzam no caminho. Ensinam-nos assim que a vocação à fé e à vida cristã é um caminho de confiança, é um percurso em direcção à luz de Deus que nos leva a procurar novos horizontes, a confiar na novidade do futuro, a crescer no conhecimento e na perfeição, na fidelidade e na santidade. Parar ou instalar-se nos patamares alcançados é recuar. Os Magos são, deste modo, as primícias de todos os que se põem a caminho da perfeição confiantes nas promessas de Deus. Na sua humildade e insatisfação, no desapego e abertura à novidade, mostram que o caminho da alegria e da luz não é a corrida aos bens de consumo, aos prazeres ou às vaidades pessoais, mas o percurso laborioso de Belém que aproxima da santidade Deus. 2. De Belém partiu para todos os homens a luz da salvação: Quem encontra a luz do Messias Senhor não a guarda escondida porque Deus a todos se quer revelar. Quem reconhece Deus presente na humildade do presépio torna-se portador da esperança e segue o caminho da missão ao encontro dos que precisam da luz da fé, da alegria que nasce da esperança e do amor, levando a consolação aos feridos, o acolhimento aos que andam perdidos, a ternura aos que sofrem a solidão, a dedicação ao serviço dos que precisam dos dons de Deus. Torna-se servidor do evangelho da paz. Numa época de profundo relativismo, de indiferença e até de desconfiança da fé cristã, anunciar o evangelho constitui um difícil desafio. É como remar contra a corrente. O profeta Isaías lembra-nos a força poderosa que as trevas exercem no mundo: “Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos” (Is 60,2). A evangelização parece hoje chocar contra uma muralha de preconceitos, de confusão e desinteresse. Sentimos agudamente o que São João nota no prólogo do evangelho: “A luz brilhou nas trevas mas as trevas não a receberam” (Jo 1, 5). Como tornar audível o evangelho no meio de tanto ruído? Como tornar credível a mensagem da paz, da esperança e do amor para aqueles que se julgam auto-suficientes? A linguagem e os meios da Epifania (a harmonia da criação, o cumprimento das Escrituras, os sinais da intervenção de Deus) ainda têm significado? Os meios da Epifania de Deus são de todos os tempos. Mas, segundo o evangelho, precisam de um alicerce: a experiência pessoal de encontro com o Senhor, tal como os Magos a viveram: “Viram o Menino e, prostrando-se diante dele adoraram-no”. No encontro com aquele menino e sua mãe reconheceram a presença humilde de Deus. Foi o momento culminante da sua laboriosa caminhada que os transformou e fez regressar felizes às suas terras. Neste gesto podemos concluir que o evangelizador precisa de fundamentar o anúncio numa experiência gozosa e esclarecida da fé. A partir deste alicerce ganham solidez as palavras da Escritura e os sinais que formam o conteúdo da evangelização. Maria a estrela da evangelização viveu intensamente esta experiência pessoal de encontro com o mistério de Cristo. Com ela aprendamos a escutar, a meditar e a guardar no coração as palavras e os sinais de Deus e a oferecer ao mundo a luz de Cristo. D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém

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