Ao serviço dos migrantes

Padre Manuel Soares, Antigo diretor da OCPM

 

 Após sete anos no estrangeiro como missionário dos portugueses emigrantes, fui convidado a assumir a direção da Obra Católica de Migrações, tendo começado as minhas funções nesse cargo em outubro de 1984. Sucedi ao saudoso Mons. Martinho Pereira dos Santos que, nesse ano, se tornou responsável de uma missão portuguesa na Suíça.
Durante o exercício do meu cargo como diretor tive ocasião de trabalhar com diversas comissões episcopais deste setor presididas pelos bispos D. Eurico Nogueira, D. Teodoro de Faria, D. Manuel Martins e D. Januário Torgal. Só no ano 2000 me foi concedida a dispensa do cargo, tendo sido substituído pelo Padre Rui Pedro, que eu próprio indicara como meu possível sucessor.
Os primeiros anos de trabalho na OCPM foram dedicados quase exclusivamente às comunidades portuguesas no estrangeiro, particularmente na Europa, América do Norte, África do Sul, Marrocos, Venezuela e Austrália. Naqueles anos calculava-se em 4,5 milhões o número de portugueses na diáspora, reunidos em comunidades espalhadas por todo o mundo que eram servidas por cerca de 480 sacerdotes, 70 religiosas e 20 diáconos, a maioria dos quais não eram portugueses. O problema principal com que se debatia a Obra de Migrações era falta de pastores verdadeiramente insuficientes e até mal preparados para as funções.
Em nome da OCPM e da Comissão Episcopal estive presente em reuniões internacionais de diversos organismos: ICMC (International Catholic Migration Comission), COMECE (Comissão Episcopal da Comunidade Europeia) e CCEE (Conselho das Conferências Episcopais Europeias). Igualmente tomei parte em variados encontros do Conselho Pontifício de Migrações.
A pastoral da emigração sazonal mereceu todo o interesse da OCPM devido às condições particularmente difíceis deste modo de emigração. Fizeram-se encontros pastorais no nosso país e no estrangeiro, visitas pastorais, reuniões diversas.
Os Secretariados Diocesanos de Migrações, apoiados e coordenados pela OCPM, reuniam-se anualmente, como ainda hoje o fazem, em locais variados que as diferentes dioceses proporcionavam. Nelas se debatiam os problemas mais prementes desta pastoral e se tomavam as resoluções julgadas mais necessárias e possíveis. Também, como diretor, visitei pessoalmente algumas dioceses em companhia do respetivo secretário diocesano.
A comunicação social foi um setor a que demos a maior atenção. A OCPM apoiou vários jornais da Igreja dedicados à problemática da emigração, criámos e sustentámos programas radiofónicos para os portugueses emigrados, colaborámos de muitas formas com a Agência Ecclesia.
A partir do início da década 90 o nosso país começou a ser procurado pela imigração e por refugiados. Já tínhamos recebido muitos caboverdeanos que neste país eram tolerados e até aceites em muitos trabalhos onde eram necessários. Mas os últimos anos do século foram um período importante de entrada de estrangeiros neste país porque já pertencíamos à União Europeia e o muro de Berlim tinha desaparecido. A grande quantidade de estrangeiros procurando trabalho colocou problemas difíceis à sociedade portuguesa, sobretudo de controle na entrada e permanência no território. O governo estabeleceu um período extraordinário de legalização mas foi mal preparado. O esforço não atingiu o resultado desejado. A OCPM participou ativamente nesse esforço, sensibilizando os que podiam beneficiar. Com a mudança de governo outro período de legalização se abriu com normas mais cuidadas, ensinadas pela experiência do anterior. Também neste 2.º período a OCPM esteve muito ativa, organizando as associações de imigrantes num trabalho conjunto (SCAL) e influindo muito profundamente, em colaboração com essas associações e estruturas do governo, na legislação necessária para a imigração.
Nesses anos a situação de extrema pobreza de muitos estrangeiros, imigrantes e solicitantes de refúgio político, obrigou a OCPM  a abrigar e apoiar muitas famílias em grande dificuldade social. Fizeram-se parcerias com instituições importantes (ACNUR, Centrais sindicais, CPR, Misericórdia de Lisboa, Associações de imigrantes e diversos grupos da Igreja nomeadamente a Caritas e Congregações religiosas) que, em conjunto, procuraram acudir a muitas emergências. A certo momento o próprio governo atribuiu verbas que permitiram aliviar o sufoco em que a OCPM, associações e outros organismos se encontravam ao desenvolver este apoio social.
Ao fim de 16 anos de serviço à Igreja no campo das migrações ficou uma sensação frustrante de trabalho inacabado. Não obtivemos um documento oficial da Conferência Episcopal sobre a Pastoral das Migrações, não promovida nem organizada a comunicação social de e para as comunidades na diáspora (jornais, programas radiofónicos, televisivos) nem sequer um boletim de intercâmbio e informativo entre os missionários, não foi organizada minimamente a pastoral do turismo, sentiram-se grandes obstáculos na pastoral dos ciganos e na assistência religiosa dos aeroportos.
Ao deixar a OCPM no início do ano 2000 disse que as migrações continuavam a ser uma imensa panela a ferver ou um vulcão em plena atividade incontrolável.
Padre Manuel Soares
Antigo diretor da OCPM

 

 Após sete anos no estrangeiro como missionário dos portugueses emigrantes, fui convidado a assumir a direção da Obra Católica de Migrações, tendo começado as minhas funções nesse cargo em outubro de 1984. Sucedi ao saudoso Mons. Martinho Pereira dos Santos que, nesse ano, se tornou responsável de uma missão portuguesa na Suíça.

Durante o exercício do meu cargo como diretor tive ocasião de trabalhar com diversas comissões episcopais deste setor presididas pelos bispos D. Eurico Nogueira, D. Teodoro de Faria, D. Manuel Martins e D. Januário Torgal. Só no ano 2000 me foi concedida a dispensa do cargo, tendo sido substituído pelo Padre Rui Pedro, que eu próprio indicara como meu possível sucessor.

Os primeiros anos de trabalho na OCPM foram dedicados quase exclusivamente às comunidades portuguesas no estrangeiro, particularmente na Europa, América do Norte, África do Sul, Marrocos, Venezuela e Austrália. Naqueles anos calculava-se em 4,5 milhões o número de portugueses na diáspora, reunidos em comunidades espalhadas por todo o mundo que eram servidas por cerca de 480 sacerdotes, 70 religiosas e 20 diáconos, a maioria dos quais não eram portugueses. O problema principal com que se debatia a Obra de Migrações era falta de pastores verdadeiramente insuficientes e até mal preparados para as funções.

Em nome da OCPM e da Comissão Episcopal estive presente em reuniões internacionais de diversos organismos: ICMC (International Catholic Migration Comission), COMECE (Comissão Episcopal da Comunidade Europeia) e CCEE (Conselho das Conferências Episcopais Europeias). Igualmente tomei parte em variados encontros do Conselho Pontifício de Migrações.

A pastoral da emigração sazonal mereceu todo o interesse da OCPM devido às condições particularmente difíceis deste modo de emigração. Fizeram-se encontros pastorais no nosso país e no estrangeiro, visitas pastorais, reuniões diversas.

Os Secretariados Diocesanos de Migrações, apoiados e coordenados pela OCPM, reuniam-se anualmente, como ainda hoje o fazem, em locais variados que as diferentes dioceses proporcionavam. Nelas se debatiam os problemas mais prementes desta pastoral e se tomavam as resoluções julgadas mais necessárias e possíveis. Também, como diretor, visitei pessoalmente algumas dioceses em companhia do respetivo secretário diocesano.

A comunicação social foi um setor a que demos a maior atenção. A OCPM apoiou vários jornais da Igreja dedicados à problemática da emigração, criámos e sustentámos programas radiofónicos para os portugueses emigrados, colaborámos de muitas formas com a Agência Ecclesia.

A partir do início da década 90 o nosso país começou a ser procurado pela imigração e por refugiados. Já tínhamos recebido muitos caboverdeanos que neste país eram tolerados e até aceites em muitos trabalhos onde eram necessários. Mas os últimos anos do século foram um período importante de entrada de estrangeiros neste país porque já pertencíamos à União Europeia e o muro de Berlim tinha desaparecido. A grande quantidade de estrangeiros procurando trabalho colocou problemas difíceis à sociedade portuguesa, sobretudo de controle na entrada e permanência no território. O governo estabeleceu um período extraordinário de legalização mas foi mal preparado. O esforço não atingiu o resultado desejado. A OCPM participou ativamente nesse esforço, sensibilizando os que podiam beneficiar. Com a mudança de governo outro período de legalização se abriu com normas mais cuidadas, ensinadas pela experiência do anterior. Também neste 2.º período a OCPM esteve muito ativa, organizando as associações de imigrantes num trabalho conjunto (SCAL) e influindo muito profundamente, em colaboração com essas associações e estruturas do governo, na legislação necessária para a imigração.

Nesses anos a situação de extrema pobreza de muitos estrangeiros, imigrantes e solicitantes de refúgio político, obrigou a OCPM  a abrigar e apoiar muitas famílias em grande dificuldade social. Fizeram-se parcerias com instituições importantes (ACNUR, Centrais sindicais, CPR, Misericórdia de Lisboa, Associações de imigrantes e diversos grupos da Igreja nomeadamente a Caritas e Congregações religiosas) que, em conjunto, procuraram acudir a muitas emergências. A certo momento o próprio governo atribuiu verbas que permitiram aliviar o sufoco em que a OCPM, associações e outros organismos se encontravam ao desenvolver este apoio social.

Ao fim de 16 anos de serviço à Igreja no campo das migrações ficou uma sensação frustrante de trabalho inacabado. Não obtivemos um documento oficial da Conferência Episcopal sobre a Pastoral das Migrações, não promovida nem organizada a comunicação social de e para as comunidades na diáspora (jornais, programas radiofónicos, televisivos) nem sequer um boletim de intercâmbio e informativo entre os missionários, não foi organizada minimamente a pastoral do turismo, sentiram-se grandes obstáculos na pastoral dos ciganos e na assistência religiosa dos aeroportos.

Ao deixar a OCPM no início do ano 2000 disse que as migrações continuavam a ser uma imensa panela a ferver ou um vulcão em plena atividade incontrolável.

Padre Manuel Soares

Antigo diretor da OCPM

 

 

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