Anticiganismo e uma teologia da libertação dos ciganos

Na reunião anual do Comité Católico Internacional para os Ciganos (CCIT) apelou-se para que todos sejamos instrumentos de paz face ao anticiganismo actual e afirmou-se que a inclusão social libertará os ciganos do ostracismo, no seguimento da acção libertadora de Jesus relativamente aos excluídos do seu tempo. Na reunião que decorreu de 28 a 30 de Março em Trogir, Croácia e em que participaram cerca de 140 pessoas – 15% de etnia cigana -, oriundas de 20 países europeus, começou por se rezar pela paz: a paz tem um rosto humano. Os ciganos, tal como todas as minorias, têm o direito de exprimir o seu próprio caminho espiritual (manifestando dessa forma Deus que opera neles), de um modo consequente com a condição de “ser cigano”. A situação actual é que na sociedade europeia, as formas de intolerância e de ódio relativamente à população cigana manifestam-se num crescendo preocupante, em cada dia que passa. Historicamente, o anticiganismo tem tomado as formas do extermínio, da expulsão (ainda actual), da repressão e, actualmente, da repatriação. Infelizmente é rara a inclusão dos ciganos na sociedade, mantendo, ao mesmo tempo, a sua identidade. O mais chocante é a fragilidade da “memória” das formas de anticiganismo, a qual acaba por banalizar os acontecimentos até ao seu esquecimento; isso é sintomático do lugar que os ciganos ocupam na escala de valores e na cultura da memória da sociedade maioritária. A ausência de reconhecimento da culpabilidade pela violência exercida contra os ciganos, impede a criação de relações novas baseadas nos valores humanos e nos direitos do homem. O esquecimento das manifestações de anticiganismo é ele próprio uma forma de exclusão com efeitos devastadores. A pobreza não é uma fatalidade, é criada. O mecanismo anticigano de exclusão da sociedade, reproduz-se na Igreja. As grandes religiões tendem a concluir que uma ligação confessional ténue, significa uma religiosidade débil. Não encorajar a inclusão religiosa, é uma forma de anticiganismo religioso, com a desculpa falsa de que “eles não têm religião”. Uma Pastoral da Encarnação dará aos ciganos a oportunidade de sentir que Deus conhece os seus sofrimentos e ouve o seu clamor, que os ama com um amor preferencial. A teologia da libertação dos ciganos revela-lhes a sua dignidade humana e salva a própria dignidade dos membros da sociedade maioritária. A formação e o trabalho “libertam” os ciganos. A libertação dos ciganos passa pelas seguintes atitudes por parte dos não ciganos: respeito, escuta, confiança e amizade. Em França, Câmaras Municipais preferem pagar as multas por não cumprirem as leis relativamente ao acolhimento dos ciganos nómadas. Em Itália, na actualidade, vive-se o silêncio de instituições da Igreja relativamente à onda não denunciada de anticiganismo. Na Croácia, 85% dos ciganos estão desempregados; porém, existe um representante cigano no Parlamento e, ao abrigo do Projecto de Acção do decénio (2005 – 2015) para a integração dos Ciganos, em diversos países do Leste, existem esforços para incluir os ciganos no ensino pré-escolar, para promover o seu realojamento e a discriminação positiva na qualificação dos ciganos para a sua empregabilidade. Nas palavras de um cigano croata que falou no Encontro, o Estado deveria colaborar mais estreitamente com a Igreja na solução dos problemas dos ciganos, dada a maior experiência e conhecimento da Igreja relativamente à situação real dos ciganos. O Cardeal Renato Martino, Presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, enviou uma mensagem aos participantes no Encontro,em que se afirma que a presença dos membros do CCIT junto dos ciganos permite constatar as dimensões intoleráveis do anticiganismo actual na Europa e o racismo, a marginalização, a guetização e a intolerância que cada dia se tornam mais graves e que culminam em agressões físicas, em expulsões, em evacuações forçadas, incêndios, discursos de ódio, controles vexatórios,entre outras formas de anticiganismo. O Cardeal Martino constata a mobilização e a preocupação de organismos internacionais e nacionais, dando o exemplo da resolução do Parlamento Europeu sobre uma estratégia europeia para os ciganos, tomada em 31 de Janeiro de 2008. A delegação portuguesa ao Encontro foi constituída por: P. Frei Francisco Diniz, OFM; Francisco Monteiro e Eva Gonçalves, da ONPC; e Fernanda Reis e Manuela Mendonça do Secretariado Diocesano de Lisboa da Pastoral dos Ciganos.

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